Em um final de semana, ao deixar de motocicleta o estacionamento de uma igreja que freqüentamos, quando a velocidade na melhor das hipóteses era 10 Km/h, minha esposa e eu ouvimos de uma senhora, com ênfase, a frase dela para sua neta: – Cuidado com a moto!
Aos olhos de uns, pode parecer exagero, para outros, retrata bem o nível de preocupação e repugnância que nós motociclistas passamos para a sociedade, independentemente de quem seja o condutor do veículo. Para aquela senhora, sem dúvida alguma, a motocicleta representa um risco, mesmo ali no estacionamento a 10 Km/h. Para este subscritor, suas palavras naquele momento, soaram como exagero, porém…
Deixamos o estacionamento, e ao acessar a primeira via à direita, com sentido único de circulação, flagramos um casal de motocicleta a transitar na contramão de direção, sendo que essa via é trajeto de ônibus do transporte coletivo e além de cometer uma infração, eles estavam em risco. Dei sinal para aquele condutor sobre a irregularidade e fui agraciado com um dedo, sim, aquele mesmo, como se nós estivéssemos errados. Lembrei-me da senhora e seu: – Cuidado com a moto!
Mais um pouco de nosso percurso e nova surpresa, um cidadão, com sua motocicleta on-off road, não quis contornar uma rotatória para chegar em sua residência. Sem parcimônia, subiu no passeio, pela contramão e veio até a entrada de seu condomínio, oras, era um sábado à tarde, poucos pedestres, porque seguir as regras de circulação e conduta?
Posteriormente, ao chegarmos a uma interseção semaforizada formada por uma grande avenida e uma via coletora, mais um estimado motociclista, possivelmente com necessidades urgentes, deu o seu jeitinho e “vupt”, cruzou com o sinal vermelho, não só naquela interseção, mas também outra localizada pouco adiante.
Durante nosso trajeto, de pouco mais de oito quilômetros, além das situações narradas, vislumbramos outras duas, só existindo o respeito por parte de motociclistas em locais com a presença de Agentes da Autoridade de Trânsito ou Policiais Militares, ou ainda, diante de equipamentos de fiscalização eletrônica. Não precisamos dizer que isso precisa mudar para o bem de todos.
Todas as ações que elencamos até o momento, não são exclusividade desta ou daquela cidade, mas retrata uma triste realidade que vivenciamos.
A motocicleta como meio de transporte, “explodiu” no país, ela está presente de maneira direta ou indireta em quase todas as famílias, todavia, a prática de condutas irregulares, se sobrepõe as corretas, a despeito de todas as ações educativas levadas a cabo pelos órgãos e entidades executivos de trânsito, e demais envolvidos na busca de um trânsito mais seguro.
O ponto crucial de toda essa narrativa é que no final das contas, aqueles que utilizam a motocicleta corretamente têm de conviver com propostas de sanções cada vez mais rigorosas, todas em nome da segurança no trânsito. Algumas dessas propostas não são descabidas, mas a colaboração dos motociclistas no cumprimento das regras é de essencial importância para preservar suas vidas. Parafraseando aquela senhora do início do texto: Cuidado com a motocicleta!
Aproveite sua motocicleta, mas principalmente, mantenha-se vivo!
*Renato Campestrini
Advogado. Especialista em Trânsito, Mobilidade e Segurança.
Nascemos do ideal por um transitar seguro e há três décadas nossos valores e pioneirismo nos permitem atuar no mercado de ITS atendendo demandas relativas à segurança viária, fiscalização eletrônica de trânsito, mobilidade urbana e gerenciamento de tráfego.