Motociclistas brasileiros abdicam do uso de acessórios como jaqueta, bota e luvas, e correm risco de aumentar a gravidade dos ferimentos em caso de acidentes.
Transporte mais barato e ágil, porém inseguro. A motocicleta tem abocanhado a cada ano uma parte maior do tamanho da frota terrestre brasileira. E, consequentemente, tem maior representatividade sobre os números de acidentes e mortes no trânsito. Seja por falta de estrutura, abuso da velocidade, desconhecimento das condições de segurança, má formação nesse tipo de transporte ou inconsequência. Uma pesquisa feita em 2011 pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), revelou que 70% dos motociclistas envolvidos em acidentes não tinham carteira de habilitação, ou seja, eram desprovidos de conhecimentos sobre a importância da proteção.
Na tentativa de identificar os argumentos pelos quais a motocicleta ameaça tanto a mobilidade segura, compreendemos um fator corresponsável, senão por muitos óbitos, pelo aumento da gravidade dos acidentes: as altas temperaturas no verão e praticamente o ano todo em algumas regiões brasileiras inibem a adoção de equipamentos de segurança obrigatórios e não obrigatórios pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
Para o médico Dirceu Rodrigues Alves Júnior, diretor de comunicação da Abramet e do Departamento de Medicina de tráfego ocupacional da associação, o ponto sobre os equipamentos de segurança acaba sendo mais uma questão de absorção da cultura de prevenção do que efetivamente a grande responsável pelos acidentes. “O acidente com motociclista que tem traumatismo corresponde a apenas 25% dos acidentes. A grande maioria, 73% dos acidentes, acontece comprometendo os membros inferiores. São amputações, perda de membros e incapacidade. A proteção maior precisa ser para os membros inferiores. Nesse contexto, o capacete é uma necessidade, no entanto deixamos o indivíduo sentar na moto com calção e chinelo, sem proteção”, contextualiza.
Foto registrada em Maracás, na Bahia. A não utilização dos equipamentos de segurança agrava o estado do motociclista envolvido em acidente (Crédito: Vandinho Maracás)
Régis Eidi Nishimoto, Diretor Técnico da Perkons S.A. e motociclista, afirma que o uso de equipamentos de segurança (capacete, luvas, protetor de coluna, botas e jaqueta) é fundamental para o motociclista no caso de uma queda ou acidente. “No caso de queda, a gravidade das lesões pode ser minimizada pelo uso desses equipamentos. Como sabemos, o uso do capacete é obrigatório no Brasil. Em função da fiscalização, vemos nas ruas das metrópoles brasileiras um uso bastante difundido, porém é comum ver as viseiras levantadas. Já os outros acessórios não são vistos com tanta frequência, em função da falta de obrigatoriedade. Muito embora, tenho observado na cidade de Curitiba que é crescente a quantidade de motociclistas a bordo de motos de todas as cilindradas utilizando jaquetas com as proteções de cotovelo e ombro, no verão, é comum vermos que eles deixam de ser usados, em função das altas temperaturas. Neste caso, o motociclista está assumindo o risco”, pondera.
Dr. Dirceu exemplifica o impacto que o condutor da moto pode sofrer com um caso simples. “Apenas uma pedrinha desprendida por um veículo que esteja a frente do motociclista é capaz de produzir fraturas nos ossos do nariz e afundamento da face, por exemplo”, diz. “Além disso, equipamentos como a bota conseguem proteger as articulações evitando que infecções piorem o estado do acidentado. O macacão de couro acolchoado e a luva de couro para proteger os dedos e as juntas dos dedos também são importantes, porque protegem a pele do paciente, que normalmente chega bastante danificada por conta do atrito com o asfalto. Enfim, esse tipo de proteção evita amputações”, explica.
Fiscalização para assegurar o uso dos equipamentos
No Norte e Nordeste, regiões de calor intenso e também com a maior frota de motocicletas do país, os índices de acidentes com este tipo de transporte é ainda maior. Segundo o médico da Abramet, estatísticas do Dpvat apontam mais sequelas nas vítimas por conta da não utilização dos equipamentos de segurança. “Além disso, a falta de fiscalização, de aplicação da lei é precária. A desobediência à legislação predomina. O capacete não é utilizado e é comum vermos motociclistas transportando a família (às vezes até cinco pessoas) na estrada, entre crianças e adultos. Parece que as leis de trânsito ainda não chegaram em algumas regiões e as motos são utilizadas como brinquedo. E as previsões não são muito animadoras: 69% dos motociclistas sofrerão nos próximos seis meses acidentes leves, médios ou graves; são 19 milhões de motos circulando nas vias do Brasil, de acordo com estudo da Abramet”, afirma.
Para o engenheiro da Perkons, o trabalho de implantação da cultura de segurança no trânsito ainda deve levar tempo. “Posso dizer que alguns absorveram essa cultura, mas os elevados índices de acidentes graves com motociclistas mostram que há ainda um longo caminho a ser percorrido. A motocicleta é um meio de transporte ágil, mas o motociclista deve observar e respeitar as regras de trânsito”, diz Nishimoto e completa: “pilotar moto é uma das melhores coisas que se pode fazer na vida, mas requer treino, consciência e prudência”.
Sobre alternativas para assegurar uma postura que previna acidentes ou reduza a gravidade, Régis coloca a fiscalização, tanto presencial dos órgãos de trânsito, quanto eletrônica. “A fiscalização eletrônica de avanço de sinal vermelho pode prevenir colisões fatais e atropelamentos. Aliás, os cruzamentos são locais críticos, onde se registram os acidentes mais graves, especialmente com motociclistas. A presença de fiscalização inibe essa conduta. Afinal, o desrespeito à velocidade e ao sinal vermelho são as principais infrações verificadas pelos equipamentos eletrônicos no Brasil”, avalia. “Já o uso dos dispositivos de segurança é verificado pelo agente de trânsito. O uso de câmeras de monitoramento, que supervisionam e gravam imagens do trânsito em diferentes vias, com a presença dos agentes em centros de controle para verificar esse tipo de conduta seria uma alternativa”, afirma.
Novidades de produtos para motociclistas
A boa notícia é que há uma crescente oferta de equipamentos seguros, mais leves e frescos, para uso nos dias mais quentes. Há uma variedade ampla de jaquetas, calças, luvas e até botas ventiladas que, se não resolvem totalmente o desconforto de andar coberto sob o sol, são arejadas. Além disso, a escolha de luvas para a proteção das mãos – talvez o item de segurança mais negligenciado no verão – também deve ser criteriosa. “A falta de informação é grave! A começar por saber que o gasto que o Estado tem com a incapacidade e com óbitos é paga por todos nós”, conclui Dirceu Rodrigues Alves Júnior.
O que diz Código de Trânsito Brasileiro Art. 54. Dirigir motocicleta ou conduzir passageiro usando capacete em conformidade com o Inmetro e com dispositivo refletivo de segurança, viseira ou óculos protetores, e vestuário de proteção (este último item ainda não foi regulamentado pelo Contran). As sanções para quem infringe a regra estão previstas no Art 244 do CTB, são elas: Disciplinam o uso do capacete de segurança: resoluções do Contran n° 203/06, 257/07 e 270/08. Art. 252, IV. Dirigir o veículo usando calçado que não se firme nos pés ou que comprometa a utilização dos pedais: |
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