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Cidades para as bicicletas

por Cristina Baddini*

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A frota brasileira de bicicletas é, atualmente, a quinta maior do mundo, estando atrás apenas da China, da Índia, dos EUA e da Alemanha.  No entanto, se observamos as cidades brasileiras veremos que ainda estamos longe de atribuir a importância e a prioridade necessárias aos ciclistas que têm, na bicicleta, o seu modo preferencial para os deslocamentos.
A maior prova de que esse direito não é respeitado aconteceu na última  sexta-feira, dia 25 com os ciclistas do movimento Massa Crítica em Porto Alegre. O condutor de um automóvel certamente não gostou de ver o trânsito atrapalhado por aquilo que eles provavelmente não considera um meio de transporte. O motorista usou o seu carro como arma.  Alguns ciclistas foram diretamente atingidos, outros se machucaram pela reação em cadeia quando uma bicicleta foi derrubando outra. No final 15 pessoas foram parar no Hospital de Pronto Socorro. Os homens fugiram logo depois do ocorrido. As imagens divulgadas foram muito chocantes.
Alguns meios de comunicação não classificaram o “acidente” como tentativa de homicídio.  Não há argumento que me convença do uso do termo “ACIDENTE”.  Não existe lógica que leve a ele. Não há qualquer questionamento possível que permita considerar o fato como ocasional.
É muito importante frisar que o atropelamento certamente foi intencional. O motorista, deliberadamente, decidiu acelerar e abrir caminho passando por cima dos ciclistas. Há muitos condutores que entendem que a bicicleta atrapalha o trânsito e, portanto ela não tem direito à cidade.

Decretada a prisão de atropelador de ciclistas
Centenas de ciclistas protestaram nas ruas de Porto Alegre contra o atropelamento coletivo. À noite, de acordo com o promotor Eugênio Amorim, a Justiça decretou a prisão de Ricardo Neis, 47 anos, e o delegado Gilberto Montenegro anunciou que vai indiciar o motorista por tentativa de homicídio duplamente qualificado (por motivo fútil e de maneira tal que impediu a defesa das vítimas). Ele teria agido com a intenção de matar ao avançar com seu carro sobre o grupo de ciclistas.
Sexta feira passada, 2 mil pessoas se reuniram no Largo Zumbi dos Palmares em Porto Alegre às 19h e partiram pela Rua José do Patrocínio, para refazer o trajeto da fatídica bicicletada.  Logo na saída da manifestação, o grupo começou a ganhar a adesão de simpatizantes, de outros ciclistas além dos moradores do bairro. Quando os manifestantes chegaram à esquina com a Rua Luiz Afonso, ponto onde ocorreu o atropelamento coletivo, o protesto atingiu um caráter simbólico. Centenas deles largaram as bicicletas e deitaram sobre o asfalto, em homenagem e solidariedade às vítimas do triste episódio.

É preciso remover mitos e preconceitos
Estima-se que no Brasil mais de 20 milhões de pessoas fazem uso da bicicleta pelo menos duas vezes por semana para se deslocarem ao trabalho. Este número representa apenas um terço da frota declarada pela Abra ciclo. Já com relação à frota de veículos, estima-se que circulem diariamente, 28 milhões de veículos com uma ocupação média de 1,3 passageiros por veículo. Temos, portanto cerca de 30 milhões de viajantes nos automóveis confrontados com 20 milhões de ciclistas. Basta avaliar e comparar o espaço que os automóveis ocupam nas cidades com o espaço utilizado pelos ciclistas. O grande problema é que a infraestrutura dirigida aos ciclistas não incentiva e não estimula nem mesmo os ciclistas tradicionais a fazerem uso da bicicleta com maior intensidade, muito menos conseguem atrair os usuários de outros modos de transporte. 
Para que ocorra uma mudança significativa na mobilidade por bicicleta em nosso país, seria necessário traçar metas ousadas para os próximos anos. Urge contribuir para recuperar a qualidade de vida no planeta.
Viaje de bicicleta e aprenda a respeitar a bicicleta no trânsito.

*Cristina Baddini
Consultora do Diário do Grande ABC, Diretora da ONG Rua Viva, Assessora do MDT. Contato: cristinabaddini@dgabc.com.br; blog: http://olhonotransito.blogspot.com/

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