Aristóteles (aprox. 384 – 322 a.C.) afirmava, como princípio de ética, que toda a ação humana deve objetivar o bem. Que todo conhecimento e trabalho devem ser para melhorar a vida e alcançar o bem-estar. Que a busca do bem é o que difere o homem dos outros animais.
É isso: fazer ao outro o bem que se quer seja feito a si mesmo. Assim como, não fazer o mal que não se quer para si.
Transportando este princípio para o trânsito, pode-se iniciar falando daquela falta de ética que começa bem no alto. Lá onde autoridades políticas e poderosos da economia deixam de decidir em favor do transporte coletivo e das alternativas ecológicas de mobilidade e continuam a fomentar a indústria automobilística. Alheios aos crescentes congestionamentos, há décadas, insuportáveis.
Lá onde administradores públicos desvirtuam o uso do dinheiro que deveria ser utilizado para a educação de trânsito. Dinheiro obtido pelos impostos, taxas e multas oriundos do licenciamento da frota e da fiscalização. Lá onde legisladores mantém leis fracas, incompetentes de ordenar o comportamento dos condutores em seus veículos, como dos cidadãos na sociedade. Descompromissados com a preservação de vidas nas vias públicas.
Há, pelo menos, seis décadas que as decisões relacionadas à mobilidade têm sido, na sua maior parte, equivocadas. Pois, não consideraram a qualidade do transporte nem mesmo no curto prazo. Não há desculpa para os que fizeram isto, nesse período. Se não tinham a capacidade de projetar o trânsito com base nos dados locais da época, tinham a referência de várias localidades do mundo, para fazer o certo.
Assim, por que seria diferente o modo de agir do condutor no trânsito? Ou seja, como ele poderia ser naturalmente ético, se é fruto desta cultura desacertada e se com ela convive?
Se os prejuízos decorrentes destas faltas fossem apenas materiais, já seria ruim, pois consumiriam recursos que faltariam para outras realizações. Mas, pior que isto, é que, destas faltas, decorrem lamentavelmente mais de 50 mil mortes por ano, no Brasil. Segundo a Seguradora Líder – DPVAT, em 2013, foram 54.767 indenizações por morte, além de 444.206 por invalidez permanente e 134.872 por despesas de assistência médica. E o valor das indenizações ultrapassou R$3,2 bilhões.
Ao encontro da ética cada lei procura ter conformidade. Embora, dependendo dos pontos de vistas, nem sempre consiga isto. Porque ela, ao visar o benefício da ordem e da paz para a maioria, poderá ser contrária a um ou outro indivíduo.
Bom mesmo é se o indivíduo pensasse coletivamente e agisse como se a lei nem fosse necessária. Aí predominaria o reino original da ética.
Enquanto isso, alguns questionamentos poderiam suscitar reflexões e, quem sabe, alcançar a consciência para melhorar a realidade um pouco a cada dia:
Tem ética o pedestre, o condutor ou o passageiro que joga um papel de bala, uma bituca, uma lata de refrigerante, um objeto qualquer em local público, fora de uma lixeira?Tem ética o motorista que ultrapassa pelo acostamento, quando os demais se mantém numa fila que respeita a ordem de chegada?Tem ética o condutor que preserva a velocidade regulamentada apenas onde há fiscalização?Que ética existe no proprietário de um imóvel que faz a calçada intrafegável para pedestre, desde que em seu terreno se aproveite todo espaço aquém do muro?Que ética há nos condutores que colocam o braço para fora do veículo sem que seja para sinalizar; que estacionam ocupando vagas que não são para eles; que põem o volume de seus rádios nas alturas; que se distraem com telefone celular ou alguma recreação dentro do carro?A lista de erros é longa e representa a realidade diária em nosso trânsito.
Ocorre que a ética, para ser praticada, dependerá sempre da educação da sociedade. Quando esta falta, a ética capenga. Somado a isso, à medida que a densidade demográfica aumenta, a fiscalização e a lei passam a ter mais importância do que antes. Pois, as possibilidades de conflitos ampliam-se, demandando mais rigor para obtenção da ordem.
Diante disso, a ética tem trafegado muito menos do que deveria, também no trânsito.
J. R. Jerônimo*
Autor do livro ‘Como Se Tornar Um Asno Volante Em 19 Lições Erradas’, que diverte e dá dicas para uma boa direção de veículo e bom comportamento no trânsito.
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Nascemos do ideal por um transitar seguro e há três décadas nossos valores e pioneirismo nos permitem atuar no mercado de ITS atendendo demandas relativas à segurança viária, fiscalização eletrônica de trânsito, mobilidade urbana e gerenciamento de tráfego.