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A solução para o trânsito do futuro já existe

Trocar tecnologias rudimentares e investir além do transporte rodoviário estão entre as medidas apontadas

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O trânsito no Brasil hoje tem mais que o dobro da frota veicular de dez anos atrás. De acordo com dados do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), no mês de abril deste ano eram mais de 77 milhões de veículos nas ruas das cidades brasileiras. Se de um lado este aumento pode representar um crescimento econômico da população, de outro significa que as cidades precisariam se adaptar a esse crescimento. Em entrevista exclusiva à Perkons, o professor da Universidade de Brasília e doutor em segurança de trânsito pela Université Libre de Bruxelles, David Duarte Lima, fala sobre as perspectivas sobre o trânsito no futuro, cita exemplos bem sucedidos e aponta algumas tendências.


A cada 10 anos, segundo Lima,
dobra a demanda por mobilidade.
Crédito:Rodrigo Dalcin/UnB Agência

Perkons – O que podemos esperar do trânsito do futuro? O que precisa mudar já?
David Duarte Lima – A primeira coisa a se observar é que a cada 10 anos dobra a demanda por mobilidade. Quando era criança, uma viagem de Goiânia a São Paulo era uma “senhora” viagem. Hoje as pessoas vão [de avião] almoçar lá e voltam, circulam mais, as distâncias ficaram menores. A mobilidade, até pela demanda de competitividade do mercado e a logística da produção, torna-se cada vez mais difícil de absorver o volume de veículos trafegando. O trânsito do futuro será cada vez mais denso, o comércio ainda vai crescer, o transporte de mercadorias vai aumentar, as pessoas viajarão ainda mais, isso tudo envolve mobilidade,e restrições. Seria mais racional, no sentido de promover a segurança especificamente no Brasil, o investimento no transporte coletivo de massa, até ferroviário, para, inclusive, retirar caminhões das vias, para que o trânsito seja menos agressivo e utilizador de energia. O carro gasta cerca de 95% da energia para se autotransportar e 5 % para transportar o passageiro; isso é inaceitável e tem reflexo direto no meio ambiente.

Perkons – Em sua opinião, haverá necessidade urgente de incentivo a outros modos de transporte, com o carro perdendo um pouco do espaço? A restrição de acesso dos carros a determinados locais poderá ser uma realidade para diminuir os engarrafamentos das grandes cidades?
David Duarte Lima – Muita coisa vai migrar para o trilho e meios aquaviários até para reforçar essa tendência de respeito ao meio ambiente. A Europa já tem caminhado para isso, mesmo que lentamente, e contra interesses de montadoras e empresas exploradoras de petróleo. Até os Estados Unidos, grandes consumidores de energia, já têm incentivado o uso de outros modos de transporte. Interessante observar que a China teve um aumento de automóveis nas ruas, passando os norte-americanos. Fez o caminho inverso, pois era o país das bicicletas e agora sofre com trânsito cada vez mais caótico e poluição a níveis quase insuportáveis.
Cidades como Nova Iorque, nos Estados Unidos, adotaram há muitos anos horários rígidos para circulação de determinados veículos como caminhões de entrega de mercadorias para supermercados e entregadores de lavanderia para hotéis. Eles só podem circular e realizar suas entregas na ilha de Manhattan de madrugada.  Há outra solução interessante na cidade norte-americana de Boston, mas que custou cerca de 17 bilhões de dólares. Eles passaram todo trânsito motorizado de determinada região para vias subterrâneas, somente podem circular na superfície ciclistas, pedestres, ambulâncias ou outros casos especiais. É como se fosse uma via de metrô, para circulação dos carros.


Não é preciso “demonizar” o carro, só é preciso que haja mais alternativas que não precisam ser necessariamente excludentes, mas complementares.
David Duarte Lima, professor da Universidade de Brasília e doutor em segurança de trânsito pela Université Libre de Bruxelles

Perkons – O transporte público terá que ser o foco principal de atenção dos gestores de trânsito das cidades brasileiras?
David Duarte Lima – Não existe solução para mobilidade dentro das cidades que não leve em consideração o transporte público. Não é preciso “demonizar” o carro, só é preciso que haja mais alternativas que não precisam ser necessariamente excludentes, mas complementares. O pedestrianismo é ótimo para quem se desloca de um a três quilômetros para ir trabalhar; já de bicicleta, entre oito e 10 quilômetros, uma pessoa saudável pode pedalar diariamente. Um ônibus cheio reduz em 200 metros o congestionamento e muitos carros poderiam sair de circulação diária se houvesse condições de transporte público. Mas é preciso que ele seja confortável, atraente financeiramente, tenha pontualidade como já acontece na Europa e segurança. Mesmo para se pedalar nas grandes cidades é preciso que se dê condições como acontece nos países que adotam o modelo. Gostar de carro não é um problema, todos podem ter carros, assim como têm geladeiras; ele é excelente para passear, sair, namorar, mas não deve ser única forma de locomoção. Hoje o que vemos é o “samba de uma nota só”, as pessoas não têm alternativas, há uma hiperutilização do automóvel. Temos que ter soluções para cada situação onde é necessário ter ônibus, vans ou mais táxis. Cada local tem sua demanda e o poder público precisa estudar essas necessidades.

Perkons – Como os gestores poderão utilizar as ferramentas tecnológicas para esse gerenciamento de tráfego?
David Duarte Lima – Nos Estados Unidos, cidades como Los Angeles têm mais de mil engenheiros com computadores de altíssima performance e rapidez para controlar semáforos das ruas da cidade. Há um modelo matemático muito sofisticado e quando há excesso de carros esse gerenciamento é feito com placas sinalizando aos motoristas para desviarem as rotas, mas isso é feito de forma muito inteligente, totalmente conectado. No Brasil, os semáforos são rudimentares, não passam por sistemas de gestão e essa tecnologia precisa ser implementada.

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