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Rebite – Doping em motoristas

por Dr. Dirceu Rodrigues Alves Jr.*

"Rebite" chamado pelo motorista é conhecido entre os estudantes como "Bolinha". É constituído pelas anfetaminas e seus derivados e existem vários nomes comerciais. Foi lançado no mercado farmacêutico em 1932 como descongestionante nasal, usado em inalações. Em 1937 começou a ser recomendado como revigorador e foi muito usado com esse objetivo na II Guerra Mundial e na Guerra da Coréia. Hoje indicado como moderador de apetite, necessita de receita médica especial porque se trata de produto psicoativo capaz de levar a dependência física e psicológica.

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Nosso país enveredou a muito pelo crescimento através do transporte rodoviário. Esqueceram as autoridades de desenvolverem a malha rodoviária, bem como sua manutenção. Hoje, com estradas em péssimas condições de manutenção e construídas sem a menor preocupação com segurança, temos um Sistema Viário obsoleto, arcaico, oferecendo ao usuário condição insegura para sua utilização.

Transitar por uma estrada dessas é sem dúvida um risco muito grande. Como se não bastasse tal fato encontramos comportamentos irregulares dos operadores do transporte pesado nas estradas brasileiras. Soma-se àquela condição insegura para o trabalho o ato inseguro adotado pelo caminhoneiro, o uso do rebite.

Ir e vir o mais rápido possível vai gerar maior rendimento financeiro no final do mês. Com isso, surge a necessidade de estar ligado 24 horas por dia, com o objetivo de diminuir o tempo gasto nos trajetos.

Para isso, o motorista busca nas farmácias, bares, tendinhas ao longo das estradas um produto que possa mantê-lo acordado o maior tempo possível.

Os produtos oferecidos são substâncias anorexígenas (tiram o apetite) e funcionam como psicotrópicos, estimulantes.

As substâncias equivalentes terapêuticas mais usadas são:
a) BENZOFETAMINA
b) DIETILPROPIONA
c) FENDIMETRAZINA
d) FENFLURAMINA
e) FENILPROPANOLAMINA
f) FENTERMINA
g) MAZINDOL

Tais substâncias são indicadas para:
OBESIDADE
AUTISMO
CONGESTÃO NASAL
INCONTINÊNCIA URINÁRIA

Posologia:
A POSOLOGIA DEVE SER INDIVIDUALIZADA PARA OBTENÇÃO DE RESPOSTA ADEQUADA COM A MENOR DOSE EFICAZ.
Os nossos caminhoneiros ao iniciarem o uso de tal produto acham que o efeito é somente de perder o sono e nunca ficam com uma dose. A tendência natural são doses cada vez maiores, chegando à dependência física, psíquica e quando suspendem o produto apresentam a síndrome da abstinência.

Reações adversas:
– Aumento da pressão arterial
– estimulação central (sensação falsa de bem estar ou euforia)
– Irritabilidade, inquietação, dificuldade para dormir
– Delírio persecutório (mania de perseguição)
– Alucinações, paranoia
– Degeneração de células cerebrais
– Tonteira, nariz seco, secura na boca, cefaleia, insônia
– Náusea
– Dificuldade ou dor para urinar
– Exantema (lesões avermelhadas no corpo)
– Confusão ou depressão mental, episódios psicóticos, visão turva
– Alterações da libido (redução do apetite sexual)
– Constipação (prisão de ventre)
– Diarreia
– Batimentos cardíacos irregulares
– Impotência sexual
– Tem ação embriotóxica e teratogênica (interfere na formação e desenvolvimento do feto, provocando aborto e má formação)
– Reduz concepção (fertilização), aumenta incidência de mortalidade neonatal
– Dilata pupila (produzindo maior ofuscamento)
– Taquicardia

Insatisfeito com a ação do produto sobre seu organismo, o caminhoneiro acha por bem fazer a associação do “rebite” com bebida alcoólica. Esta somação vai potencializar a ação do produto sobre o Sistema Nervoso Central.

Em determinados casos o indivíduo apresenta quadros psicóticos, com visões as mais estranhas.

E como pode um motorista na direção de veículo ter visões estranhas?

Estimamos 3.000.000 (três milhões) de caminhoneiros no Brasil, sendo 80% autônomos e 20% vinculados a alguma empresa. Em um estudo realizado, para cada 400 (quatrocentos) caminhoneiros submetidos a exame “ANTI-DOPPING”na urina, onde se pesquisou a presença das substâncias citadas anteriormente, 10% eram positivos. Isto é, dos 400 (quatrocentos) caminhoneiros 40 (quarenta) usavam as drogas. Concluiu-se então que dos três milhões de caminhoneiros hoje trabalhando, 300.000 (trezentos mil) consomem de maneira contínua os produtos capazes de produzir alterações graves. A esse produto chamam “REBITE”.

O ato inseguro provocado pelos motoristas, somado à condição insegura caracterizada por construções precárias de estradas e a má conservação, justificam o grande índice de acidentes com motoristas profissionais. Aqui, acrescenta-se também, a condição insegura provocada pela manutenção deficiente dos veículos transportadores de carga, além dos excessos carregados.

Levantamento estatístico em Rodovias Federais no ano de 1994 mostrou um total de 77.818 (setenta e sete mil oitocentos e dezoito) acidentes dos quais 50% envolviam motoristas profissionais. Desde aquela época esse envolvimento de profissionais do volante vem aumentando de tal maneira que hoje vemos que em todo acidente rodoviário tem um profissional envolvido.

Por ano, no trânsito neste país, morrem 35.000 (trinta e cinco mil) pessoas e outras 380.000 (trezentos e oitenta mil) são vítimas que sofrem as consequências, outros 100.000 têm sequelas gerando um custo de tratamento e reabilitação de cerca de 1 BILHÃO DE DÓLARES.

Temos que combater de forma veemente, o ato inseguro produzido pelos operadores que colocam seu patrimônio ou o patrimônio de sua empresa em situação de risco, com perda parcial ou total dos bens. A integridade física de tais profissionais colocada à “mercê” de condições próprias permitindo que ocorra o sinistro. As agressões ao organismo produzidas pelo rebite muitas são irreversíveis concorrendo em curto prazo para incapacidade profissional e social.

Bem sabemos que SINISTRO e DOPING viajam juntos.

Após abordarmos todos estes fatos resta-nos, ainda, uma questão: COMO COMBATER?

Encontramos respostas através de ações determinadas:

Empresas
Ações preventivas sobre veículo e operador
Campanhas internas
Treinamentos e reciclagem
Monitorização de percursos e horários

Operador
Checagem das condições do veículo e carga
Cumprimento do código nacional de trânsito
Cumprimento das regras de segurança

Ministério dos Transportes e Secretaria de Estado do Transporte
Fiscalização sobre empresas
Manutenção preventiva das estradas
Investimento na malha rodoviária
Campanhas preventivas

Polícia Rodoviária
Uso do bafômetro
Exame antidoping (urina)
Dosagem alcoólica no sangue
Controles operacionais: condições do veículo, pesagem, acomodação e fixação da carga, controle de velocidade, tempo percorrido entre postos da polícia rodoviária, respeito à sinalização, ações rigorosas com multas, apreensão da carteira e do veículo

Polícia Civil
Combate ao fornecimento e distribuição das drogas e campanhas preventivas

Ministério da Saúde – Divisão de Fiscalização de Farmácias e Secretarias de Estado da Saúde (vigilância sanitária)
Fiscalização e controle das substâncias em questão

 

Conclusão
Somente com ações enérgicas como as apresentadas, somadas a um movimento radical da categoria, poderá interferir de maneira positiva a ponto de reduzirmos de maneira drástica a atual estatística de acidentes, óbitos e vítimas com sequelas graves.

O uso do “REBITE” é o ato inseguro do nosso caminhoneiro, que por sua vez, cria condição insegura para todos nós que transitamos por essas estradas do nosso município, do nosso estado e do nosso país.

 

*Dr. Dirceu Rodrigues Alves Júnior
Diretor de Comunicação e do Departamento de Medicina Ocupacional ABRAMET
www.abramet.com.br
dirceu.rodrigues5@terra.com.br
dirceurodrigues@abramet.org.br

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