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Massacre motorizado

Por Archimedes Azevedo Raia Jr*

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“O trânsito ceifa mais vidas do que as guerras modernas. A Organização Mundial da Saúde concluiu que o terceiro flagelo da humanidade está representado nos acidentes de trânsito, antecedidos apenas pelas enfermidades cardiovasculares e pelos tumores.

O Brasil pode ser o campeão mundial do genocídio do automóvel, dos infortúnios da circulação – as mortes, as mutilações, os ferimentos e os danos materiais. Isso sem falar nos congestionamentos, nas dificuldades dos transportes, na poluição ambiental, atmosférica e sonora etc., aspectos que em geral também se verificam nos outros países.

A ausência de estatísticas completas não nos autoriza a afirmar que somos campeões nos delitos da condução, mas, se confrontarmos estatísticas esparsas, seremos levados a concluir que, se não estamos neste nível, estaremos muito próximos a ele.

Destarte, na era tecnetrônica que o Mundo vive, o automóvel engenhosamente construído pela sociedade civilizada, perdeu a sua finalidade de ser um útil e confortável meio de transporte, para constituir-se num monstro desenfreado e até arrogante, que devora a própria sociedade moderna que o dirige, sobretudo pelo descontrole e pela vaidade de muitos membros desta mesma sociedade.

Diante da triste realidade em que nos encontramos e lembrando o exemplo de um presidente dos EUA, seguido pelo Legislativo desse país, que assumira medidas legislativas severas, contra os delitos de trânsito, além do trabalho de diversas instituições americanas modelares, que cuidam desses problemas, ainda sem alcançar resultados visíveis; só mediante uma ação decidida, conjugada e coordenada, permanente, ampla e eficaz, atacando em todas as frentes e aspectos, será possível debelar esse mal calamitoso. Em contrário, nem os sábios da futurologia poderão prever até que ponto chegará essa autofagia da sociedade moderna”.

De maneira intencional o trecho até este ponto do texto se encontra destacado entre aspas. Isto se deve ao fato dele não ser de minha autoria, embora possa ser apontado por vários leitores como sendo muito similar a tantos outros que tenho escrito ao longo dos anos na mídia, sobre a insegurança no trânsito.

Este texto é de autoria de meu eminente colega engenheiro Armindo Beaux, que foi um dos maiores estudiosos sobre a segurança de trânsito neste país. E o que se poderia destacar ainda no texto é que ele foi escrito em 1973, na apresentação de seu livro “Acidentes de Trânsito na Justiça”, Editora Forense.

Pasmem os leitores, a realidade descrita competentemente por Beaux há quase meia década ainda é absolutamente atual, e parece que foi escrito para a realidade que vivemos hoje. As mortes no trânsito são, atualmente, a nona causa de mortes no mundo e a oitava no Brasil. Outro fato a destoar é que os Estados Unidos, associados com a filosofia Visão Zero, têm conseguido reduzir significativamente o número e a gravidade de seus acidentes. Já o Brasil, continua a escalada de mortes violentas e recorrentes no trânsito. Motoristas ébrios e emuladores são ainda triste realidade. Será preciso quanto tempo para o país se transformar?

Infelizmente, a realidade que o país atravessa, envolta em crises políticas, econômicas, éticas e morais, não oferece nenhuma esperança de que em curto ou médio prazo possamos ter um trânsito seguro, como merece a sociedade brasileira. Enquanto isso, vai-se perdendo inexoravelmente esta sangrenta guerra.

 

*Archimedes Azevedo Raia Jr. é engenheiro, doutor em Engenharia de Transportes e especialista em trânsito, professor da UFSCar. Coautor dos livros Segurança de Trânsito e Segurança Viária, diretor de Mobilidade da Assenag e membro do Conselho Diretor da ANTP.
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