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Se estiver com sono ou cansado, não dirija!

por José Augusto Valente*

Bocejos constantes: sinal de alerta para parar e descansar

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Conduzir um veículo é tarefa muito mais complexa do que muita gente imagina e exige boas condições físicas e mentais para executá-la com segurança: para si e para os outros.
Há vários fatores que levam à direção perigosa: drogas, imperícia e impaciência, entre outras. Em relação ao impacto das bebidas alcoólicas na condução, as pessoas já estão razoavelmente convencidas que é altamente negativo e perigoso para si e para os outros. Entretanto, muito pouco se fala sobre o efeito do cansaço e do sono como um dos principais fatores de acidentes com veículos.
A grande maioria dos motoristas já experimentaram a desagradável sensação de sono ao volante, surpreendendo-se, muitas vezes, no início de um cochilo, que poderia ter sido fatal.
Recentemente, um acidente com Pedro Leonardo, filho do cantor Leonardo, chamou a atenção para esse problema. O rapaz tocou durante a madrugada e após o show (ou ensaio), por volta de 5 h da manhã, resolveu pegar a estrada em Uberlândia rumo à Goiânia, onde mora.
Tudo leva a crer, que ele tenha cochilado e que o veículo tenha saído da estrada capotando algumas vezes. Se ele estivesse usando o cinto de segurança, provavelmente, o acidente provocaria apenas algumas lesões não muito graves. Entretanto, sem cinto, ele foi batendo com o corpo em vários pontos do carro, até ser expelido pelo vidro traseiro. Até agora seu estado é grave.
É bastante provável, também, que o recente acidente com cinco jovens que saíram do Espírito Santo para a Bahia e cujo veículo “errou” a ponte, caindo no rio e matando afogados todos os seus ocupantes, tenha sido motivado por cansaço e sono.
O que dizem os estudos sobre os efeitos do cansaço e do sono sobre a segurança na condução de veículos?
Estudos apontam que quase metade dos acidente em rodovias tenha o sono como principal “vilão”. Dalva Poyares, neurologista do Instituto do Sono, alerta os motoristas a nunca “subestimar o sono”.
— O sono exerce uma certa pressão. Chega o momento em que a pressão é tão grande que você vai dormir de qualquer jeito.
Existem poucas estatísticas sobre acidentes causados pelo sono. Nos boletins de ocorrência, a polícia costuma registrar esses casos como falta de atenção ou excesso de velocidade. Entretanto, quando o motorista sobrevive, é comum declarar que a situação anterior ao acidente era de cansaço, seguindo-se o cochilo quase-fatal.
Estatísticas mundiais, entretanto, mostram que entre 26% e 32% dos acidentes de trânsito são provocados por motoristas que dormem na direção. Eles são responsáveis por índices entre 17% e 19% das mortes no local do acidente, de acordo com Marco Túlio de Mello, coordenador do Centro de Estudo Multidisciplinar em Sonolência e Acidentes da Unifesp e chefe da disciplina Medicina e Biologia do Sono.
Os números foram obtidos em pesquisa da Universidade de Gênova, na Itália, já que no Brasil não há dados sobre o assunto. “Motoristas com distúrbios do sono correm
duas a três vezes mais riscos de se envolver em acidentes. Quando tratados, a redução é de 70%”, afirma Mello.
Na hora do sono, muita gente acha que vidro aberto, som alto, café e energético resolvem o problema. Os médicos, porém, não recomendam esses truques contra o sono. O melhor conselho é parar num posto e tirar um cochilo, como aponta Dirceu Rodrigues Alves, diretor da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego).
— Brigar com o sono é uma guerra perdida. É necessário que se procure um lugar seguro, se pare e durma de 30 minutos a 1 hora.
Há motoristas – amadores e profissionais – que lutam contra o sono e, mesmo que tenham dormido mal à noite, preferem ir de carro – para o trabalho ou para a faculdade –, arriscando-se a acidentes, do que deixar o carro em casa e ir de ônibus, onde poderiam cochilar à vontade, sem arriscar a sua vida ou a de terceiros.
Por tudo isso, além do slogan “se beber, não dirija”, aconselhamos esse outro: “se estiver com sono ou cansado, não dirija!”

*José Augusto Valente
Diretor Executivo do portal T1 e da TVT1

Opinião originalmente publicada no portal T1, em 30.04.2012.

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