Campanha implementada mundialmente pela ONU tem como meta reduzir pela metade o número de acidentes de trânsito
Neste ano de 2020, chega ao fim a Década de Ação pela Segurança no Trânsito 2011-2020, proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas e publicada em maio de 2011. Com esta campanha, governos de todo o mundo se comprometeram a tomar medidas para prevenir os acidentes no trânsito e reduzi-los em até 50% nesses últimos dez anos.
Os acidentes de trânsito são a nona causa de mortes no mundo, responsáveis por 1,25 milhões de óbitos e por deixar um número de feridos que varia entre 20 e 50 milhões por ano. A Organização Pan-Americana de Saúde/Organização Mundial de Saúde (OPAS/OMS) coordena os esforços globais ao longo da Década e monitora os progressos em níveis nacional e internacional, além de dar apoio a iniciativas relacionadas (como redução do consumo de bebidas alcóolicas por motoristas, aumento do uso de capacetes e cintos de segurança, entre outras ações).
O especialista multidisciplinar em trânsito, Celso Mariano, observa que mesmo com a ação se encerrando no fim deste ano, ainda não será possível saber precisamente os resultados do Brasil. “Como não dispomos de agilidade na disponibilização de dados estatísticos, acabamos sempre por olhar para um cenário do passado, o que complica para termos análises esclarecedoras. No momento, por exemplo, o dado mais atual do Datasus, nossa fonte oficial, é de 2017. Neste ritmo, vamos ficar sabendo se cumprimos ou não a meta lá pelo fim de 2022 ou meados de 2023. Mas acho pouco provável que, quando estivermos vivendo os dias do ano 2023, estejamos comemorando ‘meta cumprida’, junto à OMS”, observa.
Entretanto, Mariano afirma que os dados parciais do Datasus e do DPVAT identificam uma tendência de diminuição no número de acidentes a partir de 2014. “Tomara que se mantenha em queda. Mas só vamos ter certeza quando os últimos dados de 2020 forem processados. Então, prefiro esperar para comemorar eventuais bons resultados. Mas ouso dizer que, mantendo nossa tradição, possivelmente conseguiremos bons resultados apenas em algumas poucas ilhas de excelência. Rio Branco, Belo Horizonte, Aracaju, Curitiba, Porto Alegre e Salvador, por exemplo, devem alcançar a meta da Década”, aponta.
Projeto Vida no Trânsito
Dentro da campanha, é importante citar que o Brasil foi um dos países a receber o Projeto Vida no Trânsito (PVT), voltado à redução das mortes e lesões causadas no trânsito em 10 países, com o financiamento da Fundação Bloomberg e coordenação global da Organização Mundial de Saúde (OMS) e suas agências regionais – a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), nas Américas.
O PVT é desenvolvido em diversas cidades brasileiras e além do suporte da OPAS/OMS tem aporte técnico e financeiro do Governo Federal. Celso Mariano avalia que mesmo com o apoio internacional o Projeto precisava de uma adesão mais afetiva. “Considero que a OPAS, como sendo a presença da OMS no Brasil, cumpre bem o seu papel. Quem poderia fazer muito mais são os administradores públicos. A baixíssima adesão ao PVT mostra o quão pouco preocupados estamos com esse enorme problema que é a violência do trânsito. Mesmo Curitiba, hoje exemplo positivo nesta história, não fez nada de efetivo no primeiro ano da Década de Ação. Um precioso tempo perdido. O Vida no Trânsito curitibano começou a acontecer a partir de 2012”, afirma.
Mariano lembra também do número reduzido de cidades que adotaram o projeto. “Considerando que partimos de cinco capitais e que conseguimos ampliar para 50 cidades – 12 delas no Paraná – e que estamos apenas com seis cidades brasileiras prestes a encerrar a Década com a meta cumprida, até que não estamos tão mal. Mas o compromisso assumido com a OMS era para o Brasil como um todo, não apenas para meia dúzia de cidades privilegiadas”. Ou seja, 2020 vai chegar ao fim provavelmente sem que o país cumpra a meta estabelecida. E isto não é um problema unicamente brasileiro. “Nenhum dos 10 países participantes do PVT vai alcançar a meta da OMS, o que demonstra uma faceta universal da segurança do trânsito difícil de domar”, pondera Celso Mariano, que informou que a própria OMS ajustou os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) para estender por mais 10 anos (até 2030) a busca pela meta de reduzir em 50% a violência do trânsito.
“É preciso muita energia para conter, reverter a tendência e manter o rumo. Em países como o nosso, a cultura não ajuda – não temos espírito de prevenção – e o constante crescimento da população e da frota de veículos estão ampliando as oportunidades de conflitos no trânsito. Somente um consistente e duradouro programa de educação, que não seja atrapalhado por legislações instáveis e vontades políticas se sobrepondo aos aspectos técnicos, pode nos transformar em um país de trânsito seguro”, conclui.
Luiz Gustavo Campos, diretor e especialista em trânsito da Perkons avalia que a busca da segurança no trânsito deve ser constante. “A Década de Ação pela Segurança no Trânsito foi uma iniciativa de grande porte e muito bem-vinda. Infelizmente, é provável que o Brasil não chegue ao final da campanha com a meta batida. Apesar dos avanços, que se refletem na queda do número de acidentes, ainda há muito trabalho pela frente. A educação para o trânsito é fundamental e deve ser contínua, pois é dentro de cada cidadão que precisa estar a consciência da importância da segurança viária. Em conjunto, deve haver constante investimento em serviços de engenharia de tráfego, boa administração das vias, limites adequados de velocidade, regulamentação e fiscalização eletrônica desses limites. É essa soma que fará com que as ruas e vias se tornem lugares mais humanos e mais seguros”, destaca.
Foto: Divulgação/Prefeitura Municipal de Curitiba |
Curitiba foi uma das cinco capitais que implementaram o Programa Vida no Trânsito |
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