Ouve-se na mídia, nas ruas, nos bares, nos clubes, nas baladas, nos enterros: “Esta senhora foi vítima de acidente de trânsito. Ela foi atropelada por um ônibus. Também, ela atravessou a rua fora da faixa!”
E tudo é esquecido. No Brasil os ônibus, os carros, as motos continuam diariamente atropelando crianças, idosos, grávidas etc. e nada é feito.
Por que?
Na mídia os comentadores só dão a notícia: “Mais um acidente hoje. Morreu atropelado.” Pronto e só isto. Não comentam. Não perguntam o por que. Não clamam por justiça.
E por que?
Porque os carros e seus similares são parte de nossa cultura importada.
Porque os comentadores da mídia não andam à pé.
Porque os planejadores da cidade não andam a pé.
Porque o prefeito da cidade não anda a pé.
Porque os que formam opinião não andam a pé.
Porque o carro é símbolo de ‘status´ social;
Porque quem é atropelado é pobre. Ser Pobre – um grande preconceito de qual ninguém fala sobre.
Porque atropelar e matar é acidente. Acidente, acidental pode acontecer, é aceito. A Wikipedia define: “Um acidente é um evento inesperado e quase sempre indesejável que causa danos pessoais, materiais, danos financeiros e que ocorre de modo não intencional.”
Mas dirigir em alta velocidade, culpar o pedestre por que atravessa a rua fora da faixa, dirigir agressivamente, egoisticamente, arrogantemente … são causas de acidentes e são culturalmente aceitos e esquecidos.
E o brasileirinho analfabeto?
E o pedestre que veio de uma pequena vila do interior e não sabe ler, escrever, não entende a dinâmica do tráfego e não recebeu a Carteira Nacional de Habilitação para Pedestre?
E o pedestre cego e o surdo?
E o pedestre idoso?
E o pedestre com necessidades especiais? (poucos reflexos, deficiente mental etc.)
E o pedestre avó carregando netinho?
E os ciclistas? Coitado dos ciclitas. “Eles são pobres” – pensam os arrogantes.
Atropelar é um ato covarde, pois é você dirigindo uma carcaça de algumas toneladas contra um frágil corpo de 70 quilos.
Nós todos deveríamos dirigir pensando nestas variáveis e diminuir nossa velocidade e respeitar os pedestres e ciclistas e estarmos atentos e sermos humildes.
Temos que refletir sobre nossos valores culturais.
*Gilson de Araújo
Engenheiro Civil, com especialização em Segurança no Trânsito
Opinião originalmente publicada no Bem Paraná, em 22/07/2012.
Nascemos do ideal por um transitar seguro e há três décadas nossos valores e pioneirismo nos permitem atuar no mercado de ITS atendendo demandas relativas à segurança viária, fiscalização eletrônica de trânsito, mobilidade urbana e gerenciamento de tráfego.