NOTÍCIAS

Pelo fim da guerra civil no trânsito, por Maria Inês Dolci

NULL
Publicado em

Os testes do Programa de Avaliação de Carros Novos indicarão quais os veículos mais e menos seguros

    OS AUTOMÓVEIS que vocês dirigem diariamente, caros leitores, são seguros? Tenho visto, lido e ouvido muitas reportagens sobre o desempenho do motor, o consumo de combustível, a aerodinâmica, as linhas harmoniosas, as cores arrojadas. Mas será que pensamos, mesmo, se os carros nos quais levamos nossos filhos à escola, os pais ao médico, a família ao sítio ou à praia, têm os freios eficientes, proteção em caso de colisão e, por exemplo, airbags eficientes que reduzam o impacto sobre braços, pernas e cabeça? Se a segurança veicular não pautar a escolha dos automóveis que adquirirmos de hoje em diante, não será por falta de suporte técnico e informativo.
    Chega ao Brasil, hoje mais especificamente, o Programa de Avaliação de Carros Novos (NCAP, na sigla em inglês). Na América Latina, Latin NACP. Para que tenhamos uma ideia do quanto estamos atrasados na área, o Euro NCAP foi fundado em 1996. Há programas do gênero também nos EUA, no Japão, na Coreia do Sul, na Austrália e na China. O programa realiza “crash tests“ (testes de colisão) em veículos vendidos nos países latinoamericanos. São utilizados manequins com sensores, que captam os efeitos das batidas. Há câmeras de vídeo e máquinas fotográficas para registrar os detalhes do teste. Por exemplo, se havia risco elevado de lesões na cabeça e no peito do motorista e dos passageiros.
    Essas informações passam a ser divulgadas, periodicamente, pela entidade parceira do Latin NCAP, a Proteste, em suas publicações destinadas a seus associados, e pelos meios de comunicação, que receberão os resultados dos testes. Milhões de brasileiros, portanto, saberão quais os veículos novos mais e menos seguros, em acidentes de trânsito. É importante, contudo, mais do que saber, que os consumidores levem isso em conta na hora de comprar seus carros.
    Os conceitos de veículos mais baratos se modificarão, porque economizar em segurança não é uma boa maneira de comprar qualquer produto ou serviço. Sempre defendemos que os fabricantes de automóveis no Brasil oferecessem, como acessórios básicos e obrigatórios, airbags, freios ABS e proteção lateral nas portas. Isso ocorrerá até 2014, conforme lei sancionada pelo presidente Lula.
    Indústria e alguns formadores de opinião argumentavam que tais itens de segurança encareceriam os automóveis. Há, contudo, como evitar isso. No preço de cada veículo estão embutidos quase 40% de impostos diversos (IPI, ICMS, PIS, Cofins etc.). Sem contar aqueles que pagamos anualmente, como o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), o licenciamento e o seguro obrigatório. E a montanha de dinheiro arrecadada com as multas de trânsito.
    Ademais, retiremos os impostos e comparemos os preços dos carros fabricados no Brasil e nos Estados Unidos. Veremos que pagamos bem mais. Logo, há como vender carros mais avançados e seguros por preços menos salgados.
    Somente a economia que o Sistema Único de Saúde (SUS) terá com o atendimento a acidentados de trânsito bancaria, com sobras, a redução de impostos automotivos vinculada à oferta de itens de segurança.
    Especialistas estimam que o tratamento de feridos em acidentes de trânsito custe aos cofres do SUS mais de R$ 30 bilhões por ano.
    Obviamente, mais importante do que isso é a redução das mortes e dos ferimentos com sequelas permanentes.
    Com o Latin NCAP, instituição independente, vamos perceber mais claramente os abusos práticos contra os consumidores brasileiros na área automotiva. Isso não solucionará o principal problema -a falta de respeito à legislação e à sinalização de trânsito. Nesse caso, carecemos de uma ação que combine educação, fiscalização, multas e eventual cassação do direito de dirigir.
    Desejo que a nova entidade comece a modificar a triste realidade de nossas ruas e estradas, que matam quase 40 mil brasileiros por ano, segundo estatísticas conservadoras. É uma de nossas guerras civis não declaradas.

MARIA INÊS DOLCI
Advogada formada pela USP com especialização em business, é especialista em direito do consumidor e coordenadora institucional da ProTeste Associação de Consumidores.


Originalmente publicado no site Folha de S. Paulo em 18/10/2010.

COMPARTILHAR

Veja

também

Como as cidades inteligentes apostam na tecnologia para uma gestão urbana mais eficiente

Lombada eletrônica completa 32 anos ajudando a salvar vidas 

Perkons celebra 33 anos de inovação e segurança no trânsito

Perkons Connect entra para o calendário nacional e passará por todas as regiões do país

Inovação e Gestão Urbana: temas centrais do Perkons Connect

Segurança no trânsito em foco no Perkons Connect

Primeira edição do Perkons Connect será em São José do Rio Preto

Relatório de Transparência Salarial

Visão Zero é capaz de transformar a mobilidade urbana no Brasil

Maio Amarelo 2024: Paz no trânsito começa por você

Nascemos do ideal por um transitar seguro e há três décadas nossos valores e pioneirismo nos permitem atuar no mercado de ITS atendendo demandas relativas à segurança viária, fiscalização eletrônica de trânsito, mobilidade urbana e gerenciamento de tráfego.