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Tragédia nossa de cada dia

por Salete Romero*

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A tecnologia que muitas vezes nos auxilia, nos facilita, deixando nossa vida cada vez mais fácil e rápida, em muitos momentos poderá em vez de nos ajudar, pode ser utilizada também para nos fiscalizar, como se fôssemos crianças que se rebelam em não obedecer a autoridade dos pais, a tecnologia chegou a ponto de existir hoje, nas estradas, muitas vezes para observar se estamos ou não cuidando da nossa segurança.   
Estou falando dos radares cada vez mais potentes em nossas estradas e em maior número. Assim como crianças que só se comportam de maneira adequada quando estão sob olhar atento dos adultos, muitos condutores só imprimem um comportamento adequado e seguro se estiver sob vigilância de agentes ou câmeras. A questão é tão grave que sorrateiramente estamos direcionando para que isso seja cada vez mais comum no nosso dia a dia, no nosso deslocamento e na realização de nossas tarefas do dia a dia, para a qual fomos contratados e mesmo que não trabalhemos utilizando o veículo como instrumento de trabalho, somos habilitados ou seja, diferente do que muitos condutores pensam, a CNH, Carteira Nacional de Habilitação, não representa que estamos somente legalmente autorizados a conduzir um veículo automotor, mas sim, que possuímos todas as informações e condições necessárias para conduzir este veículo da maneira mais segura e necessária para mim e para outros participantes dessa relação social que é o trânsito.
A postura de muitos condutores inadequadamente vem contribuindo para que em vez de usarmos a tecnologia a nosso favor, com mais conforto e facilidade para o nosso cotidiano, está fazendo com que muitas empresas hoje instalem cada vez mais equipamentos para controlar esses motoristas, na maioria com vários anos de profissão ao volante. Exemplo temos o tacógrafo, que permite que o supervisor desse condutor, dentro da empresa, vigie como o condutor está conduzindo o veículo, em que velocidade e de que forma; assim também muitas empresas estão se utilizando de câmeras internas para fiscalizarem se este condutor que é habilitado, com vários anos de experiência e categoria compatível para transportar carga e também pessoas, se ele está usando o cinto de segurança, se dirige de maneira atenta, respeitando o cansaço natural de seu organismo, etc …..
Isso me parece até vexatório, pois o mais interessado em realizar esse percurso em segurança deveria ser o próprio condutor pois ele será o mais prejudicado em realizar esse trajeto de maneira falível pois além dele, responderá pela segurança de todos os envolvidos em caso de um acidente. Os exemplos mais recentes são aos acidentes que infelizmente vimos essa semana em Cascavel/PR e também na Av. Brasil/ RJ e tantos outros que estamos nos acostumando a ver diariamente nas manchetes dos jornais.
São condutores habilitados, experientes, mas que se deixam levar pela emoção que o veículo em velocidade proporciona, esquecendo que os critérios de segurança como o descanso do organismo com paradas mais frequentes destinadas ao descanso, jornada de trabalho restrita a 06 ou no máximo 08 horas, respeito a velocidade, principalmente por esses acidentes terem ocorrido no período da noite, onde a visão humana diminui para 1/6 do que enxergamos durante o dia, enfim; se a empresa que contratou esses condutores não está preocupada com esses detalhes fundamentais, deveriam estar esses motoristas e sua categoria acostumada a dizer “não“ a essa pressão colocada aos profissionais do volante.
A fiscalização das vias e estradas não contempla a todos, por isso, acostumamos a trafegar de maneira irresponsável desprezando fatores fundamentais como a velocidade regulamentada e o descanso humanamente necessário para se manter a atenção exigida em conduzir um veículo automotor. Mas a fiscalização não deve ser feita pelo chefe do condutor, nem pela empresa em que ele presta serviço, pelos equipamentos tecnológicos como câmeras e instrumentos. Não deve ser realizada pelas autoridades policiais pagas com o dinheiro dos impostos que poderiam ser destinados a questões de prioridades básicas como hospitais, escolas, etc…enfim, estou me referindo aqui a condutores chamados profissionais, mas na verdade, todos nós que somos motoristas deveríamos ter isso como prioridade quando diante de um volante porque independentemente da categoria de minha habilitação – CNH, o mais interessado na minha segurança se em estradas ou em pequenos trajetos, próximos de casa ou não, deveríamos usar o cinto de segurança, por e    xemplo, como condutor ou como passageiro, mesmo no banco de trás; trafegar em rodovias na velocidade compatível a que ela foi projetada – Não porque estou ou posso ser vigiado, mas sim porque o mais interessado em fazer esse trajeto de maneira mais segura possível deve ser sempre eu mesmo. Caso contrário, todo esse investimento em agentes policiais e equipamentos cada vez mais sofisticados e em maior número,que são pagos com o nosso dinheiro através dos impostos, na verdade, estamos pagando para nos vigiar se estamos cuidando da nossa própria segurança.
Porque depois de um acidente como estes de Cascavel/PR com 15 mortos e do Rio de Janeiro com 05 mortos e mais de 20 vítimas, o supervisor da empresa, dá uma punição, a empresa substitui o veículo e/ou o funcionário, os agentes e radares flagram e geram punições compatíveis com os transtornos gerados através dos órgãos competentes, mas quem mais será prejudicado de maneira, com certeza, irreversível é o condutor e as vitimas , e no caso do condutor se permanecer vivo, emocionalmente terá sequelas que um ser humano nunca deveria ter.

 

*Salete Romero
Especialista em Psicologia do Trânsito – CRP/SP
saleteromero@condu.com.br

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