Observar o ato de dirigir, o comportamento dos motoristas, hábitos e costumes no trânsito do dia a dia em outros países, pode se tornar uma experiência enriquecedora.
Particularmente nos EUA, cuja frota de 250 milhões de veículos – a maior do mundo – ultrapassa em 60 milhões a população brasileira. Depois de rodar 1.200 quilômetros em sete dias, no estado da Flórida, há nuances a comentar.
Entre Miami e Orlando, a maior rota turística e de compras dos brasileiros no exterior, as diferenças começam nas estradas, antes livres de pedágio. A exemplo da Europa, o esquema é mais inteligente: paga-se o que realmente se roda. Nos acessos, o motorista recebe um cartão de controle, permitindo cobrar a tarifa proporcional ou total. Em alguns locais da Europa, dizem, esses cartões também serviriam para controlar a velocidade média dos carros, mas nos EUA isso não existe.
A velocidade máxima permitida é de 70 milhas por hora (113km/h), mas apenas cerca de 20% do tráfego viaja nesse ritmo. Mais de 50% mantêm 80mph (129km/h). Outros 20%, 90mph (145km/h). Os 10% restantes vão tranquilamente a 100mph (160km/h). Não há radares à vista. A regra de ouro é seguir o fluxo. Se alguém viaja muito acima, a patrulha rodoviária pode surgir do nada… Carros lentos (poucos) rodam pela esquerda e, não raramente, são ultrapassados pela direita, manobra permitida nos EUA, mas que motoristas europeus abominam, além de proibida.
No perímetro urbano, há enorme respeito pelas faixas indicadas no chão para dobrar à direita ou à esquerda. Deve-se prestar atenção para evitar as buzinadas, se alguém fura ou sai da fila. Em Orlando, existem mais estradas do que ruas e avenidas. De tão largos, os cruzamentos chegam a ter uma fileira, em diagonal, de 12 ou mais semáforos, comandando conversões nos dois sentidos e quem deseja ir em frente.
Caminhos alternativos evitam congestionamentos nos deslocamentos aos parques temáticos e centros de compras. Nesse caso, só consultando os velhos mapas de papel ou reprogramando o navegador GPS para rotas curtas. Os chamados caminhos rápidos acabam se tornando lentos porque são os mais utilizados.
O hábito arraigado de falar ao celular não mudou. Quando tanto se usam recursos de vivavoz que vários fabricantes oferecem de série. O weblog americano Jalopnik divulgou, recentemente, pesquisas da Universidade de Chicago e da Escola de Economia de Londres que confrontaram estatísticas de acidentes, antes e depois do horário de pico (21h) das chamadas por celular. Muitos motoristas americanos aproveitam tarifas com descontos das companhias telefônicas no período. Em conclusão, não se registrou aumento de colisões. As observações dos responsáveis pelos estudos, Saurabh Bhargava e Vikram Pathania:
1) Motoristas tornam-se mais cautelosos falando ao telefone.
2) Quem demonstra inabilidade ao volante comete erros usando ou não o celular.
3) O telefone pode, de fato, distrair alguns motoristas, porém para outros o efeito é inverso, pois dirigem com mais atenção.
O número de mortos em acidentes, em proporção à frota, é 10 vezes maior no Brasil do que nos EUA. Algo está errado por aqui e, certamente, não é por falar ao celular…
*Fernando Calmon
Engenheiro e jornalista especializado desde 1967.
Originalmente publico no Correio Braziliense em 10/02/2011.
Nascemos do ideal por um transitar seguro e há três décadas nossos valores e pioneirismo nos permitem atuar no mercado de ITS atendendo demandas relativas à segurança viária, fiscalização eletrônica de trânsito, mobilidade urbana e gerenciamento de tráfego.