No dia 20 de agosto de 1992, a primeira lombada eletrônica do mundo foi instalada na cidade de Curitiba, no Paraná. Inventada pela Perkons, ela trouxe um novo conceito para promover a redução da velocidade
A lombada eletrônica, uma criação brasileira – mais especificamente, curitibana – está completando 28 anos neste mês de agosto. Mesmo depois de tanto tempo fazendo parte do dia a dia de diversas cidades brasileiras, muitas pessoas ainda têm dúvidas sobre o seu funcionamento. O que ela faz? Como faz? E várias outras perguntas chegam diariamente aos canais de informação da empresa que a criou, a Perkons.
Curiosamente, ao digitarmos no Google “lombada eletrônica” aparecem as principais buscas, que são: lombada eletrônica pega moto? Lombada eletrônica multa? Lombada eletrônica tira foto? Lombada eletrônica multa rodízio? Lombada eletrônica multa de madrugada?
Há ainda perguntas sobre inteligência artificial, cálculo de velocidade e identificação dos condutores pela foto. Essa última dúvida persiste desde a criação da lombada. Em 1992, numa parceria com o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), foi possível instalar as primeiras lombadas eletrônicas na capital paranaense. Uma delas na famosa rua Mateus Leme, no bairro São Lourenço, o que causou certa comoção na cidade. Alguns condutores estavam preocupados que a instalação de uma lombada eletrônica na região acabasse registrando casais de amantes, o que traria problemas conjugais para os envolvidos. Passados os anos a dúvida ainda existe e, na internet, sempre há alguém preocupado em ter sido flagrado em uma situação dessas.
Para comemorar o aniversário dessa invenção brasileira que é considerada uma das maiores inovações do século, conversamos com o gerente de Desenvolvimento da Perkons, Adriel Bilharva da Silva, que vai comentar e tirar as principais dúvidas do público sobre o funcionamento do equipamento.
1. Uma das principais dúvidas dos condutores é se a multa de trânsito que chega em casa é feita de um registro seguro…
Adriel Bilharva: Ao receber uma notificação de multa de trânsito, a primeira sensação é mesmo de desânimo para todo condutor, até porque, muitas vezes, ele não se lembra de ter cometido aquela infração e questiona. O que ninguém sabe é toda a engenharia que está por trás daquele registro de infração, e que as informações que estão ali são tratadas com a mesma segurança que as informações do sistema financeiro, por exemplo. Até chegar à casa do proprietário do veículo, cada infração registrada pelos equipamentos de fiscalização eletrônica percorrem um longo caminho, e todo ele é sim muito seguro.
2. Do registro da infração, na passagem da lombada eletrônica, por exemplo, até chegar para o condutor infrator, qual é esse caminho?
Adriel: A câmera da lombada registra a imagem do veículo, que á assinada digitalmente juntamente com o resultado da medição de velocidade. A imagem e os dados são criptografados e assinados digitalmente, ou seja, recebem uma série de códigos que “fecha” as informações, de forma que ela só pode ser acessada por uma pessoa autorizada e que possua uma chave de segurança. Todas as ocorrências (imagens + informações criptografadas) vão do equipamento direto para o órgão de trânsito para o que chamamos de processamento. Importante ressaltar que essa etapa de processamento das ocorrências é feita apenas com visualização, sem permitir alteração de dados ou cópias. Depois de validadas pelas autoridades de trânsito, as ocorrências que geraram infrações, posteriormente, serão enviadas aos condutores infratores.
3. O que garante a inviolabilidade e a autenticidade dessas ocorrências feitas pelas lombadas eletrônicas?
Adriel: A criptografia e a assinatura digital é o que garante a inviolabilidade e autenticidade dos dados da infração. Nós, aqui na Perkons, fomos a primeira empresa no Brasil a adotar essa tecnologia para registro de infrações de trânsito, com certificação do `The National Institute of Standards and Technology of the United States of America` e `The Communications Security Establishment of the Government of Canada`. Atualmente, a assinatura digital do resultado da medição, juntamente com o registro fotográfico, é um requisito do INMNETRO para aprovação de modelos de medidores de velocidade de veículos automotores.
4. Como é calculada a velocidade do veículo pela lombada eletrônica?
Adriel: No caso de equipamentos intrusivos (que é o caso da lombada eletrônica clássica, que fez 28 anos), com laços indutivos instalados na pista. A velocidade é calculada pelo tempo que o veículo leva pra passar pelos sensores. Adicionalmente, este sistema também permite a identificação da categoria do veículo (carro, moto, caminhão, ônibus etc), por meio do perfil magnético, que ”lê” o veículo a partir da sua massa metálica. Também existem os equipamentos não intrusivos, ou seja, sem sensores instalados no asfalto. Nesses podem ser utilizados sensores laser ou radares Doppler para medição da velocidade dos veículos.
5. Ou seja, as lombadas captam informações de todos os veículos que passam por ela, não só dos infratores, é isso?
Adriel: Isso mesmo, todos os veículos que passam pela área de medição das lombadas têm sua velocidade medida e o registro fotográfico realizado. Neste momento, em equipamentos que contam com a tecnologia, também é realizada a leitura automática dos caracteres da placa, chamado OCR. Com estas informações, o software da lombada verifica também se há alguma irregularidade, como licenciamento ou IPVA atrasados, ou ainda pode executar a fiscalização de rodízio. Não geram multas, por exemplo, veículos sem placa e veículos que respeitaram o limite de velocidade naquele ponto da via. As infrações são enviadas para central de processamento, onde é feita a obliteração do para-brisa do veículo, assim, condutor e passageiros não são identificados. A identidade das pessoas dentro do veículo não é uma informação necessária para o registro da infração.
6. Isso deixa algumas pessoas bem apreensivas: as lombadas registram a imagem do condutor e do passageiro, mas ela não é usada para a notificação da infração de trânsito. Correto?
Adriel: Exatamente. Essa é sempre uma preocupação e sabemos de muitas histórias nesse sentido, desde a primeira instalação do equipamento, em Curitiba. Casos em que condutores tinham receio que as imagens registradas dos carros – e de quem estava nele – fossem recebidas em casa… Não, a foto do condutor e dos passageiros não é uma informação, como eu disse, necessária para o registro da infração. Por isso elas passam pelo processo de obliteração, garantindo, assim, a privacidade das pessoas.
7. Com as informações do veículo infrator, o que acontece até que a multa chegue na casa do condutor?
Adriel: As ocorrências processadas como infrações pelo órgão de trânsito geram autos de infração, que são enviados ao Detran para registro no banco de dados que o órgão possui de cada proprietário de veículo (o Detran tem que ter ciência de todas as infrações para impor as penalidades, como pontos na carteira de habilitação). Feito isso, a notificação da infração é impressa, envelopada e enviada à casa do proprietário do veículo. Todo esse processo precisa ser feito em 30 dias. Caso a notificação seja emitida depois de 30 dias a infração perde a validade, conforme prevê o Código de Trânsito Brasileiro. (art. 281,II do CTB).
8. As lombadas captam infrações cometidas por motociclistas?
Adriel: Atualmente, todos os equipamentos da Perkons detectam motocicletas, inclusive os que utilizam sensores não intrusivos. Motociclistas podem ser detectados mesmo quando trafegam na entre faixas, o popular corredor.
9. É possível que a velocidade mostrada no display da lombada eletrônica seja diferente do velocímetro?
Adriel: Sim, a exatidão das lombadas é superior a dos velocímetros dos carros. Isto significa que a margem de erro tolerado nas medições de velocidade das lombadas é muito inferior ao dos velocímetros, aliado ao fato dos órgãos metrológicos fazerem verificações periódicas da precisão das medidas realizadas pela lombada. Por outro lado, além dos velocímetros dos carros tolerarem erros maiores, variações na calibração dos pneus, desgaste ou ainda a troca deles por modelos com dimensões diferentes da original podem impactar em maiores erros na medição de velocidade.
10. Algumas pessoas sempre questionam se as lombadas eletrônicas flagram infrações como não usar cinto de segurança, dirigir ao celular, transportar criança sem cadeirinha…
Adriel: Não. As lombadas eletrônicas não registram esse tipo de infração de forma automática. Outras tecnologias como as câmeras de monitoramento, sim, podem detectar essas violações, e um agente do órgão de trânsito que fica em uma central de monitoramento faz os registros infrações que puderem ser confirmados pelo vídeo ao vivo.
Crédito: Perkons/Divulgação |
Após quase três décadas, invenção paranaense é reconhecidamente parte importante da segurança e regulamentação do trânsito |
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