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Cidades cada vez mais insustentáveis

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Nos últimos tempos, e a cada dia sempre mais, o cidadão comum vem ouvindo falar sobre o termo congestionamento, em várias cidades brasileiras. As rádios em geral e, principalmente, aquelas especializadas em trânsito, fornecem, em diversos momentos do dia, informações sobre os pontos de lentidão e congestionamento em São Paulo, bem como um índice diário, chamado “quilômetros de lentidão”. Mas, o que é realmente um congestionamento?

A conceituação de congestionamento ou engarrafamento está associada à capacidade de uma via e um nível de serviço. A capacidade da via pode ser representada pelo volume máximo de veículos que podem se deslocar em um segmento de uma via em um período de tempo, segundo determinadas condições de composição de volume de tráfego e ambientais. Já, o nível de serviço pode ser definido como sendo uma medida de qualidade do serviço para o usuário da via.

Os aspectos mais importantes a serem medidos em relação ao nível de serviço são: velocidade de deslocamento e densidade do tráfego, número de paradas, tempo de viagem, e os custos operacionais do veículo.

De uma maneira mais laica, pode-se definir o congestionamento (ou engarrafamento) como uma condição em que os veículos trafegam em baixas velocidades, com frequentes paradas, ou ficam parados em filas, que se constituem em vários (ou muitos) quilômetros em uma rodovia, pista, rua ou avenida, reduzindo o fluxo de deslocamento.

Esse fenômeno do trânsito, em geral, ocorre em horários de pico, pelo fato da demanda de veículos ultrapassar à capacidade da via, causando grandes problemas urbanos ou em rodovias, atrasos e consumo excessivo de combustível e danos ambientais. O congestionamento também pode ser causado por acidentes de trânsito ou veículos avariados nas vias.
Há décadas atrás, os congestionamentos eram verificados, principalmente, nos grandes centros urbanos, somente nos horários de pico. Mas, recentemente, este fenômeno se tornou corriqueiro e acontece de forma recorrente durante todo o dia.

A Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo, por exemplo, mede diariamente a lentidão do trânsito paulistano em 868 km (5,4%) dos 16 mil km de vias existentes em São Paulo cujos recordes vêm sendo batidos seguidamente.

O recorde de congestionamento registrado pela CET ocorreu no dia 1 de junho de 2012, uma sexta feira, às 19 horas, quando as filas na cidade atingiram 295 km, no período do pico do final da tarde e início de noite. Neste mesmo dia e horário, a empresa privada Maplink, que paralelamente também calcula os índices de congestionamento de trânsito e utiliza um método diferente do da CET, registrou que a capital teve, na verdade, 507 km. A MapLink faz um processo de rastreamento de 800 mil carros, equipados com GPS.

Esses impactos causados pelos congestionamentos vêm sendo levantados e quantificados em diversos trabalhos de pesquisa, com dados preocupantes. O estudo mais recente foi realizado pelo Prof. Marcos Cintra, da FGV, para a cidade de São Paulo. O estudo classificou os custos dos congestionamentos em dois tipos: i) tempo ocioso das pessoas no trânsito e ii) gastos pecuniários impostos à sociedade.

O primeiro tipo de custo é um conceito chamado em economês de “custo de oportunidade” e que leva em conta apenas os períodos críticos dos congestionamentos pela manhã e tarde/noite e o custo da hora de trabalho em São Paulo

O segundo, custo pecuniário, deriva de uma comparação entre o trânsito com fluidez e congestionado. Neste caso, considera-se os gastos referentes ao consumo de gasolina por parte dos automóveis e de óleo diesel pelos ônibus, o impacto dos poluentes na saúde das pessoas e o aumento no custo do transporte de carga.

Esses custos podem exceder a R$ 50 bilhões/ano. As perdas que, em 2008, estavam estimadas em R$ 33 bilhões, vinham dobrando a cada quatro anos, desde 2000.

Avalia ainda o estudo que os custos se mostram crescentes e promovem fortes impactos negativos na estrutura econômica da cidade e do país, na saúde dos moradores, nas finanças das pessoas e na qualidade de vida da população.

A frota de veículos na cidade de São Paulo chegou a 7,3 milhões em agosto de 2012. São quase 700 novos veículos por dia nas ruas. Para fugir dos congestionamentos e transporte coletivo de baixa qualidade, uma solução tem sido migrar para o transporte individual por motocicletas. Com isso, além dos impactos ao meio ambiente, as mortes no trânsito vêm se elevando de maneira assustadora.

Este quadro desalentador pode ser encontrado, claro que sem a gravidade maior verificada na capital paulista, nas cidades grandes e também em várias cidades médias.

Diante desse panorama desalentador, ainda assim, parece que o Poder Público ignora a tudo. A cidade de São Paulo, não podia parar, dizia um político há anos atrás, por outros motivos obviamente. Hoje, está quase que literalmente parada.
Ainda assim, renúncias fiscais, juros mais baixos e prazos a perder de vista no financiamento de veículos, principalmente automóveis e motocicletas, isenção de IPVA para veículos com mais de 20 anos, vistas grossas para veículos trafegando sem documentação e em condições precárias de manutenção, etc., favorecem o caos.

Os custos sociais são elevadíssimos! Ninguém faz nada! Prevalece o “não vi, não ouvi, não falei, não sei de nada”. Quanto mais crônica vai ficando a situação das cidades, mais caros e amargos serão os remédios. Pior de tudo é que os cidadãos não ficam indignados com o quadro e se mantém firme, colaborando para agravar a situação. Pobres de nossas cidades (e de seus habitantes)!

*Prof. Dr. Archimedes Azevedo Raia Jr.
Engenheiro, mestre e doutor em Engenharia de Trânsito e Transportes pela USP, professor, pesquisador, coordenador do Núcleo de Estudos sobre Trânsito, Transportes e Logística da UFSCar e coautor dos livros “Segurança no Trânsito”, Ed. São Francisco e “Segurança Viária”, Ed. Suprema. Diretor de Engenharia da Assenag-Associação de Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de Bauru. E-mail: raiajr@ufscar.br.

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