O sistema de trânsito, em geral, pode fazer crer que seja um ambiente tipicamente masculino, permeado por algumas mulheres. Parece consenso na sociedade de que os homens dirigem melhor do que as mulheres. Há até um slogan para este fato: “mulheres no trânsito, perigo constante”. Mas será que isto é lenda ou é real?
De acordo com um controverso estudo realizado por pesquisadores da Escola de Medicina e Saúde Pública John Hopkins, dos Estados Unidos, as mulheres são mais propensas a se envolverem em acidentes de carro do que os homens – apesar do fato de que os homens terem três vezes mais probabilidades morrerem quando eles provocam acidentes.
Conforme relatado na edição de junho 1998 da Revista Epidemiology, as mulheres americanas se envolveram, naquela época, em 5,7 acidentes por milhão de milhas dirigidas. Os homens, por outro lado, apenas 5,1 acidentes por milhão de milhas. Dado o fato de que os homens conduziam, na época, uma estimativa 74% mais milhas por ano do que as mulheres, o número é surpreendente, de fato.
Ainda nos Estados Unidos, dados mais recentes, através de um estudo divulgado pela Quality Planning, uma empresa de análise, que avalia as informações dos segurados para seguradoras de automóveis, as mulheres saíram melhor.
O estudo analisou os dados de diferentes tipos de infrações de trânsito e, em seguida, comparou quantas vezes os homens foram mais citados do que as mulheres. A conclusão foi de que os homens infringem mais as leis de trânsito e dirigem mais perigosamente do que as mulheres. Porque violam mais as leis destinadas a tornar as estradas mais seguras, os homens causam mais e mais graves acidentes e provocam danos mais elevados.
Os resultados ainda apontaram que os homens dirigem 3,4 vezes mais imprudentemente do que as mulheres; violam o uso de cintos de segurança 3,1 vezes mais; dirigem em excesso de velocidade 1,8 vezes mais; desobedecem os sinais “Dê a preferência”, “PARE” e semáforos 1,5 vezes mais. Isto ajuda a explicar por que os homens são mais perigosos.
No Brasil, uma pesquisa realizada pelo Departamento de Trânsito do Distrito Federal, em 2012, apontou que para cada grupo de 10 mil mulheres, apenas 1,31 teve registro em acidentes fatais, em 2011. Ainda, de acordo com o Detran-DF, em 2012, as mulheres representavam 37,3% dos habilitados e 6,5% dos condutores envolvidos em acidentes com mortes.
Apesar de representar uma pequena parcela de envolvimento em acidentes de trânsito com morte, ainda houve diminuição em 2012 (6,5%) com relação a 2011 (10,9%).
Em 2007, tinha-se 54 mulheres entre os 647 condutores envolvidos em acidentes fatais (8,3%), em 2012 este índice caiu para 6,5%, onde 38 mulheres estavam ao volante em acidentes fatais, dentre os 582 condutores envolvidos em acidentes com morte.
Estatísticas de acidentes de trânsito de Volta Redonda-RJ, no período de agosto de 2009 a fevereiro de 2012, apontavam que, do total de acidentes sem vítima neste período, 2.237 envolveram mulheres e 9.562 envolveram condutores masculinos.
Em São José dos Campos-SP, ainda que sejam 36% dos motoristas, em 2012, por exemplo, as mulheres se envolveram em apenas 15% dos acidentes registrados na cidade.
Segundo dados do Denatran, dos 45 milhões de motoristas no Brasil, quase 15 milhões são do sexo feminino e, 71% dos acidentes são provocados pelos homens e apenas 11% pelas mulheres, sem contar que 70% das multas são para motoristas do sexo masculino.
Dados do Ministério da Saúde apontam que o número de homens que morreram no trânsito, em 2010, é quase quatro vezes maior do que o de mulheres. Considerando os que perderam a vida no trânsito neste ano, 31.675 eram homens (78%) e 8.935 eram mulheres (22%).
O Censo do IBGE 2010 mostrou que a população brasileira é composta de 49% de homens e 51% de mulheres, ou seja, a proporção entre os sexos é muito próxima. No entanto, conforme dados estatísticos publicados pelo Seguro DPVAT, em 2012, do total das indenizações pagas, 23% foram para mulheres e 77% para homens. No caso de indenizações por morte, a diferença é ainda maior, com 82% de vítimas pertencentes ao sexo masculino.
É possível, também, constatar pelas estatísticas relacionadas ao condutor do veículo, que um menor risco está associado à mulher ao volante. Em 2012, apenas 13% das indenizações pagas foram para motoristas do sexo feminino, contra 45% para motoristas do sexo masculino.
Este melhor desempenho das mulheres na tarefa de conduzir veículos pode ser atribuído à cautela, a atenção, o maior respeito às leis e a prudência com que elas se comportam no trânsito. Outro fato que comprova o desempenho mais seguro das mulheres no trânsito é a diferença de preço de um seguro feito para homens de um feito para mulheres. O seguro para as mulheres pode ser de 20 a 25% mais baratos, dependendo da seguradora.
Enfim, de maneira geral, as mulheres efetivamente dirigem melhor do que os homens. E isto não significa que conhecem mais o veículo, ou a via do que os homens. Mas possuem um comportamento mais regrado, mais disciplinado, menos impetuoso, mais focado na sua tarefa de dirigir o veículo. Em função disso, várias mulheres têm sido contratadas por empresas de transportes de cargas, transporte de passageiros e até aviões. As empresas testemunham que efetivamente elas são mais cuidadosas, respeitadoras das regras e mais disciplinas.
Como a melhoria da segurança no trânsito é muito mais um aspecto de comportamento do que qualquer outro, se o trânsito fosse composto por maioria de mulheres, com certeza teríamos menos acidentes e uma quantidade bem inferior de mortes.
*Prof. Dr. Archimedes A. Raia Jr.
Engenheiro, mestre e doutor em Engenharia de Transportes, professor da UFSCar e Diretor de Engenharia da Assenag. Coautor dos livros Segurança no Trânsito (Ed. São Francisco, 2008) e Segurança Viária (Ed. Suprema, 2012). E-mail: raiajr@ufscar.br.
Nascemos do ideal por um transitar seguro e há três décadas nossos valores e pioneirismo nos permitem atuar no mercado de ITS atendendo demandas relativas à segurança viária, fiscalização eletrônica de trânsito, mobilidade urbana e gerenciamento de tráfego.