Às vésperas de grandes eventos esportivos, especialistas apontam os avanços do Brasil em acessibilidade e o que ainda pode ser melhorado
Nos anos recentes, o Brasil conseguiu vitórias significativas: sua importância no cenário mundial cresceu bastante quando, além de conseguir controlar a crise econômica de 2008, foi escolhido como sede dos maiores eventos esportivos do planeta: a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas e Paraolimpíadas de 2016. Este último evento é, por natureza, vinculado à acessibilidade. Mas será que o Brasil está preparado, não só para receber um sem-número de visitantes estrangeiros em todas as condições de mobilidade, mas também para atender sua própria população?
Para Eduardo Daros, presidente da Associação Brasileira de Pedestres (Abraspe), este preparo ainda não existe e mudanças na infraestrutura não bastarão, pois há questões culturais envolvidas. Ele cita como exemplo que se o pedestre quiser fazer valer seu direito de preferência em uma travessia, garantido pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB), ele corre sérios riscos de ser atropelado. Outro problema citado por Daros é o das calçadas, que – segundo ele – tem “espaços insuficientes e estrangulados em muitos pontos”, além de serem sujas e “cheias de buracos”. “Uma pesquisa feita em São Paulo demonstrou que, a cada mil habitantes, nove sofrem quedas anualmente em nossas calçadas com ferimentos, causando até internações e afastamento de atividades básicas”, comenta ele e lembra que não é um “privilégio” apenas da capital paulista.
Para Renato Maia Wolochate, autor do livro
“Não ando mas rodo”, o Brasil deu um grande
salto nos últimos anos no debate sobre a
Acessibilidade.
(Crédito: arquivo pessoal)
Já o engenheiro mecânico Renato Wolochate, autor do livro “Não ando mas rodo” – referência à cadeira de rodas que usa desde que sofreu um acidente de trabalho, afirma que, principalmente no Sul e no Sudeste, o Brasil está bem no quesito acessibilidade, mas há o que melhorar. “Em primeiro lugar, uma política de educação e respeito aos deficientes, incluindo locais de fácil acesso até para eventos com grande movimentação, de preferência com policiais dando as devidas instruções e imposições”, cita Wolochate. Para ele, apesar de ainda faltar várias medidas, o País deu um grande salto nos últimos anos. “As políticas de acessibilidade estão sendo muito discutidas em todos os níveis de nossa sociedade”, analisa.
Um exemplo para o Brasil
A grande dúvida é: será que só quando recebermos grandes eventos é que teremos iniciativas para melhorar acessos a pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida? Parece que o município de Socorro – a 132 km de São Paulo – não se importa em não receber a Copa do Mundo. A pequena cidade turística está ensinando as grandes: já foram investidos R$ 2,7 milhões em acessibilidade. “Hoje, a cidade recebe diversas visitas técnicas com o intuito de replicar nossas experiências em vários locais do Brasil, sendo também utilizada como exemplo às subsedes da Copa-2014 e à sede das Olimpíadas e Paraolimpíadas de 2016”, afirma o diretor de Turismo, Carlos Tavares. Ele conta que Socorro estará no guia aos turistas estrangeiros sobre a acessibilidade das 12 capitais que sediarão a Copa, mesmo não sediando o evento.
Tirolesa do Panico: Socorro (SP) adaptou não só a cidade, mas também os aparelhos de
turismo de aventura oferecidos no município
Horto Municipal, ponto turístico de Socorro (SP) tem os nomes das plantas em braille para
os cegos (Crédito: Divulgação / Prefeitura)
Este reconhecimento não é à toa. O Ministério do Turismo colocou o município entre os dez Destinos Referência em Segmentos Turísticos e apontou Socorro como cidade-modelo em acessibilidade ao turista no País. “Estamos preparando a cidade para que todos se sintam bem nela”, afirma Tavares.
O município, no entanto, não investiu apenas na recepção de turistas, com adaptações em aparelhos de turismo de aventura e outros. Foram adequados também logradouros públicos, com adaptação de calçadas, rebaixamento de guias, piso tátil, semáforo sonoro, entre outros. Além disso, foi criado um jardim sensorial e foram adaptadas entradas de lojas, da Prefeitura, da igreja matriz e até um playground infantil adaptado foi construído, sem contar restaurantes e dois hotéis certificados pela ABNT em Acessibilidade. Mas de nada adiantaria uma infraestrutura dessas sem pessoal preparado. Por isso, o município investiu na capacitação de mais de 250 pessoas, envolvidas direta e indiretamente no atendimento turístico.
Além disso, a Prefeitura planeja adaptar e sinalizar ainda mais pontos da cidade, para atender turistas e moradores. Para Tavares, além de essas medidas serem inclusivas socialmente, elas são também rentáveis. “Descobrimos que, além de fazer justiça social, ainda dá para gerar emprego e renda para nossa comunidade; só para se ter uma ideia, a geração de emprego em restaurantes e hotéis em Socorro, desde 2005, tem crescido a uma média 16,5% ao ano, e o número de turistas cresce 15% por ano”, aponta.
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