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O ato irresponsável de um motorista embriagado e inabilitado ao volante

por Milton Corrêa da Costa*

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Pânico, correria, 20 pessoas atropeladas e feridas (duas em estado grave), quatro delas arrastadas por cerca de 10 metros, presas à parte debaixo do veículo (o carro teve que ser virado para retirar as vítimas), desespero, indignação. Este foi o resultado de um grave acidente de trânsito, ocorrido em Tatuapé, na Zona Leste de São Paulo, no entorno de uma praça, em que um irresponsável motorista embriagado – apresentava notórios sinais de embriaguez – e sem possuir carteira de habilitação (havia bebida alcoólica no veículo) deu causa, na madrugada da última quinta-feira (05/07), quando cerca de cinco mil torcedores comemoravam o título do Corinthians na Copa Libertadores da América.
O atropelador, que confessou ter ingerido bebida alcoólica antes de dirigir -imaginem a quantidade que deve ter sido ingerida em algumas horas – alega que o acidente se deu em razão de que torcedores começaram a depredar o carro que conduzia (havia mais três amigos em seu interior) e para fugir acelerou atropelando os pedestres. “Estávamos no carro festejando, quando as pessoas foram para cima do carro, do nada. Se ele (o motorista) não arrancasse com o carro eles iam matar a gente. Ele acelerou sem pensar nas consequências para salvar a gente. Era muita gente, não tinha como desviar. Quando viu o carro da PM ele parou”, afirmou um dos ocupantes do veículo, ainda com a camisa do Corinthians, enquanto era aguardado para ser ouvido na delegacia. Já as testemunhas disseram à polícia que a confusão começou quando o carro acertou uma jovem que comemorava o título. “As testemunhas dizem que eles passavam pelo local e encostaram em uma garota, que teve algum ferimento leve. Estavam tentando acalmar a situação quando o motorista saiu acelerando e atingindo as pessoas”, afirmou o delegado.
Pelo sim e pelo não, o que chama a atenção em mais um episódio de violência no trânsito, é o fato de que se não estivesse conduzindo o veículo, sendo pessoa inabilitada e ainda por cima ter feito uso de bebida alcoólica na direção, obviamente que o grave acidente não teria acontecido. Ou seja, a imprudência e a irresponsabilidade do motorista atropelador, ao assumir a direção de um veículo sendo inabilitado e ainda e consumir bebida alcoólica, foram o fato gerador da grave ocorrência. O atropelador, que sofreu escoriações ao ser agredido por populares, preso em flagrante responderá agora por tentativa de homicídio, lesão corporal dolosa, falta de habilitação e se comprovada, no exame do IML, a considerável ingestão de bebida alcoólica (quantidade igual ou superior a seis dg de álcool por litro de sangue), também por crime embriaguez ao volante, previsto no Código de Trânsito Brasileiro. Não foi arbitrada fiança e o criminoso permanecerá preso.
Esta é, portanto, mais uma (quase tragédia) das muitas que ocorrem em rodovias e vias urbanas, na guerra sem fim do trânsito brasileiro, pela insensatez da direção inabilitada e pelo uso da bebida alcoólica ao volante. Apesar do advento da Lei Seca, em junho de 2008, e de toda ação fiscalizadora consequente, imprudentes motoristas continuam bebendo e dirigindo, matando, mutilando, morrendo ou resultando gravemente feridos em acidentes de trânsito. Em São Paulo, em 2010, um total de 810 motoristas foi preso em flagrante por direção alcoolizada. Em 2011, tal número subiu para 1824. Ou seja, a imprudência de homicidas em potencial do volante, como o atropelador de Tatuapé, é crescente. Note-se que estamos falando, por simples amostragem, tão somente dos que foram flagrados num determinado estado da federação, não do número real da imprudência de beber e dirigir em todo país.
A realidade é que a quase certeza da impunidade e as brechas da benevolente lei penal brasileira (vejam o caso do ex-jogador Edmundo) também concorrem para o cenário permanente de carros retorcidos, vítimas ensanguentadas, dor e sofrimento. Até hoje, o ex-deputado do Paraná Carli Filho, que em 2009, embriagado ao volante, com o direito de dirigir suspenso e conduzindo uma caminhonete a 167 km/h matou dois jovens, sendo indicado a júri popular, por duplo homicídio doloso, não foi julgado. Permanece livre, leve e solto enquanto familiares das vítimas sofrem a dor da falta de seus entes queridos. As perguntas que ficam são: Até quando a impunidade e as brechas da lei continuarão beneficiando assassinos do volante? Até quando inabilitados e alcoolizados do volante continuarão causando tragédias? Certamente até quando o rigor da lei e a certeza punitiva se constituírem uma realidade em território nacional.

 

*Milton Corrêa da Costa
Coronel da reserva da PM do Rio de Janeiro

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