Teoria do panóptico invertido explica comportamento do motorista
O modelo não é novo, mas, mesmo com mais de dois séculos de existência, ainda surte efeitos. O panóptico é um padrão de construção idealizado para presídios com características bastante singulares. Trata-se de um edifício circular com várias celas, cujo centro abriga uma torre de controle em que o inspetor vê tudo, mas não é visto. O sucesso do projeto consiste em não haver necessidade de vigilância o tempo todo, afinal, os presos se sentem vigiados mesmo que isso não aconteça.
Guardadas as devidas proporções, a ideia pode ser adaptada ao trânsito na forma do panóptico invertido. Nesse caso, ao perceber que estão sendo vigiados, os motoristas mudam de comportamento e, consequentemente, respeitam as leis.
Para falar sobre este assunto, a Perkons ouviu a opinião da psicóloga do trânsito Andrea dos Santos Nascimento. Andrea também é presidente do Conselho Regional de Psicologia da 16ª Região do Espírito Santo, mestre em Políticas Públicas e doutoranda em Psicologia.
Perkons – Porque a maioria dos motoristas precisa ser monitorada para se manter dentro das leis?
Andrea Nascimento – O argumento lógico é mais estatístico que comportamental, no sentido de uma mudança propriamente dita. De acordo com especialistas em engenharia de trânsito, ou mesmo pelo policiamento de trânsito, a diminuição dos índices de acidentes é relativa. No Espírito Santo, por exemplo, nos locais onde são instalados os Detects (parada sobre a faixa de pedestre, velocidade e avanço de sinal vermelho) existe a diminuição dos índices de acidentes de trânsito, até mesmo os de grandes proporções.
Perkons – O comportamento dos motoristas muda quando eles percebem que estão sendo monitorados? Muda em que sentido?
AN – Não há mudança comportamental no sentido da absorção da lei, mas sim uma resposta mecânica imediata ao estímulo (fiscalização eletrônica) que significa a multa. A correlação do motorista é com a punição, com a multa e com os pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e não com a preservação da vida, seja a dele, de outros motoristas ou dos pedestres.
Perkons – Como fazê-los compreender que a fiscalização não é o único fator que deveria impedi-los de andar mais rápido?
AN – A educação para o trânsito tem se tornado algo banal, as pessoas confundem educação para o trânsito com panfletagem e caminhadas em prol da segurança do trânsito. Educação para o trânsito significa um movimento incessante do poder público e sociedade civil para o bem de todos. Isso sim pode gerar uma mudança de comportamento.
Perkons – Há algum estudo sobre o tema?
AN – Há estudos que mostram que quando um radar é retirado, a maioria das pessoas tende a diminuir a velocidade a curto prazo. No entanto, a longo prazo isso se perde e elas retornam a andar na velocidade acima da prescrita pela lei. Ou seja, não há mudança de comportamento.
Perkons – É só a fiscalização que resolve?
AN – Não. Muito menos trocar a multa por advertência, isso depende de cada um, varia de pessoa para pessoa.
“Não há mudança comportamental no sentido da absorção da lei,
mas sim uma resposta mecânica imediata ao estímulo que significa
a multa”, diz Andrea Nascimento. (Divulgação)
FISCALIZAÇÃO NAS ESTRADAS: PERIGO EMINENTE
Se nos centros urbanos a noção de segurança não está atrelada à fiscalização, seja ela por presença de um representante da lei ou por um dispositivo de monitoramento eletrônico, esse conceito cai ainda mais quando o assunto é respeito às leis nas estradas. As carcaças de carros acidentados expostos a cada posto da Polícia Rodoviária Federal não deixam dúvida: os motoristas abusam da velocidade e brincam com as próprias vidas, se percebem que não estão sendo vigiados.
Para o Fabiano Moreno, Inspetor da Polícia Rodoviária Federal e chefe da Comunicação Social da organização, a questão está condicionada à sensação de vigilância e não somente com relação à velocidade. “É difícil pensar em uma frota de veículos tão grande sem ocorrências. O trânsito se tornou algo tão rotineiro que as pessoas dirigem como se estivessem indo à cozinha pegar um copo d’água; ou seja, sem nenhuma atenção. Os motoristas que se envolvem em ocorrências geralmente estão dispersos realizando outras atividades ao mesmo tempo em que dirigem, como falando ao celular ou mexendo no som do veículo”, diz.
Fiscalização: se o motorista percebe que não está sendo vigiado, não segue a lei
(Divulgação)
Moreno pondera também a questão do perfil dos motoristas envolvidos em ocorrências. Segundo a PRF, a maior parte acontece entre o primeiro e o quinto ano de habilitação e após 20 anos de carteira. “Os motoristas superestimam o veículo, o conhecimento que têm da rodovia e, principalmente, a habilidade de dirigir. O excesso de confiança faz com que eles apostem na sorte”, relata.
“Os acidentes são uma realidade inerente ao trânsito. As pessoas falam ao celular, mexem no som do veículo, ficam dispersas e não percebem que estão com uma responsabilidade enorme. Elas precisam se conscientizar que estão no comando de uma massa de metal de quase uma tonelada que, em caso de ocorrência de trânsito, pode ter esse valor aumentado exponencialmente”, conclui.
Alternativas
Ocorrências podem ser evitadas por meio de ações complementares, que vão desde a educação para o trânsito – ainda tímida nas escolas brasileiras, segundo a Polícia Rodoviária Federal – até a engenharia, em que o esforço dos órgãos competentes é voltado à fiscalização da frota e dos equipamentos de segurança dos veículos, como explica Moreno. “O trabalho da PRF tem sido intenso na autuação dos maus motoristas. Em 2010, mais de três mil condutores foram multados por embriaguez. Somente em três feriados, mais de 10 mil motoristas passaram pelo teste do bafômetro”, analisa.
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