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Unificar a cidade

por André Caon Lima*

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Caminhar é uma das tarefas inerentes à condição humana. Mas algumas situações desmotivam as pessoas a andar a pé. Algumas destas situações são inerentes à natureza do caminhar, mas outras são muito mais ligadas à organização de nossa sociedade e a políticas públicas. No caso das situações inerentes à natureza do caminhar, pode-se citar a exposição a intempéries e a dependência de boas condições físicas do caminhante, especialmente quando as distâncias forem maiores.

A Sociedad Peatonal tem agido mais no caso das situações ligadas a políticas públicas. Assim, o que pudemos perceber é que há alguns elementos de desmotivam o caminhar. O primeiro deles está relacionado à própria existência do carro. O conforto e a segurança são muito maiores mesmo para pequenas distâncias, já que as políticas urbanas são eminentemente voltadas para o carro.

Mas se o carro não é a opção mais sustentável, por que o usamos e o colocamos em primeiro plano no urbanismo? Aí teríamos que avaliar questões de classe social: se de fato há um enorme contingente de pessoas se deslocando de carro, há um contingente maior ainda se deslocando sem o mesmo, não por opção, mas por necessidade e incapacidade financeira. Por outro lado, o transporte coletivo, após vários anos de uma bela propaganda estética, muito maior que produto, está claramente falido: falta segurança, agilidade e conforto enquanto a organização cartelizada dos concessionários também coloca o sistema sob suspeição.

Esta questão das classes sociais é mais importante do que imaginamos, pois sua lógica só se sustenta pela construção de várias cidades dentro da mesma cidade. Assim, há uma cidade com espaços específicos para quem se desloca a pé, outra para quem se desloca de carro popular, outra para quem se desloca de SUV e outra para quem se desloca de helicóptero (realidade já corriqueira em São Paulo). Os cidadãos de classes diferentes não devem se cruzar fisicamente, devido às tensões que podem surgir em virtude disso. No espaço geográfico da cidade, reproduzimos a lógica geopolítica da sustentabilidade: assim como o planeta não aguentaria se todos os cidadãos consumissem como um norte americano ou europeu, a cidade também não se sustentaria se todos se deslocassem de forma motorizada.

Teríamos que desenvolver meios de transformar as múltiplas cidades dentro da cidade em uma só. A proposta é ousada por que não se restringe a soluções técnicas, mas também a uma luta política, como a feita por movimentos sociais, como o MPL de Curitiba. No caso específico deste movimento com o qual inclusive já desenvolvemos algumas parcerias e ações conjuntas, a proposta está relacionada ao desenvolvimento de um projeto de Tarifa Zero construído pela população. Acreditamos que há também outras possibilidades, como repensar a organização espacial da cidade. Atualmente, a política das múltiplas cidades tem criado grandes polos de geração de tráfego, tais como os shoppings centers, universidades, escolas etc.

Assim, para além de um transporte coletivo verdadeiramente público, que ajudaria muito na construção de uma cidade para pedestres, teríamos que repensar mecanismos onde possamos aproximar fisicamente as diferentes classes sociais, de forma que ousemos imaginar numa realidade futura, uma trabalhadora doméstica vizinhando com sua patroa, diminuindo assim as distâncias do deslocamento pendular.

André Caon Lima*
presidente da Sociedad Peatonal

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