por Dirceu Rodrigues Alves Jr.*
A atenção do Ministério da Saúde de longa data é direcionada para a infestação de mosquitos transmissores da dengue. Mas uma doença epidêmica vem sendo negligenciada e que se comparada à dengue não tenho dúvida que terá número de vítimas e valores de custeio na prevenção e tratamento muito superiores.
Não é o que acontece. Hoje se gasta mais com a prevenção da dengue do que na prevenção dos acidentes de trânsito.
Estou diante de uma doença grave, com alto índice de morbimortalidade para a qual diversos ministérios ainda não se voltaram. Enxergar o problema todos estão enxergando, mas nenhuma atitude convergente tem sido adotada. O Código de Trânsito Brasileiro determina em seu capítulo VI o envolvimento dos Ministérios da Educação, Desporto, Saúde, Trabalho, Transportes e Justiça desde que entrou em vigor em 22 de janeiro de 1998. Recentemente (19/12/2011) o governo lançou um novo projeto que chamou de PARADA (Pacto Nacional de Prevenção de Acidentes de Trânsito). Participam desse pacto o Ministério da Justiça, Cidades e Saúde. Deve atuar durante toda a década 2011-2020 conforme orientação da ONU.
Mas vejam os números da dengue e dos acidentes de trânsito:
Ano 2010, Brasil
Dengue – 936.260 vítimas; 14.842 casos graves; 592 óbitos
Acidentes de Trânsito – 480.000 vítimas; 110.000 sequelados; 40.000 óbitos
A diferença percentual de óbitos é de 6.756 %.
Surge triste notícia:
“Em 2011, o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) teria à disposição R$ 690,9 milhões para ações de prevenção e educação no trânsito. No entanto, a maior parte dos recursos, provenientes do Fundo Nacional de Segurança e Educação no Trânsito (Funset), terá outra finalidade: ajudar a formar o superávit primário do governo federal. Do orçamento do fundo previsto para este ano, 72% do total – o equivalente a R$ 494,1 milhões – foi bloqueado e não poderá ser investido em qualquer campanha ou programa de combate ao crescente número de mortes em ruas e rodovias do país”. (Hoje em Dia)
Para combate a dengue se gasta um percentual absurdamente maior que na prevenção dos acidentes de trânsito onde morrem milhares de pessoas e outras ficam sequeladas.
Crescem as frotas, nenhum investimento para abrir espaço para se transitar. Como se não bastasse à precariedade com relação à educação de trânsito prevista no CTB que até hoje não foi aplicada. Ainda com CFCs com ensinamento precário, não permitindo o aprendizado das adversidades encontradas no dia a dia e sem uma educação continuada.
Não parece que o poder público reconhece a epidemia que assola o nosso país. Finge ignorar o prejuízo causado com repercussão em longo prazo. Esquece que não são apenas os óbitos que hoje perfazem 40.000 e os sequelados 110.000 que em longo prazo irão se acumulando, derrubando a nossa produção, já que as maiores vítimas estão na faixa etária entre 18 e 29 anos, que desaparecem do cenário produtivo e passam a onerar o Estado até completarem 65 anos quando ainda deveriam ser produtivos.
Em curto prazo teremos uma diminuição significativa da produção que certamente repercutirá levando a redução de verbas para as áreas mais carentes.
Precisamos acordar o poder público para que consolide o Pacto Nacional de Prevenção de Acidentes de Trânsito (PARADA) recém criado e que implante normas para conter a guerra que vivemos nas ruas.
Diz o CTB que a educação para o trânsito é direito de todos e constitui dever prioritário para os componentes do Sistema Nacional de Trânsito, precisamos urgentemente de execuções.
Com o corte no orçamento para campanhas educativas em 72%, para o ano de 2011, concluímos que a proposta da ONU como sendo a Década de Ações para Segurança Viária não é, para nosso governo, motivo de ações exemplares.
*Dr. Dirceu Rodrigues Alves Júnior
Diretor de Comunicação e do Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional da ABRAMET
www.abramet.org.br
dirceurodrigues@abramet.org.br
dirceu.rodrigues5@terra.com.br
Nascemos do ideal por um transitar seguro e há três décadas nossos valores e pioneirismo nos permitem atuar no mercado de ITS atendendo demandas relativas à segurança viária, fiscalização eletrônica de trânsito, mobilidade urbana e gerenciamento de tráfego.