Professora e psicóloga especialista em trânsito analisam a realidade da proposta de incluir o tema trânsito nas disciplinas tradicionais do currículo brasileiro.
Tema ainda pouco familiar, a transversalidade da educação consta na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que data de 1996, mas que também encontra muitas barreiras na hora de virar prática. A ideia de inserir temas de abrangência geral como parte do trabalho entre professores e alunos passa por crivos, mas também apresenta questões que já vêm sendo trabalhadas pelas escolas, como ética, pluralidade cultural, meio ambiente, orientação sexual, saúde, e o trânsito.
“O ser humano precisa encontrar coerência entre o que está sendo falado e o mundo dele. Só assim, aprende com facilidade. A matéria de física, por exemplo, pode parecer chata. Mas, se a criança entende os conceitos relacionados ao trânsito é muito mais interessante. Um carrinho fazendo uma curva, desenvolvendo alta velocidade, tudo isso começa a fazer sentido se de alguma forma ele vivenciar essas situações”, explica a psicóloga especialista em trânsito, Rosely Fantoni.
Segundo Rosely, que é coordenadora do Núcleo de Educação para o Trânsito do Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG), o primeiro passo é o convencimento do multiplicador do conteúdo, o professor: “É preciso apresentar aos professores um conceito simples: trânsito não é sinônimo de carro, de saber dirigir. Quando eles entendem isso, fica mais fácil explicar que qualquer deslocamento consiste na ação de transitar. A partir do momento em que somos pedestres, estamos aptos a falar do trânsito. Não há uma fórmula pronta para ensinar; o professor percebe onde o tema trânsito se encaixa no dia a dia dos alunos e aplica na disciplina”, conduz a especialista.
Com larga experiência na produção de conteúdo de transversalidade na educação no trânsito, o DER-MG desenvolve um treinamento online para professores desde 2008. “O professor é orientado em como fazer essa transversalidade, que coloca esse conteúdo em prática de forma a focar em valores importantes, como o respeito às leis. A capacitação para o aluno não teria o mesmo efeito, porque a chance de voltar a falar com ele seria muito pequena. Já com o professor o contato é mais próximo”, analisa Rosely.
Além do suporte de órgãos responsáveis e empenho dos professores responsáveis, a inserção da educação no trânsito nas bases da educação também depende do envolvimento dos pais dos alunos. Em Cascavel, no Paraná, o colégio Marista está colhendo os frutos do projeto ‘Se essa rua fosse minha’. Coordenado pela professora Márcia Piovezani, a ação conta com o apoio da CETTRANS. “A escola recebe o material de apoio, que é amplamente difundido e trabalhado em sala de aula e com as famílias dos alunos. As crianças são as grandes disseminadoras da consciência de se respeitar as regras e trânsito junto às famílias. Quando as pessoas entendem o que está sendo exigido, compreendem a necessidade de proteger a vida e enxergam os mecanismos criados para tornar o trânsito seguro: tornam-se colaboradores”, comenta.
Márcia acredita que uma educação consistente e adequada resolveria a maioria dos problemas do trânsito brasileiro, ‘num efeito dominó positivo’. “A educação das crianças para o trânsito envolve também sua consciência dos deveres e direitos do pedestre. É o momento de instruí-los. Eles aprendem que o trânsito não é somente o motorista, o automóvel ou o acidente. Aprendem também que o Brasil é um país cujos cidadãos se locomovem utilizando canoas, bicicletas, jegues, ônibus, lotação, moto-táxi ou até mesmo helicópteros”, conta.
“Campanhas curtas não funcionam”
Para a coordenadora Psicopedagógica de Educação Infantil e Ensino fundamental I do Colégio Marista de Cascavel, campanhas curtas não funcionam ou funcionam mal. “Estudos demonstram que as campanhas pontuais de educação para o trânsito mais deseducam do que ensinam, pois passam a ideia errônea, subliminarmente, de que existem alguns períodos do ano nos quais se devem cumprir as regras de trânsito, tomar cuidado com os riscos ou se interessar pelo assunto, parecendo que a segurança no trânsito não precisa ser uma tarefa contínua. Programas de educação de longa duração, consistentes e com metodologia adequada, funcionam. É preciso continuidade, pois se trata de um assunto novo, sobre o qual o público alvo – crianças – muito pouco ou nada viu, ouviu ou leu. Educação para o trânsito, no Brasil, é muito recente e ainda tem muito a ser desenvolvido”, pondera.
Sobre a realidade da integração do tema trânsito definitivamente na educação de base, a professora demonstra uma visão timidamente otimista. “A transversalidade como conteúdo integrado às disciplinas tradicionais do currículo ainda encontra dificuldades de adaptação, talvez por resistência ou falta de compromisso das partes por ela responsável, mas é possível”, diz Márcia. Para ela, a escola por si só não muda a sociedade, mas “se partilhar a ideia de possibilitar aos indivíduos reflexão sobre suas relações e suas atuações na vida cotidiana da comunidade se fortalecerá e será vista não apenas como espaço de reprodução, mas como espaço de transformação para a construção de um mundo melhor, onde o respeito ao outro seja o norte para uma vida”, conclui.
A Perkons também acredita na transversalidade da educação no trânsito. Por isso, desenvolveu o site http://www.educacaoetransito.com.br/. Lá, são disponibilizados conteúdos de especialistas para o Brasil e outros países da Amélica Latina, onde desenvolve diversos projetos que trabalham com a educação no trânsito para crianças.
Nascemos do ideal por um transitar seguro e há três décadas nossos valores e pioneirismo nos permitem atuar no mercado de ITS atendendo demandas relativas à segurança viária, fiscalização eletrônica de trânsito, mobilidade urbana e gerenciamento de tráfego.