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Quantos mais morrerão nas estradas por conta da competitividade?

por Mauro Roberto Schlüter*

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Vejo muitas pessoas expressando a sua opinião, sejam articulistas, jornalistas e outros formadores de opinião, apontando a sua mira para as empresas e caminhoneiros. Infelizmente a maior parte dos textos mostra apenas aquilo que é aparente neste cenário de horror da logística nacional, que invariavelmente passa pela constatação de que o motorista estava drogado com rebites, que o veículo estava com problemas mecânicos (sem freio), ou então com excesso de carga. Poucos se dão ao trabalho de investigar os verdadeiros motivos que levam a esta perversa consequência.
Há muito tempo que dedico uma parcela significativa das minhas pesquisas em logística para o TRC (transporte rodoviário de cargas), fruto do vínculo criado por ocasião do início da minha carreira profissional como vendedor de serviços de transporte. Muito antes dos articulistas e pseudo conhecedores do TRC brasileiro emitirem a sua opinião nos meios de comunicação, alguns aspectos precisam ser esclarecidos:
1º – O TRC do Brasil é um dos mais competitivos do mundo (se não o mais competitivo). Isto decorre da inexistência de barreiras de entrada (seja econômica ou regulamentar). Como consequência a tarifa é vista por muitos como o único fator de diferenciação (são poucas as transportadoras que realmente conseguem passar ao mercado a ideia de que são diferenciadas).
2º – Por conta da baixa tarifa, existe uma pressão por diminuição de custos, que é obtida pela máxima utilização possível do caminhão. Isto significa mais horas de trabalho para que o caminhoneiro autônomo possa fazer frente às despesas, e mais horas de trabalho para os motoristas de algumas transportadoras que recebem “prêmio por produtividade”.
3º – A fiscalização é pífia. Alguém já viu ou soube de algum caminhão que foi obrigado a não seguir viagem para que o motorista descansasse? Como é fiscalizada a falta de manutenção adequada? Por que não fazem testes para saber se o motorista está ou não sob efeito de rebites?
4º – Muitos embarcadores poderiam ser agentes de responsabilidade social e fiscalizar as empresas que contratam. As empresas que já o fazem são minoria.
5º – A lei do tacógrafo eletrônico existe há mais de 15 anos e até agora não entrou em vigor. Não existe nenhum impedimento para que este instrumento possa ser implantado na frota, mas por ironia a prioridade do governo é com a cobrança eletrônica dos pedágios.
6º – A pressão por competitividade entre os modais coloca o rodoviário como único perdedor. Como será feita esta transição? O paradoxo da competitividade da matriz modal do país passa pelo aumento de morte nas estradas, pois a pressão tarifária levará a todos os players do TRC a jogar as tarifas a níveis mais baixos, e como consequência teremos uma gestão de custos baseado na transgressão às leis de peso, jornada de trabalho e saúde dos caminhoneiros.
7º – Se houver uma forte fiscalização para reprimir excesso de cargas, excesso de jornada, uso de drogas e estado precário dos caminhões, o sistema logístico do país sofrerá colapso.
8º – O TRC é parte de um sistema maior (o sistema logístico do país), e portanto o seu planejamento político deve ser realizado de forma sistêmica.
A quem interessa deixar tudo como está? Quem paga esta conta nas nossas estradas?

*Mauro Roberto Schlüter
Professor de Logística da Mackenzie Campinas
Diretor do IPELOG
mauro@ipelog.com

Opinião originalmente publicada no portal Guia do Transportador, em 30.04.2012.

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