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“Estamos levando a comunidade a falar de trânsito”, diz Maria Cristina Hoffmann

Apesar das dificuldades, coordenadora do Denatran avalia que o órgão está cumprindo suas metas.

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Maria Cristina Alcântara Andrade Hoffmann é coordenadora de Qualificação do Fator Humano no Trânsito do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) e do Parada – Pacto Nacional pela Redução de Acidentes. Em entrevista concedida à newsletter Perkons, ela fala sobre as ações previstas para 2014, aponta os avanços do Parada, avalia o trabalho realizado pelo Denatran e cita as dificuldades do departamento.


Coordenadora do Parada diz que Denatran está se estruturando.
Crédito: Márcia Kalume/Agência Senado

Nesta entrevista, Cristina posiciona-se favoravelmente à fiscalização eletrônica por entender que ela é essencial na regulação do comportamento do motorista, ainda que as pessoas a considerem invasiva em alguns momentos.  E garante que seu sonho é ver todas as escolas do Brasil implantando projetos de trânsito para que as crianças possam discutir e falar sobre o assunto, de modo que se vejam como futuros cidadãos e motoristas mais conscientes.

Perkons: Uma das principais ações de visibilidade do Denatran é o Parada. Como tem sido este trabalho?

Maria Cristina Hofmann – Dentro do Parada nós temos três momentos: ação de educação, com um forte viés em relação aos professores e instrutores, necessidade de mídia e mobilização social para as campanhas e de fiscalização, que não acontece especificamente pelo Denatran, mas pelos Detrans e órgãos gestores. Se com todo o nosso trabalho de envolvimento do governo federal, estadual e municipal não houver uma ação efetiva na ponta, a certeza de que o instrutor que capacitamos está trabalhando adequadamente e de que o motorista tem condutas adequadas no trânsito, eu não terei a certeza de que as mensagens repassadas estão sendo assimiladas. O trânsito só vai mudar se cada um mudar.

Perkons: Como o Denatran vai coordenar esta integração?

Maria Cristina – O Parada em si está se polarizando junto a todos os estados e parceiros. O que percebemos hoje é que a relação está muito próxima entre os três governos. Fazemos as campanhas, distribuímos aos estados e também aos Detrans, que tem sido parceiros, e eles nos repassam os resultados efetivos das ações desenvolvidas.  As blitze, inclusive, podem ser realizadas em conjunto. Estamos estruturando ações neste sentido. Devem acontecer ano que vem. Este ano fizemos um laboratório disso, Na Semana Nacional do Trânsito, no Dia Mundial sem Carro e no Dia Mundial em Memória das Vítimas de Trânsito. aconteceu um trabalho paralelo, com todos realizando a mesma blitz. Se não houver  um trabalho conjunto das três esferas não teremos uma alteração deste quadro caótico do trânsito. Precisa acontecer isso, esta proximidade dos órgãos municipais e estaduais junto ao Denatran e ao Ministério das Cidades.

Perkons: O Parada tem cumprido a sua função?

Maria Cristina – O Parada começou em maio de 2011, com foco nas mídias e campanhas. Elas eram esporádicas e em datas específicas. Agora temos campanhas todos os meses e também algumas ações específicas em parceria com as montadoras e participação em eventos como a São Paulo Fashion Week. O que percebemos com isso? Que estamos levando a comunidade a falar de trânsito. Quando se podia imaginar que marcas com o a Ellus e a Cavallera iriam criar modelo de camiseta específica do Parada e colocá-las na passarela?

Este resultado mostra que conseguimos uma penetração muito grande com o programa. Ele começou tímido, com uma ação simples para cumprir a meta da década da ONU (Organização das Nações Unidas) e nós estamos percebendo que ele está sendo maior. As empresas parceiras, hoje mais de 100, têm ajudado a multiplicar as ações do Parada, na medida em que o programa é disseminado junto aos colaboradores que, por sua vez, levam as informações para dentro de casa. A polaridade do Parada está sendo muito grande.

“Pensar em todos os modais, num transporte público de excelente qualidade, porque se não fizer isso vai ter que conviver com as vans e os mototáxis”.

Maria Cristina Alcântara Andrade Hoffmann

Perkons: Quais são as ações planejadas para 2014 e para os próximos anos?

Maria Cristina – A ideia é que este planejamento seja abrangente e envolva todas as áreas. Tem a questão da parte de engenharia, que tem planejamento específico, em relação ao laboratório de crash test – projeto que está sendo desenvolvido junto às universidades e ao  Inmetro para que seja criado um laboratório  no Brasil, que hoje não existe. Tem as ações da educação para os condutores, instrutores e examinadores de trânsito. E em relação à  formação do agente de trânsito e à fiscalização.

Estamos editando uma resolução que definirá um curso para formar este profissional, especificando grade curricular e carga horária , que hoje variam de cidade para cidade. Assim, a padronização da fiscalização passa a existir. Temos também um manual de fiscalização. A ideia é que todos os municípios, até os pequenos, se estruturem adequadamente com a fiscalização. É uma fiscalização a favor da sociedade. É um órgão de trânsito estruturado, uma cidade bem sinalizada e um agente bem preparado. Para que ele possa educar, primeiro, e depois punir. Esta normativa será muito boa para as cidades pequenas que estão se estruturando para se integrar ao Sistema Nacional de Trânsito.

Perkons: Quando você estima que toda esta integração estará implantada?

Maria Cristina – É um trabalho que vem sendo desenvolvido há dois ou três anos pelo Denatran. O ministro Aguinaldo (ministro das Cidades Aguinaldo Ribeiro) tem dado apoio para as ações e isso reflete na melhoria do trabalho que a gente desenvolve. O Denatran ainda passa por dificuldades, principalmente operacional como a falta de funcionário. O Denatran sofre hoje muito com isso, mas dentro do que nós temos estamos cumprindo todas as metas.  Os nossos dados se baseiam nos da PRF e do Ministério da Saúde. Já tivemos uma redução de acidentes de quase 9%. Ainda falta muito para chegar à meta da ONU, que é de 50%, mas estamos no caminho. O Denatran está desenvolvendo junto com a Universidade Federal Fluminense o Observatório Nacional de Trânsito para que possa ter um controle estatístico e de dados. Estamos nos estruturando para que o Denatran seja o órgão máximo executivo de trânsito no Brasil.

Perkons: Como você avalia a fiscalização eletrônica dentro deste processo?

Maria Cristina – Sou completamente favorável, desde quando conheci a lombada eletrônica. O contingenciamento de agente de trânsito é muito pequeno e é impossível que ele esteja em todos os lugares. Neste aspecto, a fiscalização eletrônica é essencial na regulação do comportamento, ainda que as pessoas a considerem invasiva em alguns momentos. Sempre a vi como educativa. Os equipamentos de fiscalização eletrônica existem para lembrar que aquela via tem uma velocidade máxima permitida. Ainda não temos uma população que consegue entender esta necessidade. Então a fiscalização eletrônica regula o comportamento das pessoas que ainda não conseguem compreender e respeitar a legislação de trânsito.  Infelizmente, no Brasil não temos a cultura do respeito à sinalização de trânsito e os equipamentos de fiscalização eletrônica vem a contribuir para isso.

“Não defendo necessariamente trazer a tecnologia para dentro do carro como o uso do celular e o GPS porque acredito que contribuem para o aumento dos acidentes”.

Maria Cristina Alcântara Andrade Hoffmann

Perkons: Existe algum modelo de trânsito que o Brasil poderia se inspirar?

Maria Cristina – Eu acho que a gente precisa parar de querer comparar o Brasil com outros países.  Temos que entender que o nosso país é único e dentro disso precisamos estruturá-lo para que possa atender às necessidades dos motoristas e pedestres, de acordo com a nossa realidade. Agora, o que poderia acontecer é que o gestor público, no momento que ele assuma uma prefeitura, entendesse que ele tem que criar uma cidade para a população. Ele tem que pensar a cidade para um período de 30 anos. Tem que entender que a cidade vai crescer e por isso tem que pensar de maneira estratégica por um período longo, sobretudo nas questões de mobilidade. Pensar em todos os modais, num transporte público de excelente qualidade, porque se não fizer isso vai ter que conviver com as vans e os mototáxis. A cidade com trânsito ideal é aquela que o gestor se preocupa com a população.

Perkons: Você é favorável que essas ações sejam associadas com tecnologia?

Maria Cristina – A tecnologia está presente hoje no nosso cotidiano, em todos os aspectos da vida. Não defendo necessariamente trazer a tecnologia para dentro do carro como o uso do celular e o GPS porque acredito que contribuem para o aumento dos acidentes. Mas conheci o centro de monitoramento do Detran do Rio, que controla os exames  práticos, e achei sensacional.  Nesse sentido a tecnologia é essencial, sobretudo para os profissionais que trabalham com trânsito.


Perkons: Qual o maior desafio para o próximo ano?

Maria Cristina – O maior desafio hoje na área de trânsito é que todas as escolas implantem projetos de educação de trânsito. Não como uma disciplina, mas que seja trabalhado transversalmente sobre o assunto. A grande preocupação da ONU hoje é ensinar uma criança a atravessar a rua. Se cada escola implementasse um projeto de educação, com qualidade, eu acredito que teríamos um trânsito melhor.  Discutir e falar de trânsito é o caminho para educar as crianças a se tornarem cidadãos e motoristas mais conscientes.

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