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Quem tem pressa….

Por Luiz Gustavo de Oliveira Campos*

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Os ditos populares fazem parte da cultura brasileira há centenas de anos e existem dois que me chamam especial atenção: “Quem tem pressa, come cru” e “A pressa é inimiga da perfeição”. Normalmente, usamos esses ditados para reforçar o perfeccionismo ou para exercitar a paciência. Poucos aplicam esse ensinamento popular no dia a dia do trânsito, principalmente enquanto aguardamos a abertura de um semáforo ou quando ficamos presos em longos congestionamentos na hora do rush. O fato é que quanto mais pressa temos, mais rápido dirigimos, aumentando as probabilidades de nos envolvermos em acidentes graves.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para os riscos que o binômio alta velocidade e acidente traz. De acordo com o Manual de Segurança Viária publicado pela organização em 2008, os pedestres, ciclistas e motociclistas são agentes vulneráveis e têm suas chances de sobrevivência drasticamente reduzidas quando são atropelados ou colidem com um carro em velocidade igual ou superior a 50 km/h, comparado a um veículo que trafega a menos de 30 km/h. Com a velocidade menor as chances de sobreviver sobem exponencialmente.

Para se ter uma ideia, cito um estudo do Departamento de Tráfego Britânico (1993) que demonstrou que a 32Km/h 5% dos pedestres atingidos em um acidente morrem e 65% sofrem lesões. A 48Km/h a chance de sobrevida é bem menor: 45% morrem e 50% sofrem lesões.

Segundo o Manual de Medidas de Segurança Rodoviária, publicado em 2004 pelos autores britânicos Elvik, Hoye, Vaa e Sorensen, a redução de 60 km/h para 50 km/h na velocidade máxima dos automóveis já é capaz de reduzir em até 79% os acidentes com vítima. O documento apresenta uma série de estudos que mostram como as velocidades controladas podem reduzir efetivamente a quantidade e gravidade dos acidentes.

Mas ao que parece, a maioria da população não tem consciência disso. O Instituto Avante Brasil (IAB), por exemplo, lançou em março passado a campanha “Zona 30 – Menos Velocidade, Mais Vida”, com o objetivo de levantar um milhão de assinaturas online para uma petição pública pela implantação de zonas com limite de velocidade de 30 km/h em vias urbanas de fluxo intenso de veículos, motocicletas, pedestres e ciclistas. Em cinco meses, a campanha ainda não conseguiu a adesão sequer de 200 pessoas.

Além de incentivar o uso de transporte alternativo, como a bicicleta, e as caminhadas, essa é mais uma campanha cujo objetivo é o de reduzir a pressa dos motoristas para também reduzir os acidentes e atropelamentos em áreas urbanas. O IAB não tirou a ideia de uma cartola! Existem áreas com limite reduzido de velocidade na Alemanha, Bélgica, Holanda e Reino Unido, além de uma experiência no Rio de Janeiro, onde a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) implantou há dois anos o projeto Zona 30 em algumas ruas dos principais bairros da cidade.

Em Recife, a velocidade estabelecida próximo às ciclofaixas é 40km/h e a fiscalização eletrônica é uma grande aliada, incorporando segurança no pedalar da população. Os motoristas flagrados pelos equipamentos acima da velocidade estabelecida recebem multas que variam de R$ 85,13 a R$ 574,62.

Estas áreas de velocidade reduzida dentro das cidades também são recomendadas pela OMS. O informe de 2009 da organização sobre a Situação Mundial da Segurança Viária classifica como fundamental a criação dessas zonas em locais de circulação intensa mista. Lisboa aderiu recentemente à ideia e implantou seis zonas de velocidade reduzida. O projeto total prevê a implantação de 30 áreas, quase todas residenciais e com circulação intensa de pedestres. A União Europeia espera colher assinaturas para converter em lei o que vem acontecendo em Portugal e também em cidades espanholas, como Pontevedra e Zaragoza. A campanha “30 km/h por ruas mais habitáveis” espera melhorar a qualidade de vida da população estabelecendo o limite menor de velocidade em ruas residenciais.

A redução da velocidade máxima diminui os ruídos e a emissão de poluentes no ar, isso sem considerar outros ganhos, como a menor probabilidade de perda do controle do veículo, maior tempo para reconhecimento dos perigos e maior chance efetiva de evitar colisões.

Até que haja uma mudança cultural no comportamento do brasileiro no trânsito, a fiscalização e a punição são formas eficazes de garantir a aplicação da legislação, a segurança e integridade de condutores e pedestres. Sabemos que esse processo de transformação poderá levar anos ou décadas, mas não podemos desistir em razão disso. Afinal, quem tem pressa…

Luiz Gustavo de Oliveira Campos*

Diretor da Perkons e especialista em gestão de trânsito e mobilidade urbana pela PUC-PR.

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