NOTÍCIAS

Veículo e motorista: o antigo e o moderno

Por Dr. Dirceu Rodrigues Alves*

Publicado em

Estimamos que 95% dos motoristas não leem o manual do veículo. Quando muito, dão uma espiadela básica, sem profundidade. Será que não é uma necessidade básica quando se adquire um veículo, conhecê-lo com profundidade, ter prévio treinamento? A lei exige treinamento para um operador de máquina fixa e não se porta da mesma forma para a móvel, que transita entre outras máquinas, conduz passageiro, se desloca entre pedestres, onde há grande probabilidade de dano físico e material. Precisamos manter a melhora tecnológica que estamos a assistir por parte das montadoras, mas precisamos também de melhora no desempenho de nossos condutores e pedestres para termos um transitar seguro.

Ao comprar um veículo saio da concessionária desconhecendo tudo, sem orientação objetiva. O que se ouve são vantagens e benefícios que aquele veículo pode proporcionar. Ao deixar a loja mexo estritamente naquilo que conheço do veículo anterior. Esse veículo era um fusca e o que estou adquirindo é um de quatro portas, direção hidráulica, freios ABS, porte maior, sensores com vídeo, computador de bordo, muitos acessórios e tecnologia. É um carro de luxo.

Tudo é desconhecido, iluminação, segurança das portas, câmbio automático, como fixar dispositivo de segurança para crianças, dimensão do veículo, acessórios, manutenção, tipo de combustível, posicionamento de banco, uso do freio de estacionamento no pé e vai por aí.

Montadora e concessionária preocupadas com a comercialização, mas não com orientação, treinamento e segurança do seu cliente, permitindo que deixe a concessionária sem saber usar o câmbio automático, frear o veículo, ligar as lanternas, operar o computador de bordo e tudo que compõe o veículo.

A evolução tecnológica trouxe muitos benefícios para o veículo nacional. Hoje eles são mais sofisticados e mudam a cada ano, no entanto, essas modificações não são passadas e treinadas antes do cliente deixar o local da compra.

Entender o funcionamento do veículo, as forças físicas atuantes, a educação preventiva, defensiva, as situações de risco, as condições meteorológicas e adversidades, a atividade diurna e noturna, a via urbana e estrada são algumas das necessidades básicas para a concessão da Carteira Nacional de Habilitação. Não se pode esquecer que, como toda atividade, é necessária a educação continuada, correção dos vícios adquiridos, atualização com relação à legislação, a sinalização e outros. Situações de risco precisam ser vivenciadas, colocadas na prática tanto no treinamento inicial como na educação continuada.

Veja que até a legislação, desconhecendo as leis da física, permite situações extremamente perigosas e parece não preocupar-se com condições de trabalho, de transporte de usuários e até com a concessão da Carteira Nacional de Habilitação.

Se dentro de uma fábrica, com máquinas fixas, a legislação e as normas regulamentadoras do trabalho determinam que se zele pela segurança do operador, seja fornecido equipamento de segurança, haja treinamento frequente e ainda se agregue à máquina sensores para desligá-la em situação de risco, porque não darmos a mesma atenção ao operador de máquina sobre rodas? Esta é a mais perigosa, transporta e circula entre pessoas.

As montadoras ou concessionárias deveriam atuar com profundidade nessa área contribuindo para melhor segurança.

Espera-se sempre maior treinamento para as situações de risco, em atividade diurna, noturna, com chuva, neblina, e outras condições anormais, na via urbana e na rodovia. Ter pleno conhecimento da utilização do freio comum e ABS e estar conectado permanentemente à direção preventiva e defensiva.

É necessário ampliarmos conhecimentos sobre os riscos inerentes à atividade sobre rodas. O recebimento hoje da Carteira Nacional de Habilitação não significa que estamos habilitados para a atividade veicular. Este documento nos “libera” para o treinamento e aprendizagem individual, independente de acompanhamento e orientação, o que é absurdo. É, infelizmente, nessas circunstâncias que vamos enfrentar as situações de risco, com total desconhecimento. Daí surge à maior parcela das nossas estatísticas de acidentes de trânsito.

Por ter aprendido a fazer o carro andar, recebemos a CNH. Não tenho dúvida que a necessidade de simuladores com programas específicos para cada tipo de veículo é o mínimo que as concessionárias poderiam oferecer àquele que busca um veículo diferente daquele que tinha.

As montadoras e concessionárias conhecendo o ensinamento ineficiente por parte dos cursos de formação de condutores, colaboram para que o nosso condutor evolua para os acidentes com incapacidades temporárias, definitivas e óbitos. Crescem nossas estatísticas nos levando a lutar pela preservação da vida.

As montadoras e concessionárias não podem entregar um instrumento de alto risco, que vem preocupando a classe médica que recebe pessoas que estavam saudáveis e repentinamente viram doentes graves, muitos já chegando ao óbito, sem uma orientação e conhecimento fundamentado através de aulas, treinamentos e utilização de simuladores para utilização da máquina.

 

*Dr. Dirceu Rodrigues Alves Júnior
Diretor de Comunicação e Chefe do Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional da ABRAMET
Associação Brasileira de Medicina de Tráfego
www.abramet.org.br
dirceu.rodrigues5@terra.com.br
dirceurodrigues@abramet.org.br
COMPARTILHAR

Veja

também

Vias públicas com foco na segurança dos pedestres ajuda a salvar vidas

Semana Nacional de Trânsito reforça que cada escolha é decisiva para salvar vidas

Com o aumento do uso das bikes no país, saber compartilhar as ruas salva vidas

Pioneira, lombada eletrônica ajudou a salvar mais de 85 mil vidas no trânsito

Está em vigor nova regulamentação sobre exame toxicológico para motoristas profissionais

Perkons recebe visita de Câmaras Temáticas do CONTRAN

Perkons completa 32 anos e celebra mais de 85 mil vidas salvas

Tecnologia semelhante à da aviação é usada para dar mais segurança no trânsito

Brasil na liderança com os pets, mas muitos tutores ainda desconhecem as normas de transporte

Maio Amarelo reforça preocupação com conscientização e segurança dos motociclistas

Nascemos do ideal por um transitar seguro e há três décadas nossos valores e pioneirismo nos permitem atuar no mercado de ITS atendendo demandas relativas à segurança viária, fiscalização eletrônica de trânsito, mobilidade urbana e gerenciamento de tráfego.