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Pavimentos permeáveis podem ajudar a evitar aquaplanagens e enchentes

Estima-se que até abril seja publicada a norma que regulamenta licitações para o novo pavimento. Sistema será instalado inicialmente em vias locais e estacionamentos.

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Festejada no sertão nordestino por seu caráter rarefeito, em vários centros urbanos brasileiros nas regiões sul e sudeste, a água da chuva traz consigo diversos estragos e perigos para o trânsito. O grande vilão é o solo impermeável das cidades, que – por não ter a capacidade de absorver a água – promove o seu acúmulo, provocando enchentes e acidentes, que resultam em perdas materiais e de vida.
Algumas iniciativas para tentar resolver isso não são novidade, como acontece no Rodoanel – anel viário que liga as rodovias que cortam a cidade de São Paulo –, que possui uma camada de pavimento poroso acima da camada comum, ajudando a diminuir o barulho do tráfego e também a absorver a água, que escoa para o acostamento.
Mas, a pedido – e com o patrocínio – da Prefeitura da capital paulista, uma equipe do Centro Tecnológico de Hidráulica e Recursos Hídricos da Universidade de São Paulo (CTH-USP), vinculado à Escola Politécnica da USP (Poli-USP), foi mais longe. Foi desenvolvido um pavimento poroso com resistência suficiente para não precisar da camada impermeável sob ele. Podendo ser tanto de asfalto como de concreto, o pavimento absorve a água das chuvas, e a novidade é que, utilizando um sistema à base de britas e espaços vazios, a água absorvida fica ali armazenada, escoando lentamente para os rios.


Ilustração mostra os perfis da estrutura dos pavimentos de asfalto e de concreto. (Crédito: Afonso Virgiliis)

“Normalmente, a água vai rapidamente para os rios, e por isso há enchente. O que queremos é retardar isso. Então, primeiro a água infiltra, e aos poucos vai para o sistema de drenagem. Com isso retardamos a chegada dessa chuva ao destino final.”, explica a coordenadora do Laboratório de Tecnologia de Pavimentação da Poli-USP, Liedi Bariani Bernucci.

Resultados preliminares
A pesquisa começou em 2006, como tema da dissertação de mestrado do engenheiro civil Afonso Luis Corrêa de Virgiliis, que trabalha há 20 anos na Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras da Prefeitura de São Paulo (Siurb), cuidando justamente da parte de canalização e drenagens da cidade. Após muitas discussões para resolver o problema, na própria Prefeitura surgiu a ideia. Ao conversar com a professora Liedi e com o professor José Rodolfo Scarati Martins – coordenador da pesquisa –, o trabalho foi tomando forma e, hoje com quase cinco anos de estudos e testes, já há resultados.


Obra implanta o pavimento de asfalto poroso no estacionamento do CTH-USP. (Crédito: Afonso Virgiliis)

Apesar de já ter sido comprovada a eficácia do produto na absorção da água da chuva, ainda há algumas limitações, como a localização dessas placas porosas (que devem estar longe dos rios) e a resistência das mesmas. “Esse pavimento não pode ser feito em fundo de vale, porque a gente não quer que a sujeira ou a terra entre nesse pavimento e entupa os vazios (colmatação)”, explica a professora Liedi. “Quanto à resistência, hoje só podemos colocar esse tipo de pavimento nas vias locais, e ainda assim em algumas delas. Depois, se conseguirmos ganhar resistência nessas peças, tentaremos implantar nas vias coletoras, e posteriormente – se os testes permitirem – nas arteriais; mas ainda temos muita dificuldade para isso, pois a porosidade tende a diminuir a resistência do material”, complementa Virgiliis.
Estima-se que até abril seja publicada a norma que regulamenta licitações para o novo sistema, a qual também irá definir preços de tabela. Com isso, os próximos passos seriam a implantação de algumas ruas-piloto e de estacionamentos de escolas e outros locais, para auxiliar na absorção da água da chuva. “Por ser quase que artesanal ainda, o produto ainda é muito caro; mas com uma certa divulgação, a tendência é diminuir o preço e viabilizar a implantação em larga escala”, conta. Os custos do novo material são cerca de 35% mais caros que os pavimentos comuns, mas a tendência é que a implantação em larga escala diminua esse preço e o torne mais próximo do “normal”. No entanto, os pesquisadores não esperam que os custos se igualem, apenas que fiquem mais próximos, viabilizando a implantação.
Com o novo produto, espera-se que a destruição causada pelas chuvas diminua em São Paulo – e em outros centros urbanos que o utilizem –, não excluindo outras iniciativas complementares. A professora Liedi lembra que o projeto não pode ser tomado como panaceia, mas sim como um grande auxiliar. Seja como for, pelos resultados que vêm sendo obtidos, o pavimento permeável – seja de concreto ou asfalto – poderá sim ajudar a diminuir acidentes (graves ou não) nas vias urbanas em dias de chuva, já que evita enchentes e também a ocorrência de aquaplanagens.


Foto mostra os poros de bloco de concreto permeável: a água das chuvas penetra pelos vãos e seguem pelo sistema de drenagem, abaixo do pavimento. (Crédito: Afonso Virgiliis)


Blocos de concreto permeável são implantados no estacionamento do CTH-USP para testes. (Crédito: Afonso Virgiliis)

Conheça a situação climática de São Paulo e sua influência no trânsito
O problema das chuvas é crônico em São Paulo, como em qualquer centro urbano, devido ao solo impermeável. No caso da capital paulista, há um volume muito grande de chuvas. Só no mês de janeiro deste ano, foram 480,5 mm, a maior quantidade desde 1947 no primeiro mês do ano. Só para se ter uma ideia, 100 mm de chuva em um mês já são capazes de deixar rastros de destruição nas cidades.
Além de enchentes, de riscos de aquaplanagens e acidentes, as chuvas causam também lentidão. Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET-SP), alguns recordes históricos de congestionamentos foram em dias chuvosos. Sem contar o dia 4 de março (recorde de congestionamento em 2011 devido à saída para o feriado de Carnaval), o maior índice de lentidão no período da tarde (178 km) e no período da manhã (128 km) foram, respectivamente, nos dias 11 de fevereiro (às 19h) e 24 de fevereiro, e em ambos os dias chovia. O recorde histórico de congestionamento na cidade, no dia 10 de junho de 2009, foi de 293 km, e também foi num dia chuvoso.
A CET-SP informa que não dá para afirmar que a chuva provocou os pontos de lentidão, mas certamente é uma das variáveis, junto com acidentes, veículos quebrados e outros.
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