Obter a resposta adequada a uma sinalização viária vai além da simples colocação da placa. Especialistas falam sobre padronização, excesso de informação e uso de materiais adequados.
Desde 2007, o Conselho Nacional de Trânsito publicou três dos seis volumes previstos do Manual Brasileiro de Sinalização de Trânsito, que visa padronizar a sinalização em todo o Brasil. Porém, somente esta medida não é suficiente para garantir a compreensão da mensagem pelo usuário da via. A percepção e leitura da sinalização concorrem com outros elementos presentes nas ruas e rodovias.
Segundo o Diretor do Denatran, Orlando Moreira, os manuais são elaborados por técnicos especializados para facilitar a compreensão das mensagens na sinalização vertical, horizontal ou semafórica. “O objetivo é facilitar o entendimento, não gerando dúvidas que possam gerar acidentes ou autuações”, diz Moreira. “Tratam-se de documentos técnicos, considerando padrões internacionais, configurando-se como ferramenta de trabalho importante para os técnicos que trabalham nos órgãos ou entidades de trânsito em todas as esferas”, explica.
Paulo Ricardo Meira, doutor em Marketing e consultor da Fenasdetran, explica que o excesso de informação prejudica desde a percepção até a compreensão de placas de sinalização. “A publicidade em rodovias compete com os mecanismos de percepção seletiva, distorção seletiva e retenção seletiva acerca dos diversos estímulos ambientais aos quais o condutor deve prestar atenção quando em situação de trânsito: outros motoristas, animais, pedestres, sinalização, entre outros”, diz.
Ele lembra de uma boa campanha publicitária estrangeira que abordou o assunto com a mensagem “good drivers just drive” – bons motoristas apenas dirigem, ou seja, não ficam concentrados em outra coisa que não seja dirigir. “Imagine uma situação urbana, em um determinado ponto da via, em que a atenção do condutor para uma sinalização do trânsito tem de competir com faixas, outdoors, paredes pintadas, publicidade em táxi e ônibus, painéis trifásicos e uma infinidade de outros estímulos de mídia exterior? Fica difícil concentrar-se em apenas dirigir com atenção”, observa Meira.
Ainda assim, ele não acha que a publicidade deva ser banida. “Ao mesmo tempo em que a publicidade comercial atrapalha o condutor no sentido de uma direção mais segura ao volante, a mídia exterior pode ser positiva se usada como uma ferramenta para divulgar mensagens de segurança no trânsito – desde que observados alguns preceitos básicos, tais como não ter informação demais. Dessa forma, o banimento total é uma solução muito radical”. Para ele, excesso de informação é conter mais que seis diferentes elementos, contando a logomarca do anunciante.
O diretor do Denatran concorda: “Não há necessidade de retirada da publicidade. Devem ser, obrigatoriamente, atendidas as determinações do CTB – artigos 80 a 84 – que trata do assunto” (leia texto abaixo).
A importância da sinalização em pontos críticos
O engenheiro especialista em trânsito José Mario de Andrade, diretor da Perkons, lembra que pontos críticos precisam de atenção especial. “Ao passar nestes locais, além de nada poder distrair o condutor, a sinalização deve ser ostensiva para que ele compreenda o risco e dirija de forma mais prudente”. Além disso, ele lembra que pontos com altos índices de acidentes necessitam ainda de fiscalização eletrônica para inibir abusos.
Uma tese de mestrado elaborada pelo engenheiro Felipe Castilho e defendida na Escola de Engenharia de São Carlos (USP) analisou a retrorrefletividade (capacidade de um material permitir a visualização e a leitura de informações quando iluminadas pelo farol de um veículo), a conspicuidade (facilidade de chamar a atenção) e a legibilidade (facilidade de leitura de símbolos e palavras impressos) de placas de sinalização de trânsito, em função do material empregado na confecção dos caracteres e do fundo da placa.
Nas conclusões, no item sobre pontos com alto índice de acidentes, o autor é enfático: “Para estes locais devem ser utilizados os melhores materiais disponíveis no mercado, visando solucionar de forma efetiva o problema. Para tanto, além de um projeto especial para o local, devem ser utilizadas películas refletivas tipo X (Grau Diamante ou Omniview) nas placas de sinalização”. Ele cita como exemplo um projeto da cidade de Caçapava, que após sinalizar desta maneira os pontos críticos em 2003, não registrou nenhum acidente nos dois meses seguintes à implantação.
Saiba mais sobre o assunto
• Tese de mestrado de Felipe Bosco Castilho “Sobre a conspicuidade, legalidade e retrorrefletividade das placas de sinalização viária”
• Reportagem sobre sinalização em pontos críticos
• “Mídia Rodoviária: Risco ou oportunidade para um trânsito seguro?”. Apresentação de Paulo Ricardo Meira e Major João Batista Hoffmeister no 3º Congresso Brasileiro de Concessões de Rodovias.
• Código de Trânsito Brasileiro (Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997):
Art. 80. Sempre que necessário, será colocada ao longo da via, sinalização prevista neste Código e em legislação complementar, destinada a condutores e pedestres, vedada a utilização de qualquer outra.
§ 1º A sinalização será colocada em posição e condições que a tornem perfeitamente visível e legível durante o dia e a noite, em distância compatível com a segurança do trânsito, conforme normas e especificações do CONTRAN.
§ 2º O CONTRAN poderá autorizar, em caráter experimental e por período prefixado, a utilização de sinalização não prevista neste Código.
Art. 81. Nas vias públicas e nos imóveis é proibido colocar luzes, publicidade, inscrições, vegetação e mobiliário que possam gerar confusão, interferir na visibilidade da sinalização e comprometer a segurança do trânsito.
Art. 82. É proibido afixar sobre a sinalização de trânsito e respectivos suportes, ou junto a ambos, qualquer tipo de publicidade, inscrições, legendas e símbolos que não se relacionem com a mensagem da sinalização.
Art. 83. A afixação de publicidade ou de quaisquer legendas ou símbolos ao longo das vias condiciona-se à prévia aprovação do órgão ou entidade com circunscrição sobre a via.
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