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O começo do fim do reinado do automóvel

Por Archimedes Azevedo Raia Jr.*

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Várias matérias publicadas pela mídia mundial têm relatado novas tendências da mobilidade urbana em cidades de países desenvolvidos, tais como Nova Iorque, Tóquio, Paris, Amsterdã, Madri etc., onde as pessoas vêm perdendo o interesse pelo automóvel e buscado modos de transportes mais sustentáveis. Realidade esta bastante diferente daquela encontrada no Brasil, onde o automóvel ainda tem reinado de forma absoluta. Mas, pode também começar a mudar.

Em 2010, o Estadão publicava um artigo, “Japoneses perdem interesse por carros e gastam mais com beleza”, no qual relatava que as montadoras de automóveis instaladas no Japão estavam em crise. Realizaram uma pesquisa para se conhecer melhor seus consumidores. Alcançaram uma resposta inesperada, ou seja, os homens japoneses têm mostrado mais interesse por hidratantes, limpeza de pele e salões de beleza do que por carros.

Um artigo de 2012, do New York Times (As Young Lose Interest in Cars), já apontava que os jovens americanos estavam cada vez menos preocupados em adquirir automóveis. Uma pesquisa foi realizada com 3 mil consumidores nascidos entre 1981 e 2000 perguntou quais eram as suas 31 marcas preferidas. Nenhuma marca de automóvel ficou entre as top 10. Adicionalmente, afirma o artigo, 46% dos motoristas com idades entre 18 e 24 anos declararam que preferem acesso a Internet a ter um carro.

A Universidade de Michigan, em 2013, já havia feito um estudo, cujos resultados apontaram que 22% dos jovens adultos entre 18 e 39 anos preferiam se deslocar usando bicicletas ou caminhando, além de 17% que preferiam o transporte público.

Agora foi a vez da Espanha, onde a Direção Geral de Tráfego (DGT), responsável pelo trânsito no país, acaba de divulgar os resultados da Pesquisa de Opinião entre 2 mil jovens com idades entre 16 a 22 anos. Da amostra, apenas 36% dos jovens possuíam carteira de habilitação para dirigir enquanto que significativos 64% não possuíam. A porcentagem de jovens habilitados aumenta, como se poderia esperar, com a idade e chega até 59% entre os jovens de ambos os sexos entre 21 e 22 anos. Com 16 anos é possível se obter permissão para dirigir na Espanha.

A pesquisa também perguntou quais eram os meios de transportes mais utilizados pelos jovens. Cerca de 81% fazem viagens cotidianas a pé, seguidos de perto por 80% que usam o transporte coletivo (ônibus, metrô e trens), 39% viajam de automóvel como motorista, 23% com bicicleta, 21% de automóvel como passageiro, e apenas 7% usam motocicletas. Eles podem usar mais de um tipo de transporte em suas viagens. Fica claro que a maioria dos jovens espanhóis usa o transporte a pé ou o transporte público.

No Brasil, embora timidamente, esta tendência pode estar se concretizando. Em 2010, uma pesquisa envolvendo jovens de 18 a 24 anos foi realizada pela Agência Box 1824, sobre o “Qual o Sonho do Jovem Brasileiro para o Seu País”. Quando foi perguntado sobre o sonho individual, a opção ter um carro ou moto foi a escolha de apenas 3% dos entrevistados. Alguns anos antes o carro era o sonho de qualquer jovem.

Afirma Kleber Nogueira, na UOL, em seu artigo “Por que os jovens de hoje não querem mais carros”, que “A juventude de hoje não é mais assim. [os jovens] Estão interessados em outras coisas, alinhadas aos valores da sociedade de hoje. Como as cidades estão apinhadas de carros por todos os lados, como fruto de políticas públicas de transporte erradas, ter carro deixou de ser um prazer e virou um grande e caríssimo estorvo. Para quem duvida sobre o “caríssimo”, recomendo cotar o seguro de um carro para motorista de 18 ou 20 anos, por mais simples que seja o automóvel.”

Enfim, para quem achava que a paixão pelos carros se eternizaria, parece que estamos vivenciando o começo do fim de uma era onde o automóvel reina soberano. Mas, a sociedade está mudando. As pessoas, principalmente os jovens, parecem enxergar que o carro, que era o “mocinho”, agora se transformou em “vilão”.

 

*Prof. Dr. Archimedes Azevedo Raia Jr.
Engenheiro, mestre e doutor em transportes pela USP, professor e coordenador do Núcleo de Estudos em Trânsito, Transportes e Logística da UFSCar e coautor do livro “Segurança no Trânsito”, Ed. São Francisco. Diretor de Mobilidade da Assenag e membro do Conselho Diretor da ANTP. E-mail: raiajr@ufscar.br.

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