Por Rodolfo Rizzotto*
Com a obrigatoriedade da realização dos exames toxicológicos do cabelo para motoristas das categorias C, D e E, que teve início em 2 de março deste ano, surgiram os pró e contra. Qualquer nova medida encontra resistência, mas é importante tentar identificar o que motiva determinados grupos.
Quem tem interesse nos exames? Em primeiro lugar, os laboratórios que os realizam, tanto nacionais, quanto estrangeiros. Essas empresas viram na exigência uma oportunidade de negócio e ganho de escala em uma tecnologia laboratorial de ponta que identifica o usuário regular de drogas e não apenas eventual.
Também interessa às entidades de vítimas de trânsito, que conhecem as consequências humanas dos acidentes. Do mesmo lado estão os caminhoneiros, que enfrentam a concorrência desleal dos colegas que usam drogas para suportar dirigir mais horas sem dormir e, com isso, reduzir o tempo de viagem e conquistar o frete. Comportamento que também prejudica as transportadoras que respeitam a jornada dos seus motoristas e não fazem vista grossa para as drogas, como algumas más empresas do setor.
Os usuários de rodovias também não querem compartilhar a estrada com motoristas drogados, verdadeiras ameaças ambulantes, e estão a favor do exame. Mesma visão das polícias rodoviárias, que enfrentam o aumento da criminalidade decorrente do envolvimento de caminhoneiros viciados com o tráfico de entorpecentes, roubo de cargas, contrabando, etc.
O exame de larga janela, por identificar o usuário regular de drogas e o grau de uso, contribui para políticas de prevenção e tratamento, o que, sem dúvida, é aprovado pela classe médica e entidades mais respeitadas de saúde. Apesar disso, algumas vozes se levantaram contra a medida. A alegação mais frequente é a de que não haveria comprovação científica da sua eficiência. Curiosamente, essas vozes omitem a experiência norte-americana, onde exames toxicológicos preventivos são realizados desde 1988. Já o exame do cabelo foi adotado por algumas das maiores transportadoras americanas há 10 anos e graças a essa medida, elas reduziram a praticamente zero o índice de acidentes envolvendo drogas. Por que esses casos não são mencionados pelos opositores do exame? A resposta é simples: não é por desconhecimento, mas por compromisso com outros interesses distintos da verdade.
Algumas entidades médicas que vivem de monopólios na área do trânsito e do trabalho também se posicionaram contra o exame, contrariando o princípio da prevenção, base da boa medicina, e alegando que só é preciso punir o usuário quando estiver ao volante. Até sugerem soluções aos órgãos de trânsito, como uso de equipamentos importados ainda não homologados, para fiscalizar. Sai a pasta do médico entra a do vendedor. Evidente que não estão sozinhas nessas teses. Encontram apoio em alguns dirigentes de DETRANs que, curiosamente, aparecem na mídia dizendo que o exame é caro, embora nunca se preocupem com as elevadas taxas que cobram para a emissão e renovação da CNH. Como explicar que autoridades de trânsito se oponham à primeira medida de combate ao uso de drogas por motoristas desde que o CTB entrou em vigor?
Até um Governador caiu nessa armadilha. Geraldo Alckmin, de São Paulo, anunciou que os motoristas no seu estado não teriam que fazer o exame. Triste demagogia de um médico Governador. Esqueceu-se de perguntar o que acham seus eleitores que circulam nas estradas dividindo a pista com motoristas de ônibus e caminhões drogados. Aliás, caso lesse as pesquisas do IBOPE sobre o exame de larga janela de detecção, descobriria que 96% dos brasileiros aprovam o exame.
Existem alguns outros grupos que não tem interesse nos exames toxicológicos. Transportadoras que exploram esses profissionais, caminhoneiros irresponsáveis ou desesperados. Por último, uma categoria que não aparece com a própria voz, mas está presente na luta contra o exame toxicológico: os traficantes de drogas, que temem perder seus distribuidores. A verdade é que hoje os caminhoneiros são o grande meio de transporte de drogas no país. As apreensões pelas polícias rodoviárias confirmam isso.
Portanto, é fácil comparar os interesses de cada grupo dos que são a favor do exame toxicológico de larga janela e daqueles não querem sua aplicação. O que sabemos com certeza é que nenhuma entidade de vítimas de trânsito é contra a aplicação desses exames. Nem é preciso dizer de que lado está a verdade.
*Rodolfo Rizzotto é editor do Estradas.com.br, coordenador do SOS Estradas e autor do estudo ‘As Drogas e os Motoristas Profissionais’
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