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No Brasil, intermodalidade ainda é um desafio

Por Ildo Mário Szinvelksi*

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Na medida em que valores humanos são recuperados, a necessidade das pessoas buscarem no mundo externo representações de suas personalidades torna-se menos premente. No Brasil, vemos ainda dominante a noção de que o que me pertence me representa – portanto, um carro bonito, novo e potente projeta seu proprietário junto aos demais como alguém jovem, de boa aparência e igualmente potente, afirmando seu status em seu meio social e preenchendo seu ego com os suspiros da inveja alheia.

Essa é apenas uma dentre as muitas razões que tornam a realidade brasileira ainda distante daquela de muitos outros países, onde políticos, médicos, cientistas, músicos de orquestras sinfônicas, grandes empresários realizam seus deslocamentos diários alternando transporte público, bicicleta, carro e caminhada, ao sabor das  necessidades do momento, sem que isso arranhe minimamente sua autoestima ou a forma como eles são vistos pelas demais pessoas.

Dito isso, fica claro o quanto a intermodalidade – que nada mais é do que utilizar diferentes modais de transporte – está distante da vivência das nossas cidades. O transporte público, muitas vezes caro, insuficiente e desconfortável – é relegado a quem não tem condições financeiras de se propiciar um veículo automotor individual. A explosão do número de motocicletas se insere nessa lógica de coisificação do indivíduo, aliando à agilidade característica do veículo a economia que o torna acessível a muita gente e o status do proprietário que adquire um “bem” – ainda que muito mal advenha dessa escalada numérica, com crescimento proporcional na quantidade de mortos e sequelados.

O DetranRS encerrou sua participação na Semana Nacional de Trânsito com um Desafio Intermodal – atividade em que um grupo de pessoas desloca-se do ponto A ao ponto B utilizando diferentes modais de transporte. Mais uma vez, a bicicleta chegou na frente, para espanto de muitos. Surpresa que por si só já mostra que temos muito esclarecimento a levar ao público sobre as características de cada modal. Procuramos cumprir nosso papel informando, mas mais do que isso, estamos demonstrando que o meio de transporte escolhido nada tem a ver com o valor do ser humano que dele faz uso.

* Ildo Mário Szinvelksi é diretor-geral do DetranRS

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