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Luiz Gonzaga e o Jumento Mecânico – o irmão assassino do homem do sertão

por Tenente Coronel Moura*

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Estou muito feliz em poder ser um facilitador da Educação para o Trânsito para leitores, contribuindo dessa maneira para a redução da violência do trânsito, que em nosso país é o segundo problema de Saúde Pública e, mundialmente, uma das principais causas de morte, até 2020, segundo a Organização Mundial da Saúde.

Em nossos encontros apresentaremos questões interessantes sobre a legislação de trânsito brasileira e mundial, estatísticas, etc. É um momento para reflexão devido aos números alarmantes da mortalidade no trânsito, que vem aumentando, ano a ano, em nosso país. Qual a razão? Quem é o culpado? O que podemos fazer para melhorar tal situação?

Aproveitando o momento em que a região Nordeste do país comemora um das suas mais belas tradições, o São João, venho homenagear o “REI DO BAIÃO”, Luiz Gonzaga do Nascimento – Luiz Gonzaga, nascido em 13 de dezembro de 1912, falecendo aos 76 anos no dia 02 de agosto de 1989.

No decorrer destes vários anos, “Gonzagão” simbolizou o que melhor se tem da música nordestina. Ele foi o primeiro músico a assumir a nordestinidade representada pela a sanfona e pelo chapéu de couro. Cantou as dores e os amores de um povo que ainda não tinha voz. Era a representação da alma de um povo… era a alma do nordeste cantando sua história…E ele fez isso com simplicidade e dignidade. Em 2012, Luiz Gonzaga foi tema do carnaval da GRES Unidos da Tijuca, com o enredo “O dia em que toda a realeza desembarcou na avenida para coroar o Rei Luiz do Sertão”, fazendo com que a escola ganhasse o carnaval deste respectivo ano.

Sendo Brasileiro de origem, Pernambucano de nascença, “NORDESTINO DE CORAÇÃO” e, forrozeiro, este artigo destina-se a mostrar uma situação não prevista pelo Rei do Baião, quando sabiamente disse: “O JUMENTO É NOSSO IRMÃO”.

Quem é esse nosso irmão? Qual a importância desse animal, o jumento?

O asno ou burro (Equus africanus asinus), também chamado jumento, jegue, jerico ou asno-doméstico é um mamíferoperissodáctilo de tamanho médio, focinho e orelhas compridas, utilizado desde tempos pré-históricos como animal de carga.

Seu nome deriva do latim burrus, que quer dizer vermelho. Acredita-se que foi daí que surgiu a crença de que burros são pouco inteligentes, pois, antigamente, os dicionários tinham capas vermelhas, dando a ideia de que os burros eram sedentos de saber. Outra história diz que numa moeda antiga tinha a imagem de um rei com uma cabeça enorme que não era esperto, que se associou com a cabeça resistente do burro. Porém, também pode ter surgido da lenda grega do rei Midas, que foi tolo ao ponto de contradizer a irrevogável palavra do deus Apolo, que foi castigado pelo deus, recebendo orelhas de burro.

Esse nosso irmão foi o maior desenvolvimentista do sertão brasileiro

Objetivando fazer Justiça com a importância e evolução da espécie do nosso irmão devemos voltar no tempo, quando JESUS CRISTO – REI DOS JUDEUS, adentrou um dia domingo,na cidade de Jerusalém, no lombo de um jumento, deixando ali o sinal da cruz. A partir dai já visualizamos a grandeza desse animal, carregando nas costas o filho do criador do universo. Por que nosso irmão, segundo Gonzaga, teria sido escolhido pelo Rei dos Judeus?

Quem não se lembra do fiel escudeiro de Dom Quixote de La Mancha, Sancho Pança, e seu burrinho?

Foi por muito tempo o símbolo da ignorância, como em “Sonhos de Uma Noite de Verão”, de Shakespeare. Pinóquio é outro exemplo de fábula onde um menino mau é transformado num burrico. Chegou, finalmente, a astro de hollywood no filme SHREk.

Para nós, brasileiros, principalmente, nordestinos a importância desse animal vem desde a colonização, levando o progresso em seu lombo, desbravando nosso grandioso país. Fazendo matar a fome e a sede do povo nordestino. Inclusive, com uma pontualidade de um relógio inglês, fornecendo a hora exata. Ele dá a hora certa do sertão. Tudo isso é apelido que o jumento tem: astronauta, professor, estudante, advogado das bestas. É chamado estudante porque quando o estudante não sabe a lição da escola, o professor grita logo: “Você não sabe por que você é um jumento”. E o estudante, pra se vingar, botou o apelido no jumento de professor, porque o professor ensina a ler de graça. Pois sim. Quem ensina a ler de graça é o jumento.

Hoje, nosso irmão, perambula solitário pelos sertões do Brasil, olhando para aquele que um dia foi seu amigo e companheiro, não entendendo, o porquê dele estar no lombo de outro animal. Pobre jumento!

Qual não foi a surpresa do jumento, quando em suas andanças pelos sertões do nosso país, percebeu que esse novo morador estava sendo utilizado pelo homem sertanejo, inclusive, para tanger bois, carregar alimento e a preciosa água, que por tanto tempo faltou para o homem do sertão. Nosso irmão passou a ser, gradativamente, substituído por uma máquina, que não precisa ser alimentada, que não tem vontade própria, que não tem olhos, e que está matando o homem do sertão. Não sabia ele, nosso irmão, que 2.000 mil anos depois da sua entrada triunfal em Jerusalém seria substituído por um “Jumento Mecânico”, e que esse seu amigo seria o responsável por mais de 40.000 acidentes, matando mais nordestinos do que muitas secas.

Segundo um levantamento feito pelo Ministério da Saúde, em 2011, o custo de internações por acidentes com motociclistas pagas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) foi maior que o dobro do custo de 2008, passando de R$ 45 milhões para R$ 96 milhões, um aumento de 113% em apenas quatro anos.

Esse crescimento dos gastos acompanha o aumento das internações, que passou de 39.480 para 77.113 hospitalizados no período. O levantamento realizado pelo Ministério da Saúde também aponta que o número de mortes por este tipo de acidente aumentou 21% nestes anos, passando de 8.898 motociclistas em 2008 para 10.825 óbitos em 2010.

Além deste fato, o levantamento ainda aponta que homens representaram 89% das mortes de motociclistas, em 2010. Entre estes, os jovens são as principais vítimas: cerca de 40% dos óbitos estão entre a faixa etária de 20 a 29 anos. Já na faixa etária de 15 a 49 anos, o percentual de mortes envolvendo acidentes com motocicletas chega a 88%.

O Brasil está definitivamente vivendo uma epidemia de acidentes de trânsito e o aumento dos atendimentos envolvendo motociclistas é a prova disso.

Não sabia ele, nosso irmão asno, que viria seu amigo e companheiro de tantas secas, idas e vindas, para o barreiro em busca de água, em uma cadeira de rodas, amputado.

Não sabia ele que iria ver ao longo das rodovias e estradas do sertão que tanto conhece, tantas “Cruzes Sertanejas”.

Não sabia ele, o jumento, que um dia viria o sertão verde, com fartura de alimento e água, como cantou Gonzaga, porém com tantos enterros, vítimas daquele que o substituiu.

Hoje, muitos pais que compraram “Jumentos mecânicos”, para seus filhos sertanejos amargam a realidade do que eles só viam pela televisão ou ouviam nos dias de feiras.

Segundo o Ministério da Saúde, a faixa etária com maior mortalidade no trânsito é de 19 a 38 anos.

Não sabia ele, o jumento, que não levaria mais seu amigo e companheiro para admirar o luar do sertão, cantado por Gonzaga.

Pobre irmão jumento, que por tantos anos trabalhou duro e se dedicou ao seu amigo sertanejo. Agora, com a vaidade e a modernidade chegando ao sertão, nosso valoroso irmão somente observa, sendo trocado por status e poder, denominado motocicleta.

A atual facilidade para a aquisição de uma motocicleta, atrelada a sensação de liberdade,  e, principalmente, a falta de uma cultura de educação para o trânsito da nossa população, vem matando nossos irmãos brasileiros/nordestinos, cada vez mais, ano a ano.

Que diria Gonzaga, nosso mestre, nosso menestrel?

Que diria o Rei do Baião, ao chegar para fazer um dos seus shows por esse vasto e grandioso sertão e vê a tão sonhada e esperada transposição do “Velho Chico”, a água nas casa daquele povo sofredor e temente a “Deus”.

Que diria, porém, Gonzaga, ao vê tantos nordestinos, engessados, amputados e em cadeiras de rodas. Certamente, faria uma bela canção, como fez para o “ASSUM PRETO”, que mesmo cego dos olhos, canta de dor.

Tentaria, através da sua música, mostrar ao mundo o novo flagelo do homem sertanejo, apresentando um novo símbolo do sertão “UMA ASA BRANCA, POUSADA EM UMA CRUZ”.

Diante desse cenário epidêmico de mortalidade no trânsito, percebemos uma necessidade urgente, para que sejam desenvolvidas ações concretas, eficientes e eficazes, com relação à problemática da violência do trânsito, pois do contrário, e, MUITO BREVEMENTE, veremos cada vez mais, “Asas Branca”, pousadas nas cruzes dos nossos irmãos nordestinos, não vitimados pela seca, mais sim, pela omissão daqueles que podem frear essa epidemia em decorrência da falta de uma Política de Estado de enfretamento à violência no trânsito, pela falta de uma cultura de educação para o trânsito e pela falta de uma boa formação do condutor sertanejo do “JUMENTO MECÂNICO – O IRMÃO ASSASSINO DO HOMEM DO SERTÃO”.

 

*Tenente Coronel Moura
Bacharel em Direito – Especialista em Trânsito
Professor de legislação e Direito de Trânsito

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