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Sem tempo para o trânsito

por Paulo Ricardo Meira*

Publicado em28/07/2011

“Usem o tempo da melhor maneira possível a despeito de todas as dificuldades destes dias.” (Efésios, 5:16)

A passagem indevida no sinal vermelho é uma das mais mais comuns infrações de trânsito no Brasil. Apenas como exemplo, no Estado do Rio Grande do Sul é a sexta infração de trânsito mais cometida, tendo até o momento, em julho de 2011, acumulado 46 mil ocorrências somente neste ano – foram 90.694 ao longo de 2010 – e é um hábito dos mais perigosos à integridade física no trânsito. Veja-se, para ilustrar, aquele acidente na semana passada que misturou uma advogada de 27 anos e seu SUV, e um empresário com um Porsche, ambos esmagados junto a um poste em uma avenida.
Por que motivo furamos o sinal?
Trata-se, a meu ver, de uma pressa desmedida, na qual não damos ao trânsito seu necessário tempo. Como escrevi certa vez, ao planejarmos nosso dia, em geral alocamos nosso tempo com base nas tarefas e compromissos dedicados a esse dia. Nosso cronograma é assim baseado nas atividades, contudo não prevemos os hiatos de tempo que seriam necessários para nos colocar fisicamente presentes para essas atividades. Não destinamos, portanto, um tempo ao trânsito. Pensamos nos compromissos em si, mas o tempo do trânsito a gente dá um jeitinho. Em geral, um jeitinho brasileiro. Pensamos que pressionar o motorista de táxi resolve, pensamos que um pé mais pesado no acelerador de nossos veículos também resolve, afinal, já que precisamos com certeza o trânsito estaria desobstruído para nós, não?
É aí que entramos em uma das maiores armadilhas do trânsito: a pressa. Como nosso planejamento levou em conta nossos deveres, sem entretanto a devida importância ao nosso deslocamento para chegar até eles, nossa agenda fica atrasada. Os compromissos são, via de regra, inflexíveis, sem possibilidade de adiamento. Portanto, o que sobra para interferirmos, como senhores do tempo, é o trânsito. Transformamos, mentalmente, os automóveis em máquinas do tempo que poderiam nos levar, quase em teletransporte, ao local que precisamos em questão de minutos.
A partir daí, qualquer costura na via pública, para ganhar uns metros, vale a pena o risco de mudança de pista. Qualquer sinal amarelo vale a pena o risco do aproveitamento. Qualquer cruzamento deixa de ser visto como um perigo em potencial para dar passagem à nossa pressa, afinal de contas os demais condutores entenderão, pois estamos, excepcionalmente hoje, atrasados. Assim, ganharemos trânsito livre e preferência em nossa corrida maluca com destino aos nossos compromissos. Pena que os demais também estão com o mesmo dilema. Em vez de encarar o trânsito como um ato social, com um tempo merecido e certas convenções a serem observadas, encaramos como um inconveniente passageiro do qual tentamos o mais rapidamente sair.
Quanto maior nossa pressa, maior também o nível de risco que estamos dispostos a correr, sempre sabemos que vamos nos organizar melhor no dia seguinte. Mas nada como chegar inteiro, por sorte, para nos causar uma provável amnésia em nossas efêmeras resoluções.
Será que, com o tempo, mudaremos?

 

*Paulo Ricardo Meira
Doutor em Marketing pelo PPGA/UFRGS e Consultor da Fenasdetran
paulomeira@gmail.com

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