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Semáforos com temporizadores: usar ou não usar?

Benefícios e riscos da tecnologia dividem opinião no País

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Crédito: Divulgação/Contransin


Em Lagoa Santa, o secretário municipal de Transportes e Trânsito,
acredita que com os temporizadores, os condutores conseguem
controlar seu tempo de espera, evitando aceleração desnecessária.

Nem tudo é consenso, e os semáforos com temporizadores são questão central de um debate em todo o País sobre a importância de sua utilização. E essa discussão pode estar longe de terminar. Uma pesquisa realizada em 2010 pela Universidade de São Paulo (USP) mostra que houve redução média de 25% nos índices de acidentes de trânsito após a implantação da tecnologia nos municípios de São Carlos, Piracicaba e Ribeirão Preto. Entretanto, em Curitiba, um estudo realizado no mesmo ano pelo Setor de Pesquisa, Estatística e Equipamentos do Trânsito da Urbs – empresa que administrava o trânsito na cidade na época – concluiu que, nos 18 meses de implantação dos aparelhos em uma das principais vias curitibanas, houve aumento de 64,3% no número de acidentes, de 46,27% no número de vítimas e de 150% no número de mortos.
Apesar de faltar consenso e um estudo do Denatran para amparar o Contran na decisão sobre a regulamentação do produto, tramita na Câmara dos Deputados o projeto de lei n.° 78/2011, da autoria do deputado Duarte Nogueira, que exige a instalação de temporizadores nos semáforos para indicar aos condutores e pedestres o tempo restante para a mudança de ordem. A justificativa para o projeto foi que “esses temporizadores só aumentam a segurança do trânsito, e têm grande potencial para a redução de acidentes.”
Na opinião de Paulo Cesar Marques, professor da Faculdade de Engenharia Civil da Universidade de Brasília e membro da Câmara Temática de Educação para o Trânsito e Cidadania do Contran, essa tecnologia traz poucos benefícios. “Se por um lado existe a satisfação e o conforto para o usuário por ele poder se preparar para a mudança de cor do semáforo, por outro a quantidade de tarefas de que o motorista tem que dar conta pode causar desvio de atenção do que é essencial, como por exemplo, não avistar um veículo mudando de faixa ou um pedestre desavisado andando na via. O número de riscos é muito maior do que dos benefícios”, comenta. Já o professor Carlos Alberto Guimarães, do Departamento de Geotecnia e Transportes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), defende os temporizadores. “Estes semáforos permitem que o motorista tenha mais informações, o que facilita na tomada de decisão.”

Crédito: Paulo Castro/UnB

Para o professor Paulo Cesar Marques, os
riscos causados pelos temporizadores são
maiores que os benefícios.

De acordo com uma empresa fornecedora de semáforos com temporizadores, um aparelho de LED sem o cronômetro custa R$ 1.800 e tem o consumo de energia de 25 watts por hora. Já os que têm os temporizadores custam cerca de R$ 7.000. Neste último, o consumo do aparelho de temporizador, é de 40 watts por hora, que ainda se soma aos 25 watts dos semáforos.  Quanto à comparação relativa aos custos de manutenção, a empresa afirma que ela é variável, tornando-se até imensurável, pois são aparelhos diferentes que se complementam.
Atualmente, as prefeituras já podem instalar estes aparelhos, desde que se responsabilizem por sua utilização. Em alguns municípios, os semáforos com temporizadores estão dando o que falar. Em Belo Horizonte, por exemplo, a Câmara de Vereadores aprovou o projeto de lei n.° 1.475/11, de autoria do vereador Joel Moreira Filho, que determina a instalação dos semáforos com temporizadores, mas o prefeito, Marcio Araujo de Lacerda, vetou integralmente o projeto. Ele defendeu, em Diário Oficial, que a adoção dos semáforos com temporizadores pode configurar, para os motoristas mais apressados, uma espécie de grid de largada, colocando em risco a segurança dos pedestres e dos ocupantes dos veículos que trafegam nas vias opostas. A Câmara de Vereadores de Belo Horizonte derrubou o veto do prefeito e o projeto se transformou na lei n.° 10.414, mas a Prefeitura mantém sua posição.
Em outro município mineiro, Lagoa Santa, os temporizadores são bem-vindos. De acordo com o diretor municipal de transporte e trânsito, Marcus de Sales, o principal ganho é que os pedestres sabem o tempo exato de que dispõem para atravessarem a via.  “Além disso, os condutores conseguem controlar seu tempo de espera, evitando assim aceleração desnecessária e reduzindo a emissão de gases poluentes”, enumera o diretor. Ele afirmou também que, após a instalação dos temporizadores, as vias deixaram de ter acidentes de maior gravidade.

Afinal, o que fazer?
Em nota, o Denatran afirma: “O uso de semáforos com informação auxiliar de tempo, especialmente quando usados para o controle de fluxos veiculares, é objeto de muita controvérsia no meio técnico, em função da carência de estudos no Brasil que comprovem os reais efeitos desse equipamento. Os estudos hoje conhecidos restringem-se a casos específicos e localizados, em geral utilizando amostras pequenas, e suas conclusões diferem muito entre si. O Denatran deverá coordenar um estudo mais abrangente com o objetivo de subsidiar decisão do Contran. Entretanto, ainda não está definido prazo para sua conclusão”.
A mestre em engenharia de transportes e autora do estudo sobre semáforos temporizadores na USP, Luciane Spigolon também tem uma opinião que vai de acordo com o Denatran. “Quanto à análise da segurança, remetem a necessidades de estudos mais adequados e mais aprofundados no futuro sobre a questão. Recomenda-se, no entanto, tomar como referência os valores obtidos nesta pesquisa, bem como as observações feitas. Assim, antes de qualquer aprovação é necessário ter em mãos estudos concretos sobre os reais benefícios.”

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