De um tempo para cá, sempre que retorna o período letivo, os jornais apresentam a mesma e repetida pauta: fila dupla de automóveis diante das escolas atormentando o trânsito.
E, todo ano, insistem em constatar a febre sem atacar a verdadeira doença: nossa grave e epidêmica insegurança pública. Ou alguém imagina que os pais adoram burlar as leis de trânsito? Impor a todos (inclusive a si próprios) um desperdício tolo de vida ao buscarem as crianças no meio de um engarrafamento infernal?
Ora, quando, ou melhor, se agem assim, são movidos exclusivamente pelo medo. Medo de estacionar afastado; medo de os filhos andarem sozinhos pela rua; medo de se perderem da vista dos seguranças particulares que estão nos portões do colégio.
Esses mesmos pais, hoje atravancando o trânsito, estudaram mais ou menos junto comigo, isto é, nos anos 70 e 80 do século passado. Pouco tempo para mudanças tão incisivas – e tristes – no país.
Afinal, uma das mais alegres lembranças que tenho do período é a verdadeira massa estudantil deixando o perímetro do Colégio Anchieta a pé. Lindo de ver! Um contingente tão numeroso quanto uma saída de estádio de futebol em dia de clássico, formado quase exclusivamente por jovens e crianças a caminho de casa.
Cena que, imagino, repetia-se diante do Farroupilha, Rosário, São João, Pastor Dohms e todas as escolas de classe média alta. Alguns estudantes pegavam ônibus. Outros, como eu, caminhavam duas dezenas de minutos até o destino. Os pais, tranquilos, esperavam nossa chegada.
Desafio qualquer um a procurar, nos dias correntes, crianças ou pré-adolescentes às centenas cruzando a pé os portões das escolas particulares de Porto Alegre. Será que se tornaram deficientes físicos?
Não sabem para que lado rumar? Nada: perderam, sim, a confiança no espaço público. Por coincidência, surgiram grades e cercas elétricas na frente da totalidade das casas e prédios. Nas ruas, automóveis de vidros escuros e cerrados. Câmeras e seguranças armados pelas fachadas.
Uma operação de guerra a cada embarque ou desembarque. Enquanto isso, notícias de bondes matando ou machucando os estudantes de escolas estaduais ou municipais – estes sim, condenados a persistir em uma rotina outrora tão corriqueira, tão ecologicamente correta, tão democrática (essa palavra…). Melhor: tão saudável!
A cidade precisa voltar a ser de todos. Reconquistar a segurança e também a indispensável sensação de segurança. Quem sabe seja esta a chave para o fim de tantos tormentos, dentre eles os engarrafamentos diante das escolas.
Quantos estudantes não moram a uma distância razoável de sua escola? Não quero justificar ninguém: parar em fila dupla é, claro, uma infração. Mas condenar cidadãos ao medo, impedindo-os de ocupar as calçadas em paz, deveria ser considerado crime.
Rubem Penz,
Pai, escritor e músico
Originalmente publicado no jornal Zero Hora (RS), em 26/02/2010.
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