Transportes alternativos não podem ser vistos como a solução dos gargalos, mas como aliados da tecnologia e dos sistemas integrados, que aliviam o tráfego
Mesmo com adesão crescente, usuários de formas alternativas de locomoção, como bicicletas e skates, sofrem com o desrespeito dos motoristas e o atraso no planejamento para esses transportes. Como uma realidade cada vez mais presente nos centros urbanos, os veículos não motorizados ainda são vistos como forma de lazer; e o pedestre é encarado como quem não tem dinheiro para comprar um carro – uma verdadeira espécie de sociedade marginal do trânsito.
“Os meios de transportes não motorizados sempre existiram. Todo mundo sempre andou a pé. A novidade é que isso está mudando a perspectiva de quem planeja a mobilidade urbana. Antes, os projetos eram chamados ‘planos de transporte’; hoje atendem por planos de mobilidade”, afirma Marcos Bicalho Pimentel – superintendente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP).
Para Bicalho, arquiteto e urbanista, o uso dessas opções não se trata de uma tendência, muito menos uma solução paras os sérios problemas enfrentados no trânsito. “Estão reconhecendo que esse povo existe. Hoje, há proposta de mudança nas relações da mobilidade nos projetos. Historicamente, esse investimento é voltado para meios de transporte motorizados individuais e, em menor escala, coletivos. Agora, pedestres e usuários de outros meios são considerados”, diz.
No entanto, para o especialista, a mudança ainda engatinha. “Apesar dessa nova percepção, o cenário continua difícil. O ideal não é buscar a conquista de espaço, mas consideração. A atenção ainda está voltada para carros, caminhões, ônibus e motocicletas. A ideia é argumentar que esses meios de transporte têm um papel importante e não devem ser desconsiderados”, expõe.
O importante é a compreensão do compartilhamento de espaços e a convergência de soluções à tecnologia e aos sistemas integrados. Para José Mario de Andrade, diretor da Perkons S/A, “Os sistemas integrados permitem a captação de dados e o planejamento das informações a partir desse mapeamento. São essas informações que poderão fazer com que os planejamentos das cidades vislumbrem demanda na gestão urbana”, diz. Além disso, José Mario contempla medidas restritivas à circulação do automóvel e crescimento da interação com o usuário no trânsito por meio de informações e indicações de rotas alternativas. “Porém, esta não pode ser uma medida isolada. É preciso considerar que, ao restringir o trânsito do veículo privado, outras alternativas de transporte com infraestrutura adequada à mobilidade e à segurança do cidadão sejam oferecidas”, observa.
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“Não temos ciclovias em São Paulo. Os ciclistas dividem espaço com carros e ônibus”, diz o diretor geral da Ciclocidade – Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo, Thiago Benicchio.
O usuário já está buscando essas alternativas por conta própria enquanto aguarda uma infraestrutura totalmente adequada. Porém, sofre preconceito porque o problema vai além da questão de ter um local seguro e apropriado para transitar: “as pessoas não compreenderam que o trânsito é um espaço a ser compartilhado”, destaca Andrade.
MUITOS DESTINOS DEMORAM MAIS COM VEÍCULOS MOTORIZADOS
Outro ponto desta discussão é: com atrativos imbatíveis, como conforto e praticidade, como fazer as pessoas abdicarem do automóvel? Para o professor e pesquisador em transportes da Universidade de Brasília, Artur Morais, há falta de opção por conta da desestrutura. “O problema é que há poucos lugares com ciclovia e ciclofaixa porque, no Brasil, bicicleta é sinônimo de lazer. Pode perceber que elas estão espalhadas em parques e orlas das cidades. A bicicleta nunca foi pensada como meio de locomoção e o poder público não criou infraestrutura para utilização dela além do lazer. Os ciclistas são obrigados a compartilhar o espaço com carros, motos e pedestres num espaço que não foi adaptado a eles”, explica.
O professor cita um estudo da Comunidade Europeia. “Em um trajeto de até oito quilômetros, o uso da bicicleta é mais eficiente que outros meios. A pessoa foge de engarrafamento, do trânsito caótico. Nessa distância, ela leva cerca de 20 ou 30 minutos para chegar ao destino, o que não compromete sua integridade física. Se fosse de carro, teria de procurar estacionamento; de ônibus ou metrô, teria que se deslocar até o ponto ou estação”, analisa.
“VÁ TRABALHAR!”
Segundo o diretor geral da Ciclocidade- Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo, Thiago Benicchio, São Paulo tem, aproximadamente, 600 mil pessoas andando de bicicleta pelo menos uma vez por semana. São mais de 140 mil destinos feitos por bicicleta todos os dias na maior cidade brasileira. Mesmo assim, o ambiente para os ciclistas é hostil. “Todos os dias os ciclistas sofrem com o comportamento agressivo dos motoristas .Acredito que a bicicleta não deva ser vendida ou empurrada como solução para deslocamentos, mas como complemento de transporte público ou pequenas distâncias”, diz. Thiago pedala desde 2005 em São Paulo, que tem 18 mil quilômetros de ruas, mas quase nenhuma ciclofaixa. “Nós dividimos o mesmo espaço dos carros, ônibus e bicicletas. Já perdi a conta de quantas vezes ouvi ‘vá andar no parque’ ou então ‘vá trabalhar’, quando estava indo para o trabalho de bicicleta”, conclui.
Nascemos do ideal por um transitar seguro e há três décadas nossos valores e pioneirismo nos permitem atuar no mercado de ITS atendendo demandas relativas à segurança viária, fiscalização eletrônica de trânsito, mobilidade urbana e gerenciamento de tráfego.