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Riscos cada vez mais constantes

por Antonio Penteado Mendonça*

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Como a habilitação e a fiscalização do trânsito são feitas de forma pouco rigorosa, as respostas dos motoristas às tensões se tornam cada vez mais agressivas.
Mais uma vez as estatísticas apontam o crescimento do número de acidentes nos feriados prolongados. Ainda que a comparação da Polícia Rodoviária Federal entre o total de mortos nas estradas no carnaval e no feriado de páscoa mostre um número menor de vítimas, a comparação entre a páscoa deste ano e a do ano passado traz o desenho contrário.
Além disto, como dito pelo porta-voz da Polícia Rodoviária Federal, em se tratando de um feriado religioso, eles não esperavam um número tão elevado de autuações por conta do consumo de álcool. Consumo que eleva o porcentual de acidentes graves, contribuindo significativamente para o total dos mortos e dos feridos.
Quando a Seguradora Líder do DPVAT indeniza mais de 50 mil mortes por ano, fica claro que o trânsito brasileiro é uma das mais eficientes máquinas de ceifar vidas à disposição do ser humano. E o pior é que não há nada que indique uma mudança para melhor nos próximos anos. Ao contrário, a situação deve se agravar mais. A razão é simples: nunca a indústria automobilística nacional vendeu tantos veículos zero quilômetros como nos últimos tempos.
Essa realidade impõe duas situações dramáticas. A primeira é o número de veículos trafegando pelas ruas e estradas nacionais ser maior do que a capacidade de vazão destas vias. E a segunda é o fato de que grande parte dos novos motoristas tem pouca experiência no volante. A soma é catastrófica. Num trânsito permanentemente tenso, a falta de prática agrava o risco de acidentes, além de levar ao cometimento de infrações graves, por conta da irritação decorrente dos congestionamentos e do tempo perdido nas ruas e estradas.
Como a habilitação dos motoristas e a fiscalização do trânsito, em todo o país, costumam ser feitas de forma pouco rigorosa, as respostas dos motoristas às tensões a que são submetidos vão se tornando cada vez mais agressivas, refletindo-se nas manobras proibidas ou de alto risco cometidas como se fossem normais.
É aqui que surge um novo problema. E problema sério porque não se restringe somente ao trânsito. A falta de respeito às normas vai minando a sociedade brasileira.
Cada vez mais é comum nos depararmos com gente que sem qualquer pudor fura filas de cinemas, teatros, bancos ou restaurantes. É também comum vermos pessoas absolutamente saudáveis se valendo de vantagens oferecidas aos que necessitam de cuidados especiais.
A falta de respeito ao próximo pode ser vista, ou melhor, ouvida, nas proximidades de dezenas de templos das mais variadas religiões e seitas, que pouco se importam com o direito do próximo e ligam seus alto-falantes no volume máximo, como se Deus fosse surdo.
Todas estas manifestações impactam negativamente os resultados da atividade seguradora. Cada uma delas é um passo na direção do aumento dos riscos a que as pessoas são submetidas. Riscos de brigas, de assassinatos, de violência contra o próximo, de atos de covardia, como os ataques aos homossexuais ou às mulheres, que se repetem com regularidade impressionante e, por causa disto, não causam mais o horror que deveriam causar.
Como cada uma dessas ações implica o aumento do risco, aumenta também a ocorrência dos sinistros, parte dos quais tem cobertura de seguro. Quando alguém vai pela pista de fora, passa todo mundo e depois subitamente faz uma conversão fechando os que vêm atrás, para virar para dentro, o acidente se torna quase certo.
Da mesma forma, quando alguém fura uma fila, ou gratuitamente agride outras pessoas, a reação lógica dos agredidos pode levar a brigas com desfechos dramáticos, representados pelas estatísticas estarrecedoras que apontam os jovens até 25 anos como as maiores vítimas da violência.
Seguro existe para proteger o patrimônio e a capacidade de atuação da sociedade. Quando parte dos integrantes da sociedade deliberadamente passa a correr mais riscos, em todos os tipos de atividades, não há como o seguro não custar mais caro. É a velha máxima dos bons pagarem pelos maus.

*Antonio Penteado Mendonça
Sócio da Penteado Mendonça Advocacia, Presidente da Academia Paulista de Letras e Comentarista da Rádio Estadão ESPN

Originalmente publicado no jornal O Estado de São Paulo em 02/05/2011.

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