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A distância entre Londres e o Brasil

Brasileiros que moram na capital inglesa e especialistas apontam algumas lições que os londrinos já fizeram em seu trânsito e seriam facilmente aplicadas em solo brasileiro

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Um painel digital que informa o tempo de chegada do próximo ônibus é a mais recente aposta de Curitiba para facilitar a vida dos usuários do transporte coletivo. Apesar de ainda estar em fase de testes em apenas uma estação-tubo (ponto de ônibus urbano), a promessa da prefeitura da cidade é instalar o equipamento em mais locais, inclusive nos terminais. Uma tela de LCD informa a localização do ônibus e o tempo que falta para a chegada do veículo.
A comunicação com os usuários do sistema é uma das iniciativas para enfrentar os problemas de mobilidade urbana encontrados em grandes cidades. De acordo com o professor de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ, Ronaldo Balassiano, o planejamento é fundamental. “Toda grande cidade deveria ter um plano de mobilidade. E mais: esse plano deveria ser criado em conjunto com a população, que é a principal interessada no assunto. A conscientização dos usuários deveria acontecer junto com a transformação dos espaços; eles deveriam fazer parte do processo”, observa.
Não é preciso muito esforço para concluir que, muito em breve, os espaços urbanos serão insuficientes para a frota de veículos, que insiste em crescer desenfreadamente. Nesse caso, a solução pode estar em novas tecnologias aliadas a um antigo costume: andar a pé ou de bicicleta. Em Londres, por exemplo, algumas medidas estimulam essa prática, como explica a brasileira Thamy Carniel, que há seis anos mora na capital inglesa. “Os pedestres e ciclistas têm preferência nas ruas, tanto por causa do respeito dos motoristas quanto pela quantidade de placas de sinalização e mapas espalhados por toda a cidade”.
E ela fala com propriedade, afinal dirige táxi executivo e sabe das restrições que motoristas sofrem. “A gente costuma brincar que o trânsito aqui é como um Big Brother. Há câmeras em todo lugar e qualquer irregularidade é punida com multa. Além disso, há um pedágio para entrar no centro da cidade (congestion charge), que custa caro, o que desestimula a viagem de carro”, enfatiza. O pedágio urbano para circular no centro de Londres custa 8 libras (cerca de R$ 22) por dia, sem contar o estacionamento.


Diretor da Perkons e especialista em trânsito, José Mario de Andrade, acredita que a tecnologia aliada à informação pode melhorar a mobilidade, proporcionar segurança aos usuários e influenciar no desejo das pessoas de andar a pé, de bicicleta ou de ônibus.

Respeito ao cidadão no trânsito
Embora concentre uma grande quantidade de veículos nas ruas, o trânsito de Londres apresenta uma diferença importante em relação ao Brasil. “Um ponto que se destaca em uma cidade como Londres é o respeito do motorista pelo pedestre e vice-versa. É uma relação de cumplicidade, em que se percebe claramente a consciência do motorista de que o pedestre é a parte mais frágil dessa relação”, pontua Balassiano.
Quem tem a mesma opinião é outra brasileira que vive em Londres, a promotora de vendas Érica de Carvalho. “As pessoas aqui são cordiais nas ruas. Sou de São Paulo, onde o trânsito é caótico, e vejo a diferença. Aqui muita gente anda de bicicleta, ônibus e a pé e, ainda assim, consegue conviver pacificamente dividindo espaço com os carros”, conta.
Na capital inglesa, placas de trânsito, mapas, ciclofaixas e painéis com informações contribuem para o deslocamento a pé, de bicicleta ou por meio de transporte coletivo. “A sinalização é ótima. A cidade inteira é bem sinalizada, os ciclistas têm faixas reservadas, assim como os pedestres que, se seguirem as orientações, dificilmente se perdem”, explica Érica.
E é importante que todas essas intervenções e equipamentos recebam manutenção constante. “É muito difícil encontrar buracos em calçadas em Londres. A preocupação é muito grande com qualquer obstáculo que possa dificultar a passagem de pedestres e isso estimula o transitar”, afirma Balassiano.


Crédito: Thamy Carniel
Londres: planejamento prioriza a informação. O investimento em sinalização, painéis e outras ferramentas, garante a mobilidade numa cidade nos moldes dos grandes centros urbanos brasileiros.

Já no Brasil, a escassez de informação para os pedestres e a falta de manutenção das vias dificulta a viabilização de planos de mobilidade sustentáveis. “As pessoas precisam resgatar o prazer de andar, mas para isso é necessário um ambiente favorável. Uma via segura requer sinalização, iluminação e conservação adequadas”, defende Balassiano.
Outro ponto essencial, de acordo com diretor da Perkons e engenheiro especialista em trânsito, José Mario de Andrade, é o uso da tecnologia que, cada vez mais, faz diferença no processo. “Isso porque os órgãos fiscalizadores não precisam mais de um contingente monitorando o fluxo. Eles podem integrar o seu sistema de informações e fiscalização para que a equipe seja aproveitada de forma inteligente; assim, consegue-se pensar em soluções que vão além do trânsito, como a segurança, que influencia diretamente no desejo das pessoas de andar a pé, de bicicleta ou ônibus”, pondera.
A formação dessa cultura está atrelada à oferta de boa estrutura, condições seguras e fomento do hábito. “Muita gente não deixa o carro em casa por simples costume – a melhor informação sobre tempo de espera para um ônibus/ metrô ou o melhor caminho para se ir a pé é uma solução simples e que está ao alcance de qualquer governo realmente interessado em evoluir na mobilidade urbana”, acrescenta o especialista.

Bons exemplos
Algumas cidades brasileiras começam, mesmo que timidamente, a apresentar novas soluções para a questão do trânsito. Segundo Balassiano, que também é PhD em Engenharia de Transportes pela Universidade de Westminster, Belo Horizonte está desenvolvendo um programa de mobilidade urbana interessante. “Já é possível perceber a reurbanização das áreas centrais e a preocupação do poder público com a crescente demanda da frota de veículos. Campanhas de conscientização para um trânsito mais seguro e sustentável também já tiveram início”, ressalta.
Na capital paranaense, Balassiano aponta os corredores exclusivos de ônibus como uma boa solução. “Curitiba implantou o BRT (Bus Rapid Transit) ainda na década de 1970 e a experiência bem-sucedida já foi copiada por diversos países, entre eles Bogotá [capital da Colômbia]. É uma resposta que ajuda o trânsito a fluir melhor, principalmente onde há grandes volumes de congestionamentos”, explica.
Todas essas medidas devem ser planejadas e, principalmente, definidas a partir de consenso entre a sociedade e o governo. “Quando isso é feito, as pessoas têm a oportunidade de opinar sobre o que está acontecendo em suas cidades. A chance de o resultado final ser satisfatório é muito maior, porque as decisões são tomadas por quem realmente vai fazer uso daquele espaço”, aponta.
Mas não somente ações do poder público devem garantir a mudança no trânsito e na maneira como a população faz suas escolhas. “É preciso entender que a cidade foi feita para pessoas e não para veículos. Muita gente ainda pega o carro para ir à padaria que fica a duas quadras de casa, quando poderia fazer o trajeto a pé”, conclui Balassiano.

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