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“Acidente com árvore não é fatalidade, é crime”

Escolha de espécie e manutenção são atos que podem ter consequências graves quando não adequados. Conheça mais a opinião do arquiteto e urbanista Ricardo Mesquita, especialista em acessibilidade arquitetônica.

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Assunto pouco explorado pela imprensa – exceto em tragédias, as árvores são necessárias, mas requerem cuidados básicos para a prevenção de acidentes e melhoria da mobilidade de pedestres e cadeirantes. Para alertar sobre a importância do plantio arbóreo e as condições das calçadas para a segurança viária, a Perkons entrevistou o arquiteto e urbanista Ricardo Mesquita, especialista em acessibilidade arquitetônica, que explica mais sobre o tema. 

Perkons – Primeiramente um esclarecimento: a legislação sobre plantio de árvores é municipal, certo?

Ricardo Mesquita – Sim, sempre é. Mas acredito que deveria existir uma lei nacional, mas regionalizada, dando conta principalmente das dimensões. Por exemplo: se você prevê árvores de até 10 metros, qual a consequência lógica de ter árvores que chegam a 20 metros? Então essa lei deveria abordar isso e também questões de enraizamento, porque algumas naturalmente saem pela superfície. Lei nacional, mas regionalizada.

PK – Qual seu envolvimento com o tema?
RM – Estou cansado de ver danos em patrimônios e às pessoas porque insistem em plantar árvores enormes no meio da cidade. E outra, elas têm vida útil. Não tem lógica esperar até que caiam sozinhas. Não está havendo uma mobilização nacional. Por que tem que esperar morrer gente?

PK – No final de janeiro morreu mais uma pessoa por conta de uma árvore na calçada que caiu sobre um carro em Curitiba… Foi uma fatalidade?
RM – Não, alguém especificou o tipo de árvore. O técnico que especificou e o responsável técnico pela manutenção são responsáveis. É isso que eu brigo há anos. Nosso código de ética prevê a responsabilidade e o alerta sobre riscos. Então eu posso responsabilizar até criminalmente por dolo eventual. Só que hoje eles se escondem atrás de uma pessoa jurídica, o que é errado! Um remédio não traz o número do químico? Por que pra uma gestão pública não pode ter o nome e registro do técnico? Tem que ter um responsável físico.

PK – Quais os erros mais comuns vistos nas ruas?
RM – As árvores nas calçadas são questão de conhecimento e de norma, fazendo um paralelo com meu trabalho na acessibilidade, tem que ter boa vontade e bom senso. Acabei de passar pela Av. Kennedy e acabaram de plantar novas mudas sob a fiação. Tem lógica isso? É a própria tragédia anunciada. Aí fazem as podas de maneira errada, cortando “no meio”. A árvore não tem estrutura pra aguentar apenas um peso lateral, ela vai cair facilmente.

PK – De fato é um assunto muito importante. O que recomenda?
RM –
É preciso um programa de rearborização urbana e capacitação do pessoal responsável pelas podas. Tem que ser feito um trabalho emergencial. Seria muito aproveitável usar o mundo universitário e fazer um mutirão nacional, uma força-tarefa para avaliação das espécies, substituição, poda e retirada de espécies exóticas, especialmente as que não têm predadores naturais. Precisamos impedir que mais gente morra.
A natureza é nossa alidada, temos que saber como usá-la. Não podemos culpar as árvores. O homem tem que cuidar, é responsabilidade dele. A árvore não pode estar acima da vida humana. Você pode ter árvores monumentais, desde protegida a área em volta dela.

PK – Que outras dicas você dá para o plantio arbóreo e sua manutenção nas vias públicas?
RM –
Além disso tudo que conversamos, recomendo alguns cuidados que devem ser sempre considerados:

• Primeiro, avaliar o local. É próximo à calçada? Não pode ter raízes aflorando e tem que avaliar a questão da escala, ver a especificação técnica da árvore.
• Em locais com circulação de pedestres, evitar plantar e, quando existentes, substituir espécies que soltem frutos e flores “gordas”, que deixam escorregadio o piso e podem causar queda, principalmente em pessoas com mobilidade reduzida, usuárias de bengalas ou muletas e idosos.
• Substituir ou realizar escoramento preventivo em árvores que apresentem risco de queda.
• Substituir espécies que estejam com suas raízes destruindo calçadas ou, quando possível, deslocar as calçadas para fora da área de influência das raízes.
• Manter poda em árvores próximas a fios elétricos e semáforos, desobstruindo a visão. Substituir árvores de grande porte por árvores de pequeno porte, principalmente em locais onde existem postes com fiação aérea, evitando podas que acabam prejudicando a estabilidade e que podem causar tragédias quando caem.
• Implantar programa de retirada de erva-de-passarinho e outros parasitos que podem causar a morte de árvores implantadas em espaços de circulação de pedestres e veículos.
• Manter podados galhos pendentes a menos de 2 metros do piso, evitando acidentes, principalmente com deficientes visuais.
• Propor iluminação para calçadas, abaixo das copas das árvores.
• Retirar junto a passeios qualquer espécie vegetal com espinhos, urticantes ou venenosas.

Situações que oferecem riscos à vida
Confira alguns exemplos reunidos por Ricardo Mesquita dos impactos causados pela má escolha ou falta de manutenção na arborização urbana. 


Análise dos riscos de queda (equilíbrio, saúde, “vida útil”) ajuda a prevenir acidentes
como estes


O comportamento das raízes deve ser avaliado antes do plantio, para não comprometer
a acessibilidade nas calçadas.


Imagem mostra a dificuldade de visualização do semáforo, comprometendo a segurança
viária.


Poda no meio da árvore compromete a estabilidade dela.


Árvores podres precisam ser substituídas


A mangueira plantada na calçada apresenta três riscos: ela ultrapassa a altura da rede
elétrica e seus frutos podem cair sobre as pessoas ou deixar o piso escorregadio e
perigoso.

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