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Os parcos passos da caminhabilidade

Em determinado momento do dia, todos somos pedestres. Mesmo assim, a falta de estrutura e caminhos desconectados desestimulam essa alternativa de locomoção

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Podemos optar por carro, motocicleta, transportes coletivos ou não motorizados para nossa locomoção, mas, mesmo assim, somos pedestres em algum momento do dia. No entanto, a reconstrução do espaço da mobilidade a pé ainda não aparece como prioridade dos planejamentos viários.
Calçadas esburacadas, com desníveis ou construídas com materiais inadequados são apenas alguns problemas verificados em qualquer cidade brasileira. Quando falamos de caminhabilidade, nem sequer cogitamos as necessidades de acessibilidade, sociabilidade e, em definitivo, o que se pode considerar qualidade de vida. Afinal de contas, estamos falando da parte mais frágil do trânsito: o pedestre.
Quando se fala em caminhabilidade – conceito que caracteriza a qualidade de deslocamento em um lugar, é preciso observar se a calçada tem as dimensões corretas, se não há obstáculos e, principalmente, se há condições de segurança nos pontos de travessia. “Não se trata simplesmente de propiciar uma boa estrutura para o pedestre; embora isso seja fundamental, não é suficiente. A atratividade do ambiente em que se pretende caminhar também é determinante nesta decisão”, pontua o vice-presidente técnico-científico da Sociedad Peatonal, Roberto Ghidini. A entidade trabalha na defesa, preservação e promoção do desenvolvimento sustentável do meio urbano, em especial ao que diz respeito à mobilidade urbana alternativa e sustentável.
Para Philip Gold, consultor internacional em segurança viária, “As calçadas no Brasil são construídas caoticamente; não se considera as pessoas com restrições de mobilidade, as rampas de acesso a veículos formam degraus e há lixeiras e postes no caminho”, diz. José Mario de Andrade, engenheiro especialista em trânsito e diretor da Perkons, concorda e atribui também o problema ao fato de que a construção das calçadas é geralmente responsabilidade dos proprietários dos imóveis. 

Divulgação


Falta de conservação e caminhos desconectados prejudicam a caminhabilidade.

Apesar de estarem longe do ideal, algumas cidades já avançaram em relação às benfeitorias em calçadas, especialmente nas áreas centrais e nas regiões mais importantes de cada bairro. “Na cidade de São Paulo, por exemplo, essa questão melhorou muito nos últimos anos. A qualidade das calçadas no início dessa última década era péssima, mas agora começamos a ver mudanças”, explica Gold, que cita Brasília como outro exemplo. “A cidade investiu nos locais de travessia, por meio de faixas de pedestres. Depois de um trabalho de conscientização, os motoristas respeitam a passagem de pedestres, mesmo não havendo semáforo nos locais”, diz.
No entanto, explica Ghidini, a preocupação do poder público é mais evidenciada em pontos turísticos e de lazer. “Curitiba, com a Rua XV de Novembro, é um bom exemplo. As orlas litorâneas com os calçadões beira-mar também; elas são um convite ao caminhar, embora um tanto desconectadas da ideia de substituir algum meio de transporte”, diz.

COMO MELHORAR
Os especialistas concordam que é dos órgãos públicos a responsabilidade de priorizar a segurança no trânsito, incluindo a reformulação e reconstrução das calçadas. “As prefeituras têm de assumir o compromisso desse trabalho. Imagina se cada morador fosse responsável por fazer a ligação da rede de esgoto, emendando a tubulação da sua casa com a do seu vizinho”, questiona Gold. Para Andrade, isso seria uma forma de garantir padrões adequados de caminhabilidade, seguindo recomendações técnicas de piso e de plantio adequado nas calçadas. “É comum vermos raízes de árvores danificarem o pavimento”, comenta.
De acordo com Ghidini, “para fomentar a mobilidade sustentável, os organismos públicos devem buscar uma política de enfoque múltiplo, que aborde os diversos problemas que o grande número de veículos acarreta, tratando de moderá-los na medida do possível, com diferentes iniciativas em vários âmbitos”. Como fazer isso? Por meio de políticas públicas que alavanquem o processo de mudança do paradigma ainda vigente da priorização do automóvel através do planejamento e implantação de infraestruturas adequadas à caminhada e à utilização da bicicleta, buscando calçadas e rotas urbanas acessíveis, ciclovias e/ou ciclofaixas seguras e agradáveis, bem como equipamentos urbanos destinados aos usuários de bicicletas como paraciclos, bicicletários e pontos de apoio aos ciclistas, oferecendo acessibilidade a diferentes destinos, sempre integradas ao sistema viário e ao transporte público de passageiros.

Confira a Nota Técnica – Melhorando as condições de caminhada em calçadas, de autoria do consultor Philip Gold.

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