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Reprogramar o trânsito

por Cristina Baddini Lucas*

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O Brasil tem uma motocicleta para cada 11 habitantes. Em 2000 essa relação era de uma moto para cada 43 habitantes. Só para comparar, a Itália tem uma motocicleta para cada 6,4 habitantes, e a Espanha, há uma moto para cada 9,4 habitantes.
Nos últimos cinco anos, mais do que dobrou a quantidade de motos no Brasil.  Em 2005 havia 7,4 milhões delas e hoje, já são mais de 17 milhões de motocicletas. Os motivos do crescimento da frota são em primeiro lugar o preço mais acessível e a facilidade de financiamento, aliados às carências do transporte público, além de estímulos como a redução de impostos empurram a população na direção para essa modalidade mais popular de locomoção individual.

Segurança
Mas, lá estão os motociclistas no centro de todas as discussões relativas à segurança no trânsito. Um motociclista tem mais chances de morrer no trânsito paulista do que o ocupante de um carro. 35% dos acidentes fatais com motos indicam posicionamento no corredor como causa do acidente por conta do diferencial de velocidade, da invisibilidade (pontos cegos), da queda do motociclista entre veículos ou do atropelamento do motociclista. Na mudança de faixa, a visibilidade da moto pelo motorista (auto/caminhão) é prejudicada pela existência de “pontos cegos”.
Não é o caso de desconsiderar as vantagens oferecidas pelas motos, mas é preciso considerar também os aspectos negativos da letalidade dos acidentes além da poluição.

Bom condutor
Para muitos motociclistas, ser um bom condutor se resume a colocar o capacete, subir na motocicleta e acelerar tudo que o motor permitir entre veículos, desrespeitando sinais, placas, colocando o pé ou a mão na placa para que o equipamento medidor de velocidade não registre o excesso praticado dentre outras infrações tão corriqueiras que podem ser constatadas nas vias públicas.
Os maiores problemas práticos são a vulnerabilidade inerente ao modo – o condutor não tem proteção, o desrespeito às regras de trânsito e a alta velocidade nas vias. A situação tem se tornado tão complicada, que os tais “ases” no guidon passaram a representar perigo até mesmo para os demais motociclistas que se utilizam do veículo de maneira correta, os quais ficam a mercê de uma queda por conta dos motociclistas imprudentes.

Campanhas
Os órgãos de trânsito se esforçam, elaboram campanhas educativas para tentar conscientizar, leis e resoluções são editadas em benefício dos motociclistas, mas de nada vale esse esforço se os principais interessados insistem em arriscar a vida, infelizmente.
Para aqueles que ainda têm uma visão equivocada sobre o que é utilizar adequadamente uma motocicleta, espero uma reflexão para uma mudança de comportamento, principalmente para manterem-se vivos e não causarem dor às pessoas que lhes querem bem. Para enfrentar o problema, uma política que pretenda ser mais do que paliativa deveria começar revendo a tolerância excessiva com desvios de conduta dos motociclistas. Impor limites mais severos de velocidade também é necessário. Enfim vamos estudar o caso da Ásia e outros países com problemas graves e, a seguir desenvolver estudos específicos sobre o Brasil.
Vamos aumentar exigências para obtenção de CNH (aprendizado/idade/tipo de veículo) e barrar uso inseguro da moto por motivo de produtividade. A própria legislação de trânsito precisa ser rediscutida. Em 1998, foi suprimido do Código de Trânsito Brasileiro o artigo que proibia a circulação de motos entre as faixas de veículos. Seria o caso de rever tal decisão, impondo aos motoqueiros algum tipo de restrição e aplicar formas eficazes de fiscalização.
Os responsáveis pelas políticas de trânsito precisam agir com energia e celeridade diante dessa realidade para a qual o país ainda não está preparado. Nem é preciso repetir que o investimento prioritário em transporte público é parte da solução do problema.

 

*Cristina Baddini Lucas
Assessora do MDT, colunista do Diario do Grande ABC (Coluna De Olho no Trânsito)

 

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