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Como medir resultados de programas de trânsito?

Cruzar dados, índices de acidentes e identificar as questões regionais são algumas das atividades que fazem parte do trabalho dos responsáveis por mapear que tipo de programa de trânsito dá resultado.

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Como mensurar o resultado de programas e campanhas para uma mobilidade mais segura? A tarefa é difícil, trabalhosa e conta com a descrença de muitos especialistas em trânsito. Talvez, esse último se dê porque toda vez que se aborda o assunto, a próxima informação a que comparamos esses dados é a crescente vertiginosa de acidentes e mortes no trânsito. O distanciamento dessas informações tão importantes para medirmos a assertividade da linguagem, formato e abordagem é apenas uma das barreiras à melhoria do comportamento dos motoristas e da redação dos acidentes e mortes.

Para o doutor em Marketing e especialista em trânsito Paulo Meira, a preocupação é pertinente. “A avaliação de campanhas de trânsito é uma das tarefas mais complexas para quem trabalha com marketing social voltado à segurança do trânsito. Por exemplo, se uma determinada campanha voltada à redução da acidentalidade tivesse mostrado uma redução no número de acidentes, essa seria a única medida de sucesso? E se o número de acidentes não tivesse diminuído, mas a quantidade de perda de vidas humanas de fato diminuísse? Ou que a gravidade ou tipo de acidentes mudasse? Ou se as pessoas conseguissem pelo menos se lembrar da mensagem da campanha? A campanha poderia ainda ser considerada um sucesso? Ou ainda levado em conta o crescimento da população ou frota? Essas questões levantam a problemática de que avaliação de desempenho de programas de marketing social voltados à segurança no trânsito não é algo óbvio, nem simples”, expõe.

Segundo Meira, melhor do que pensar em ferramentas, é fazer uma distinção entre categorias, variáveis e indicadores. “Deseja-se medir como categoria ou dimensão a segurança dos ciclistas em Curitiba. Como variáveis, pode-se eleger, por exemplo, acidentes com ciclistas reportados por agentes de trânsito e notícias de acidentes com ciclistas nos jornais paranaenses. Como indicador do primeiro, serão os relatórios dos agentes municipais de trânsito, ou ainda, formulários preenchidos em hospitais de pronto socorro e afins, e como indicador do segundo pode ser um trabalho de clipping diário que se fixe na quantidade de notícias, e contagem de centímetros colunas, ou posts, na mídia impressa e eletrônica diária”, exemplifica o doutor em Marketing. Ele coloca ainda que “o ideal será pensar a avaliação, ou mensuração, em três momentos. Um momento inicial, de avaliação de diagnóstico; um momento ao longo do trabalho, que se costuma chamar de avaliação formativa e que vai ajudando a corrigir os rumos durante a execução da campanha; por fim, uma avaliação final, denominada somativa, que é a dos resultados e consequências finais do trabalho empreendido”, define.

Crédito: Divulgação

Especialista em MKT diz que é importante levar em conta variáveis, não somente redução de índices

Uma boa avaliação poderia tentar verificar se campanha de segurança de trânsito atendeu aos objetivos. Entretanto, o planejamento deve levar em conta objetivos comportamentais, objetivos cognitivos e objetivos de crença, e na medida do possível os objetivos devem ter metas mensuráveis, para uma avaliação final dos resultados.

No Brasil, o Ministério da Saúde é órgão que capitaneia o principal projeto nesse sentido; o “Vida no Trânsito”, que é conhecido em âmbito internacional como RS10 (Road Safety in 10 countries). Trata-se de uma iniciativa global pela mobilidade mais segura, abraçada por 10 países. Iniciado em 2010, o Vida no Trânsito selecionou uma capital de cada uma das regiões para que fossem criados programas e projetos específicos para o trânsito de cada uma dessas localidades. São elas Curitiba (PR), Teresina (PI) Palmas (TO), Belo Horizonte (MG) e Campo Grande (MS).

Marta Silva, coordenadora da área de prevenção de violências do Ministério da Saúde, explica que a intervenção do projeto é bastante focada: “visamos trabalhar fatores de risco nos grupos mais vulneráveis, que são definidos localmente, a partir da análise de morbidade e mortalidade por acidentes de trânsito. A partir do cruzamento de dados, fazemos uma qualificação dessas informações. Na maioria dos casos, os grupos de maior vulnerabilidade são pedestres e motociclistas. E os fatores de risco mais incidentes são associação de álcool e direção e velocidade excessiva”, explica.

A partir disso, o Ministério da Saúde coordena o projeto e é acompanhado por uma comissão com integrantes do Ministério das Cidades, Ministério da Justiça, Ministério do Trabalho, Polícia Federal, entre outros órgãos. “Esse sistema confere decisões intersetoriais, que qualificam os dados como perfil das vítimas, principais pontos de acidentes no município, dias da semana e horários em que eles acontecem e etc. E assim são desenhados os programas. O essencial é a integração dos setores pela mobilidade segura. É necessário atuar em educação no trânsito, melhoria da infraestrutura e fiscalização. Sempre paralelo e integrado”. O Vida no Trânsito conta com incentivo da Fundação Bloomberg, parceria da OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) e da ONG GRSP (Global Road Safety Partnership – parceria global de segurança viária).

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Para a representante do Ministério da Saúde, a ação para ter efetividade, precisa ser intersetorial

Sobre a metodologia, Marta explica que, de dois em dois meses é realizada uma avaliação do número de óbitos e números de internados – dois indicadores para monitoramento – e cruzamos informações com boletins de ocorrência. “Ainda é muito cedo para medir os resultados desse projeto. Apesar disso, já notamos a redução da mortalidade. Avaliamos que, daqui a cinco anos, começaremos a colher os frutos do Vida no Trânsito. Afinal, o objetivo é trabalhar comportamento e infraestrutura, fatores que precisam de médio e longo prazo para modificação. Além disso, quando começamos a trabalhar os dados, notamos aumento das mortes de trânsito. Isso se deu porque reduzimos o número de mortes com causa indeterminada, dando prosseguimento ao plano de cruzar dados e qualificar informações”, pontua a especialista do Ministério da Saúde.

Mais informações sobre o projeto Vida no Trânsito
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Programa Vida no Transito: programa internacional está implantado em 100% das capitais brasileiras e visa resolver as questões locais do trânsito

O projeto está nas cinco cidades (Belo Horizonte, Campo Grande, Curitiba, Palmas e Teresina), mas por uma inciativa do Ministério da Saúde, foi publicada uma portaria em dezembro de 2011, repassando recursos financeiros para expansão do programa. Em 2011, 100% das capitais já estavam em fase de implantação. “Então, este ano é o de planejamento para essas outras cidades para capacitar os gestores que trabalham com o trânsito. Trabalhar dados e integrar as informações, identificar os fatores. São mais de doze milhões de reais de recursos repassados aos futuros projetos. As mortes no trânsito são as segundas maiores por causas externas, perdendo apenas para o homicídio. As principais vítimas são homens jovens, utilizando motocicleta. Nossa meta é reverter esses números”, diz Marta Silva, que complementa “Mais uma vez, é preciso a ação conjunta. Afinal, não é só a saúde que vai resolver o problema das mortes no trânsito. Precisamos de fiscalização e infraestrutura também buscando as soluções”.

Números do trânsito, segundo o Ministério da Saúde
Em 2010, foram 42.844 mortes no trânsito. Em acréscimo aos dados, o Ministério da Saúde notou aumento de acidentes em cidades de pequeno porte, por conta do aumento da motorização desses municípios, que, ao mesmo tempo enfrentam a falta de capacitação, precariedade do transporte coletivo – um verdadeiro efeito multicausal. Ainda nesse sentido, a motocicleta é a maior preocupação por conta da violência dos acidentes com este tipo de veículo.

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