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“Os carros não andam sozinhos. A responsabilidade é das pessoas”

Especialista em mobilidade sustentável e membro da SLOCAT ( Sustainable Low Carbon Transport) coordenado pela ONU, diz que Brasil não tem o que celebrar no Dia Mundial do Meio Ambiente

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Com um currículo notável em trabalhos voltados para a mobilidade verde, Lincoln Paiva, dentre outras atividades assina o blog Mobilidade Sustentável, no portal UOL. Acompanhe a entrevista exclusiva que a Perkons realizou com o especialista.

Perkons – O trânsito tem que papel dentre os fatores de poluição ambiental?
Lincoln Paiva
– Temos o costume de dizer que o problema da poluição ambiental é causado pelos automóveis, mas essa é uma falsa premissa, pois retira a responsabilidade das pessoas que os dirigem, afinal de contas os carros não andam sozinhos. Os problemas de congestionamentos não têm relação apenas com a quantidade de carros na cidade, mas na concentração destes carros em viagens curtas (até 6 km), com a falta de planejamento e opções de transportes para esta distância, as pessoas preferem utilizar o carro. Isso vai impactar na vida de todas as outras pessoas, inclusive, na concentração de ozônio em pontos da cidade, microclimas, ruídos e ilhas de calor.

PK – O trânsito já mata as pessoas: tanto de estresse, quanto de doenças respiratórias e cardíacas. Qual a sua opinião a respeito?
L.P. – Ninguém deveria morrer por esta causa porque a solução é simples e manteria as pessoas vivas. Como evitar? Restringindo o uso do automóvel em eixos com os maiores índices de congestionamento nas cidades.

PK – O que seria o cenário ideal da mobilidade sustentável no Brasil?
L.P. – Não temos opção de deslocamentos para distâncias curtas na cidade que poderia favorecer grande parte da população, isso obriga as pessoas a utilizarem carros, aqueles que não usam o carro diariamente e utilizam o metrô e o trem para distâncias curtas e estrangulam estes sistemas. Pois a população mais pobre da cidade (grande parte dela) ainda não tem carro e necessita deste tipo de transporte para distâncias médias e longas (acima de 10km).

PK – E qual a realidade dessa mobilidade hoje? Ela pode ser considerada sustentável?
L.P. – Nas grandes capitais a mobilidade é completamente insustentável.

PK – Em linhas gerais, você acha que as regulamentações de fiscalização e manutenção dos veículos funcionam bem para colaborar com o nível de emissão de poluentes?
L.P É fundamental, mas não adianta ter fiscalização apenas para automóveis na cidade de São Paulo e não ter na área Metropolitana.

PK – O que mais poderia ser feito pelos governos e que não está sendo feito?
L.P. – Um Plano de Mobilidade Urbana estratégica, fundamental para discussão com a sociedade civil e organizada sobre como elas querem viver. A sociedade civil brasileira ainda não entendeu que é ela quem define como querem viver, essa é uma prerrogativa da sociedade e não do governo, a ele cabe apenas  gerenciar e não impor.

PK – Do ponto de vista do trânsito se relacionando com o meio ambiente – há algo para ser celebrado nesse Dia Mundial do Meio Ambiente?
L.P. – No Brasil, infelizmente ainda não. Há boas iniciativas pontuais, mas ainda falta planejamento a médio e longo prazo, transparência e discussão com a sociedade. Estamos nas mãos de umas poucas pessoas que trabalham sistemas de transportes com conceitos de engenharia voltados para a revolução industrial.


*Lincoln Paiva é presidente da consultoria Green Mobility, graduado em comunicação social, especialista em Mobilidade Urbana para países em desenvolvimento pela UNITAR (United Nation Training), membro da SLOCAT ( Sustainable Low Carbon Transport) coordenado pela ONU, Especialista em Inventários de GEE pela Uniethos/FGV,  Membro da Clean Air Initiative, membro da rede Cities for Mobility coordenada pela Prefeitura de Stuttgart, membro das comissões de trânsito e meio ambiente da ANTP ( Associação Nacional de Transportes Públicos),  Chefiou diversas missões técnicas de Mobilidade Urbana para países Europeus , Asia e EUA.  Atua como consultor para empresas e governos na área de Mobilidade Urbana Sustentável e é Organizacional Stakeholder do GRI ( Global Reporting Initiative).

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