Maria Amélia Franco, gerente de Marketing e Comunicação Corporativa da Perkons e especialista em gestão do trânsito e mobilidade urbana analisa realização do Dia Mundial em Memória às Vítimas do Trânsito.
Qual seria a sua estratégia para mobilizar muitas pessoas, com perfis bastante diferenciados por uma causa sutil a primeira vista, mas que concerne a todos? Este é o primeiro plano das campanhas de educação e conscientização no trânsito no mundo todo. Para a Organização das Nações Unidas, uma boa ferramenta é a empatia, colocar luz num tema dolorido aos que ficaram e às potenciais próximas vítimas poderia modificar o comportamento de risco de alguns condutores. Pensando nisso e também numa forma de homenagear esses vitimados, a ONU estabeleceu o terceiro domingo de novembro como o Dia Mundial em Memória às Vítimas de Trânsito.
No entanto, a causa é ampla e merece atenção também de quem não tem laços com algum drama causado pelo trânsito. Apoiadora do amplo debate pela mobilidade segura, a Perkons trabalha ativamente na promoção de informações e discussões sobre o tema. Acompanhe uma entrevista com Maria Amélia Franco, gerente de Marketing e Comunicação Corporativa da Perkons e especialista em gestão do trânsito e mobilidade urbana pela PUC-PR:
Perkons – Com relação ao Dia Mundial em memória às Vítimas de Trânsito. Você acha que a proposta da ONU está sendo explorada plenamente?
Maria Amélia – É indiscutível que é uma importante data. O evento é uma oportunidade para alertar sobre a violência viária no mundo, sensibilizar e mobilizar uma parcela maior da população, dando voz àqueles que sofrem as consequencias, diretas e indiretas, do trauma de um acidente. Mas também fui incitada por um amigo a refletir sobre seu impacto. Noto que eventos no país e também no exterior destacaram-se por prestarem uma bonita homenagem. As histórias dos acidentes e mortes no trânsito comoveram quem participou: um público principalmente composto por familiares e amigos de vítimas e quem já milita pela segurança no trânsito. Não menos relevante, deixo claro, mas avalio que as ações e o envolvimento da sociedade ainda são tímidas. Mais pessoas se precisam envolver e conhecer o problema para que se obtenha uma conscientização mais ampla.
Perkons – Diante do desafio de impactar um público tão grande e diferente, como avalia ser possível cumprir o propósito da realização de um dia mundial em memóra às vitimas?
MA – É bem verdade que as campanhas de comunicação e ações de educação especializadas enfrentam um grande desafio: disseminar a mensagem para um público plural e imenso. E, muitas vezes, o objetivo se perde na tentativa de “querer abraçar o mundo”. Nesse sentido, a ideia de memória (ou memorial) é válida. Inclusive, algo permanente, num ponto de grande visibilidade e que marque e possa ser lembrado sempre (como memoriais de guerra). A forma como a data é trabalhada pode ser mais explorada. Trata-se de um bom tema para ações mais positivas e mobilizadoras, de abrangência nacional. As ferramentas de comunicação disponíveis são muitas. Acredito na diversidade, na continuidade das campanhas, no amplo alcance como a melhor tônica. É preciso utilizar todas as formas, seja humor, choque, ousadia,testemunho de celebridades ou formadores de opinião e por aí vai. E não menos importante: associar as campanhas a outras políticas públicas, à elaboração de leis rígidas e aplicáveis na prática.
Perkons – Você menciona a outra parcela da população. Quem seria esse público que precisa ser atingido?
MA – Os motoristas imprudentes que podem se tornar vítimas ou vitimar tantas outras pessoas, pedestres distraídos e passageiros descuidados. Uma campanha social deve ser acessível igualmente a todos. Porém, para um público-alvoextremamente diversificado, que são os condutores brasileiros, com tantas formas diferentes de percepções e referências, optar por um único tipo de abordagem acaba se transformando num tiro no escuro.
Perkons – E como seria ideal?
MA – Uma mensagem muito plural não costuma ter eficácia, pois nem sempre cria identificação e não influencia nas motivações individuais. E, quando a mensagem é muito chocante ou o extremo oposto, alguns receptores podem abstraí-la ou banalizá-la. A pergunta que não está sendo feita é: como penetrar um ambiente tão multifacetado que dificulta a compreensão do que realmente é eficaz quando o assunto é educação e conscientização? Primeiro, compreender esta imensa amostra demográfica, suas motivações e entender que não há uma fórmula de comunicação, mas um conjuto delas. Isso requer que a comunicação use informações técnicas e que as ações educativas, de engenharia e de gestão no trânsito sejam convergentes. Por exemplo, uma campanha com planejamento de longo prazo que traga peças diferenciadas e direcionadas a diferentes públicos, mas com um apelo único (que seria o objetivo geral da campanha).
Perkons – No ambiente especializado em trânsito, se discute uma sutileza: técnicos da área colocam a expressão “acidente de trânsito” como equivocada, pois, na maioria dessas ocorrências o responsável teria condições de evitar o acidente. Qual a sua opinião?
MA – O conceito de acidente traz a ideia de acontecimento imprevisível, eventualidade. A imprudência, a desatenção com os cuidados com o veículo e o descaso com o uso de dispositivos de segurança, como o cinto, são fatores relevantes na acidentologia. Isso, sem falar da irresponsabilidade de quem conduz alcoolizado ou ciente de que não está em perfeitas condições de realizar a tarefa. Podemos concluir que a maioria dos acidentes não é, de fato um acidente, pois poderia ser evitado, caso o condutor tivesse uma atitude preventiva. O último levantamento do Ministério da Saúde, de 2011, informa que foram perdidas mais de 40 mil vidas por conta da mobilidade insegura. Todas elas seriam, de fato, acidentes? Eu acredito que não.
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