NOTÍCIAS

O tráfego da ética no trânsito

por José Roberto Jerônimo*

Publicado em

Aristóteles (aprox. 384 – 322 a.C.) afirmava, como princípio de ética, que toda a ação humana deve objetivar o bem.  Que todo conhecimento e trabalho devem ser para melhorar a vida e alcançar o bem-estar. Que a busca do bem é o que difere o homem dos outros animais.

É isso: fazer ao outro o bem que se quer seja feito a si mesmo.  Assim como, não fazer o mal que não se quer para si.

Transportando este princípio para o trânsito, pode-se iniciar falando daquela falta de ética que começa bem no alto.  Lá onde autoridades políticas e poderosos da economia deixam de decidir em favor do transporte coletivo e das alternativas ecológicas de mobilidade e continuam a fomentar a indústria automobilística.  Alheios aos crescentes congestionamentos, há décadas, insuportáveis.
Lá onde administradores públicos desvirtuam o uso do dinheiro que deveria ser utilizado para a educação de trânsito.  Dinheiro obtido pelos impostos, taxas e multas oriundos do licenciamento da frota e da fiscalização. Lá onde legisladores mantém leis fracas, incompetentes de ordenar o comportamento dos condutores em seus veículos, como dos cidadãos na sociedade.  Descompromissados com a preservação de vidas nas vias públicas.

Há, pelo menos, seis décadas que as decisões relacionadas à mobilidade têm sido, na sua maior parte, equivocadas.  Pois, não consideraram a qualidade do transporte nem mesmo no curto prazo.  Não há desculpa para os que fizeram isto, nesse período.  Se não tinham a capacidade de projetar o trânsito com base nos dados locais da época, tinham a referência de várias localidades do mundo, para fazer o certo.

Assim, por que seria diferente o modo de agir do condutor no trânsito?  Ou seja, como ele poderia ser naturalmente ético, se é fruto desta cultura desacertada e se com ela convive?

Se os prejuízos decorrentes destas faltas fossem apenas materiais, já seria ruim, pois consumiriam recursos que faltariam para outras realizações.  Mas, pior que isto, é que, destas faltas, decorrem lamentavelmente mais de 50 mil mortes por ano, no Brasil.  Segundo a Seguradora Líder – DPVAT, em 2013, foram 54.767 indenizações por morte, além de 444.206 por invalidez permanente e 134.872 por despesas de assistência médica.  E o valor das indenizações ultrapassou R$3,2 bilhões.

Ao encontro da ética cada lei procura ter conformidade.  Embora, dependendo dos pontos de vistas, nem sempre consiga isto.  Porque ela, ao visar o benefício da ordem e da paz para a maioria, poderá ser contrária a um ou outro indivíduo.

Bom mesmo é se o indivíduo pensasse coletivamente e agisse como se a lei nem fosse necessária.  Aí predominaria o reino original da ética.

Enquanto isso, alguns questionamentos poderiam suscitar reflexões e, quem sabe, alcançar a consciência para melhorar a realidade um pouco a cada dia:
Tem ética o pedestre, o condutor ou o passageiro que joga um papel de bala, uma bituca, uma lata de refrigerante, um objeto qualquer em local público, fora de uma lixeira?Tem ética o motorista que ultrapassa pelo acostamento, quando os demais se mantém  numa fila que respeita a ordem de chegada?Tem ética o condutor que preserva a velocidade regulamentada apenas onde há fiscalização?Que ética existe no proprietário de um imóvel que faz a calçada intrafegável para pedestre, desde que em seu terreno se aproveite todo espaço aquém do muro?Que ética há nos condutores que colocam o braço para fora do veículo sem que seja para sinalizar; que estacionam ocupando vagas que não são para eles; que põem o volume de seus rádios nas alturas; que se distraem com telefone celular ou alguma recreação dentro do carro?A lista de erros é longa e representa a realidade diária em nosso trânsito.

Ocorre que a ética, para ser praticada, dependerá sempre da educação da sociedade.  Quando esta falta, a ética capenga. Somado a isso, à medida que a densidade demográfica aumenta, a fiscalização e a lei passam a ter mais importância do que antes.  Pois, as possibilidades de conflitos ampliam-se, demandando mais rigor para obtenção da ordem.

Diante disso, a ética tem trafegado muito menos do que deveria, também no trânsito.

J. R. Jerônimo*
Autor do livro ‘Como Se Tornar Um Asno Volante Em 19 Lições Erradas’, que diverte e dá dicas para uma boa direção de veículo e bom comportamento no trânsito.
www.jrjeronimo.com.br

COMPARTILHAR

Veja

também

Maio Amarelo 2025 destaca a responsabilidade humana na mobilidade

Cuidados essenciais ao dirigir no outono sob condições de neblina

Relatório de Transparência Salarial

Relatório de Transparência Salarial

Perkons apresentou inovações para um trânsito mais seguro na Smart City Expo Curitiba 2025

Presença feminina nas vias promove segurança no trânsito

Aplicativos inteligentes ajudam empresas a monitorar motoristas e promover segurança no trânsito

Faróis acesos ou apagados? O que os condutores precisam saber

Código de Trânsito Brasileiro celebra 27 anos de inovações e contribuições à segurança viária

Contratação de transporte escolar requer cuidados

Nascemos do ideal por um transitar seguro e há três décadas nossos valores e pioneirismo nos permitem atuar no mercado de ITS atendendo demandas relativas à segurança viária, fiscalização eletrônica de trânsito, mobilidade urbana e gerenciamento de tráfego.