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A pluralidade da matriz de transportes

por Archimedes Azevedo Raia Jr.*

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Particularmente, no Brasil, as pessoas possuem uma visão ainda muito estreita a respeito da mobilidade, quer seja de pessoas quer seja de mercadorias. Este fato, evidentemente, carrega consigo uma visão deturpada da matriz de transportes brasileira, produzida pelos interesses de grandes grupos econômicos.
Os países mais desenvolvidos, via de regra, possuem matrizes de transportes mais equilibradas e perfeitamente fundamentadas em suas potencialidades econômicas, geográficas, humanas e culturais, fruto de uma visão mais moderna, equilibrada, racional e sustentável.
No transporte de mercadorias, no Brasil, prevalece o modal rodoviário, com cerca de 58%. A fatia do transporte ferroviário é de aproximadamente de 28%; se descontar o transporte de minérios, essa fatia cai para apenas 12%. O transporte aquaviário contribui com apenas 13%.
Há, segundo o Plano Nacional de Logística e Transporte, uma expectativa que esses números sejam modificados, até 2025, passando a matriz a ter a seguinte composição: rodoviário (33%), ferroviário (32%), aquaviário (29%), dutoviário (5%) e aeroviário (1%). Este quadro, se atingido, poderá ser motivo de muitos augúrios.
No entanto, pela andar da carruagem, parece pouco provável que isto aconteça, a menos que muitos paradigmas sejam quebrados.
Do ponto de vista do transporte urbano de pessoas, a situação também não é boa. Segundo dados de 2010 da Associação Nacional de Transportes Públicos, os deslocamentos urbanos são realizados pelos seguintes modos: transporte coletivo (29%), a pé (37%), bicicleta (4%) e moto e auto (30%).
Há que se registrar que o crescimento do transporte motorizado individual vem sendo significativo. Isto vai na contra mão da tendência de países desenvolvidos, que têm procurado incentivar o transporte coletivo e não motorizado.
Para citar um exemplo, toma-se a tradicional e aristocrática França. Quando, em 2007, o prefeito B. Delanoë, de Paris, tornou pública a criação do sistema Vélib’ de bicicletas públicas, com o objetivo de se reduzir o tráfego de automóveis, foi motivo de chacota. Passados cinco anos de sua implantação o sistema Vélib’ registrou-se que, no período, 138 milhões de pessoas utilizaram as 23 mil bicicletas. O mais espetacular é que, no período, apenas seis pessoas perderam a vida em acidentes que envolveram as bicicletas de aluguel. O sistema de Paris foi seguido por outras trinta e quatro cidades francesas. No exterior, várias cidades seguiram o exemplo de Paris: Melbourne, São Francisco, etc.
A extensão de sistemas cicloviários em grandes cidades no mundo deixa clara a potencialidade do modo bicicleta: Berlim (750 km), Nova York (670), Amsterdã (400), Paris (395), Bogotá (400), Copenhague (350), Rio de Janeiro (240) e Curitiba (120).
Ao contrário disto tudo, no Brasil, a frota de automóveis cresceu 120% nos últimos dez anos e a de motocicletas cresceu 93%, desde 1991, com incentivos explícitos do Governo Federal. Como consequência, dentre outros impactos ambientais, o número de mortes em acidentes com motocicletas disparou. Segundo dados do SIM/SVS/MS, em 1996, o número de mortes de motociclistas foi de 1.421; em 2010, esta cifra atingiu 13.452, representando uma variação de quase 850%.
Neste mesmo período, as mortes de pedestres retrocederam 52%; as de usuários de automóveis cresceram 59%, e transporte coletivo se elevaram em 47%.
Enfim, a busca de uma matriz equilibrada de transportes de pessoas e mercadorias não é só imprescindível para o crescimento sustentável de uma nação, é questão de preservação do ser humano, que é a razão de ser do planeta.


*Prof. Dr. Archimedes Azevedo Raia Jr.

Engenheiro, mestre e doutor em engenharia de transportes pela USP, professor e coordenador do Núcleo de Estudos em Engenharia e Segurança de Tráfego Sustentável da UFSCar e coautor do livro “Segurança no Trânsito”, Ed. São Francisco. Diretor de Engenharia da Assenag-Associação de Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de Bauru. E-mail: raiajr@ufscar.br.

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