NOTÍCIAS

Vale a pena arriscar?

No trânsito, os riscos assumidos colocam em jogo a vida, além dos bens materiais. Entenda a Teoria do Risco Assumido e a visão de especialistas em distintas áreas do conhecimento sobre o assunto.

Publicado em
arq1ygb2ym1l7g2yf5om

Assumir um risco compensa? E quando o risco assumido pode implicar em um acidente de trânsito com mortes, sequelas e traumas? É possível, de fato, avaliar se sairá ileso ao aumentar a velocidade acima do permitido, beber e dirigir ou ultrapassar um sinal vermelho? Baseada no comportamento humano nasceu a Teoria do Risco Assumido, desenvolvida pelo professor Gerald J.S. Wilde, da Queen’s University, no Canadá. Ele é autor da obra “Target Risk”, que explica como as pessoas avaliam o potencial de risco e por que os assumem.

Segundo Wilde, em qualquer atividade as pessoas aceitam certo nível de risco subjetivamente estimado para sua saúde, sua segurança e para outras coisas a que dão valor, em troca de benefícios que esperam receber. Pela teoria do autor, se o nível do risco subjetivamente experimentado é mais baixo do que o aceitável, as pessoas tendem a se engajar em ações que aumentam sua exposição ao risco e vice-versa.

 


A obra Target Risk, do professor canadense Gerald Wilde, contempla o comportamento de risco também no trânsito.

O Tenente Coronel da Polícia Militar de Pernambuco, Israel de Moura, pondera que “qualquer um sabe que pode ter um acidente [de trânsito], por causa de seu próprio comportamento, ou de outros usuários da via, que não pode ser previsto e muito menos controlado. O nível aceito de risco no trânsito é subjetivo, do qual se acredita que a diferença entre benefícios e custos é máxima.” E complementa: “pode haver casos em que o risco é deliberadamente almejado, mas a maioria dos riscos em que as pessoas incorrem são bem mais passivamente aceitos como uma inevitável consequência de sua escolha”, afirma.

Avaliar a autoconfiança como maior do que a realidade, para a psicóloga e doutoranda pela Universidade de Brasília Ingrid Luiza Neto, tem grande influência nesse comportamento de risco no trânsito. A especialista desenvolveu o tema em sua tese de pós-graduação, intitulada ”Justificativas de motoristas para infrações de trânsito”. Em uma pesquisa extensa de campo, pude levantar que o motorista tende a assumir riscos e agir de forma equivocada perante a lei por alguns motivos principais o que, na Psicologia, chamamos de comportamento planejado. E a questão central desse comportamento é a presunção de controle. Se ele acredita que está no controle da situação, tende a assumir riscos mais ousados”, explica. “Além disso, se há a percepção de que não haverá punição, incorre-se em riscos graves, como ingerir bebida alcoólica e dirigir – um caso em que, sabidamente, podemos perder o controle”, avalia.

“É preciso entender que, no trânsito, não temos esse controle porque dependemos do outros. O trânsito é de convivência social e já de antemão não podemos controla-lo ou assumir riscos que implicam em prejudicar os outros. Como as pessoas justificam esse comportamento? O infrator tira de si o peso de cometer o delito e reconstrói a ação. O brasileiro faz muito o uso do ‘inho’. Estacionei em local proibido só por um minutinho, furei só um sinalzinho – é o tal do jeitinho brasileiro”, justifica Ingrid Luiza Neto.

Variáveis ao assumir riscos

Na opinião do policial militar pernambucano, também especialista em trânsito pelo  Detran-PE e em Políticas Públicas de Segurança pela Secretaria Nacional de Segurança Pública, o nível de risco de acidentes de tráfego é percebido como variável de três matrizes: a experiência passada da pessoa com o trânsito; a avaliação sobre o potencial de acidentes na situação imediata; e o grau de confiança que ela tem na capacidade de tomar a decisão necessária e na habilidade de manobrar o veículo para enfrentar a situação. “Em qualquer momento do tempo em que a taxa de acidentes do passado é mais baixa do que o nível de risco que as pessoas estão querendo aceitar, os usuários da via adotarão em seguida uma maneira mais arriscada e/ou quantidade mais arriscada de mobilidade”, diz Moura em referencia a obra de Wilde. 
Ingrid Neto coloca ainda outra variável importante. “Precisamos considerar também a norma subjetiva, que é o ‘se todos fazem, eu também vou fazer’ – a pressão social, o comportamento baseado no do grupo, o que acaba exercendo bastante influência em jovens, que estão começando a participar como motoristas”, diz.

Jovens


“Jovens potros saem a galope”, destaca o Tenente Coronel Moura, ao explicar que é esperado que os jovens sejam corajosos e inclinados a aventuras e, por isso, arriscam mais.

O livro tema desta matéria coloca os jovens em perspectiva de forma bastante interessante. “Há forças poderosas agindo que compelem os motoristas inexperientes a dirigir com uma determinada velocidade e numa distância determinada de seguimento, e a fazer outras coisas semelhantes ao que a maioria experiente faz. Para adquirir experiên¬cia, eles têm que dirigir acima de seu próprio nível de competência e conforto, e é por isso que experimentam mais risco quando dirigem. Sua elevada experiência de risco corresponde ao risco aumentado que enfrentam”, opina Israel de Moura.

“Não é a toa que alguns países não permitem que os ‘novatos’ dirijam em rodovias. Creio que durante o período de ‘permissão para dirigir’ (o primeiro ano de habilitação) também não deveria ser permitida a condução de veículos em rodovias no Brasil, e seria interessante identificar os veículos dos condutores em experiência da mesma foram que ocorre com os de autoescola.”, argumenta.

E procede. “Pessoas jovens têm maiores escores em procura de sensação, e sabemos que tais escores estão associa¬dos com a tendência de ver um baixo risco em atividades arriscadas”, diz. “Além disso, é menos provável que sejam casados e tenham filhos e, por serem jovens, têm menos a perder em tomar riscos. Estes são fatores que supostamente podem ter um efeito de aumento sobre o nível de risco que querem aceitar. Ao mesmo tempo, têm mais a ganhar pelo comportamento de risco. Por exemplo, mostrando bravuras podem ganhar prestígio entre seus companheiros. A cultura geral espera que sejam corajosos e inclinados a aventuras: jovens potros saem a galope”, exemplifica Moura.

COMPARTILHAR

Veja

também

Como as cidades inteligentes apostam na tecnologia para uma gestão urbana mais eficiente

Lombada eletrônica completa 32 anos ajudando a salvar vidas 

Perkons celebra 33 anos de inovação e segurança no trânsito

Perkons Connect entra para o calendário nacional e passará por todas as regiões do país

Inovação e Gestão Urbana: temas centrais do Perkons Connect

Segurança no trânsito em foco no Perkons Connect

Primeira edição do Perkons Connect será em São José do Rio Preto

Relatório de Transparência Salarial

Visão Zero é capaz de transformar a mobilidade urbana no Brasil

Maio Amarelo 2024: Paz no trânsito começa por você

Nascemos do ideal por um transitar seguro e há três décadas nossos valores e pioneirismo nos permitem atuar no mercado de ITS atendendo demandas relativas à segurança viária, fiscalização eletrônica de trânsito, mobilidade urbana e gerenciamento de tráfego.