Tem acontecimentos tão desarrazoados que chegamos a pensar: – É impossível!
Porém, como aconteceu, e vez ou outra acontece mesmo: – É possível, sim!
Mas, e daí? Vamos aceitar o mal só porque é possível? Ou vamos promover a mudança de nossos pensamentos e, principalmente, de nossas atitudes para evitar e combater o trágico e preservar e favorecer o que é positivo a nossa vida, saúde, alegria, patrimônio, etc.?
Enquanto acharmos normal a eventualidade de determinados reveses em nossas vidas, eles continuarão a existir, normalmente.
O gigantesco engavetamento ocasionado – sim, ocasionado, e não `ocorrido`, como tantos insistem em afirmar – no dia 15-set-2011, a partir das 12:45h, na rodovia Imigrantes, que liga Santos a São Paulo, no sentido capital, altura do km 41 e estendido por aproximadamente 2 km, teve o envolvimento de aproximadamente 300 veículos, com danos em 89, segundo notícias do jornal O Estado de São Paulo, 16-set, pág. C-1 e do portal R7, resultando em 29 feridos, com muito transtorno, prejuízos e atrasos para milhares de pessoas e a lamentável perda de uma vida. O que se ouviu é que havia muita neblina e a visibilidade era extremamente reduzida, chegando a 10 metros em alguns trechos, e que, de repente, começaram as colisões. Que alguns veículos estavam correndo muito e não conseguiram parar diante dos outros que já haviam batidos ou que estavam parados.
Agora, veja: como pode um motorista querer parar em segurança, num espaço de 10 metros, se viaja a uma velocidade tal que para conseguir parar precisa de mais de 20 metros? Aí, este condutor, via de regra, explica-se dizendo: “…eu pisei no freio, mas o carro não parou…”
Se a visibilidade é de 10 metros, a velocidade tem que ser reduzida o suficiente para que, em menos de 10 metros, se consiga parar com segurança. Para tanto, deve-se manter uma distância de seguimento (aquela entre um veículo e o que vai à sua frente), sempre superior à distância de parada, que resulta da somatória entre a distância de reação (que se dá entre a percepção da necessidade de frear e o acionamento do freio) e a distância de frenagem (que ocorre a partir do acionamento do freio até a imobilização do veículo), a fim de que se evite toda e qualquer colisão.
Diante disto, é triste constatar que se ignoram cuidados de segurança extremamente básicos na direção, como por exemplo: não ocupar espaço que não se vê.
O que você acha de lançar um automóvel, que pesa aproximadamente 1.000 kg, para o abismo? É… É assim que se deve considerar o espaço que não se vê… um abismo. Pois pode ter tudo onde nada se vê, até o próprio nada, o abismo. A 54 km/h, por exemplo, e em condições normais – da estrada, do clima, do veículo e do motorista -, são precisos 40m para a imobilização. Já o impacto a esta velocidade seria o mesmo que uma queda do 3º. andar de um prédio. (gráfico e animação, site www.educacional.com.br.) Logo, não se deve dirigir para a parte da via sem visibilidade, como se estivesse tudo na mais perfeita ordem.
Sugestão:
Ao encontrar-se na condição de não ver o espaço para onde deseja ir, com seu veículo, sugiro acionar o pisca-alerta – uma vez que trata-se de uma emergência, como prevê o artigo 251 do CTB, Código de Trânsito Brasileiro – e, com todo o cuidado, ou seja, se esforçando para ver e ouvir aquilo que for possível, vá para o acostamento, acionando também a buzina de modo intermitente, para ser percebido no caso da aproximação de algum outro veículo nesta via e em sua faixa.
Quem achar que, numa situação destas, o melhor é ficar parado na faixa em que se encontra, convido a examinar o seguinte: Em que situação é maior a probabilidade de sermos colididos, ficando parados no meio da pista ou ficando no acostamento? Ficando na pista, é claro! Além do que, quanto mais para a esquerda for a faixa, maior a tendência dos outros veículos estarem em velocidades mais altas e tornar a colisão ainda mais grave. Outro aspecto que deve ser considerado também é que, se deixarmos nosso veículo lá no meio da pista e sairmos dele, estaremos pensando só em nossa segurança e não na dos demais usuários da via, fora o grande risco de atropelamento ao se caminhar pela pista. Então, nestas condições, é ou não é melhor tentar conduzir, com toda a segurança possível, nosso veículo para o acostamento? É claro, que se tivermos a possibilidade de conduzirmos a um local mais seguro, como um posto de combustível, um posto da polícia rodoviária ou uma área qualquer mais afastada da pista, seria o melhor para todos. Tenhamos consciência de que este procedimento também tem risco, porém muito maior é o risco de se ficar parado na pista.
Já passei por situações semelhantes e, em razão do grande medo que geram, devido à iminência de colisão a qualquer momento, são muito estressantes. Numa delas, por exemplo, quando estava na Rodovia dos Tamoios, há alguns anos, retornando de Caraguatatuba, SP, literalmente uma nuvem caiu. Foi uma tempestade como nunca tinha presenciado, onde nada se via além de vultos a no máximo dois metros, e as luzes dos outros veículos a uns cinco metros. Na ocasião, além do imenso receio de colisões, ainda havia a serra do lado direito ameaçando quedar-se numa avalanche. O que fiz, foi exatamente o que sugeri acima e, graças a Deus, deu certo. Então ficamos ali até a tempestade transformar-se em chuva torrencial e depois ir-se acalmando. Quando a visibilidade foi aumentando, deu para notar a enormidade de veículos que fizeram a mesma coisa, ou seja, também pararam no acostamento à espera do clima melhorar.
É certo que, deste grande número de veículos envolvidos no referido engavetamento, parte dos motoristas foram prudentes, e conseguiram parar sem colidir, mas outros tantos não foram igualmente cuidadosos.
O professor Julyver Modesto de Araújo, diretor do CEAT – Centro de Estudos Avançados e Treinamento / Trânsito, São Paulo, em seu artigo publicado na revista Trânsito em Foco, dez-2009, “O acidente de trânsito é necessário ou contingente?”, discorre muito bem sobre a diferença entre acidente e contingência, para esclarecer que o que se dá no trânsito é uma contingência de causas e fatores, na sua maioria, passíveis de serem modificados a ponto de não gerarem o evento negativo e contraproducente no trânsito. Ficando o acidente ligado aos eventos mais relacionados à natureza. Seu artigo, por sugerir o neologismo “contingência de trânsito”, no lugar do corriqueiro e equivocado “acidente de trânsito”, dá uma grande contribuição no sentido de modificar a mentalidade e fomentar a conscientização para a direção com muito mais responsabilidade. E, se inserido na legislação, o novo conceito que este neologismo traz, também facilitará a justiça nas questões que envolvem os eventos de trânsito.
No que tange aos acontecimentos naturais, vou um pouco mais além. Pois, desde a construção de grandes centros urbanos e a aplicação de técnicas para produção em larga escala, nossa civilização interfere nos efeitos da natureza. Na agricultura, queimadas para ampliação de áreas cultiváveis; na pecuária, gases decorrentes dos excrementos de animais; na industrialização, rejeitos de toda espécie e gravidade; na urbanização desordenada, esgoto, lixo e poluição, tudo ainda distante de ser devidamente controlado. Por conseguinte, se influenciamos parte dos eventos naturais, muito mais podemos influenciar nos eventos artificiais, humanos.
É preciso, portanto, que cada condutor torne-se mais consciente de que, sejam quais forem as circunstâncias da via e do clima, seu modo de dirigir é que determina sua segurança no trânsito.
Um veículo não deve ser dirigido para onde nada se vê. A distância de seguimento, que neste caso fica comprometida por não se ver o veículo que vai à frente, deve ser corrigida pela proporcional redução da velocidade, a fim de permitir, na hipótese da aparição de um obstáculo parado, uma freada segura, sem colisão.
Se não conscientizarmo-nos com relação a parte que nos cabe fazer, estaremos neste caso agindo como criancinhas num estande de bate-bate do parque de diversões.
Mesmo tendo precaução ainda existe a possibilidade dos descuidos dos outros, os quais podem nos afetar, mas aí é que temos que redobrar nossos cuidados, na tentativa permanente de compensar as inconsequências alheias. Como? Aumentando a distância, porque distância no trânsito é proximidade da vida. Imprimindo uma velocidade segura, abaixo do limite da via e conforme a condição do momento. Sinalizando sempre a cada manobra, mesmo que ninguém esteja vendo. Mantendo o braço para dentro do veículo, exceto se for sinalizar com ele. Não usar celular ou aparelhos que possam distraí-lo na direção. Manter o veículo em bom estado. Cuidar do bem estar físico e mental. Ver sempre com antecedência e posicionar-se para ser visto. Dirigir com calma, atenção, responsabilidade e – por que não dizer? – com alegria.
Porque aviões não caem, são derrubados e acidentes, diferentemente do que está nos dicionários, não acontecem, são causados.
A consciência para uma direção segura e a correspondente prática desta consciência é o que te protege, te salva e te permite dirigir por muito mais tempo e com mais qualidade, nas estradas da sua vida.
*J.R.Jerônimo
Autor do livro `Como Se Tornar Um Asno Volante Em 19 Lições Erradas`, que diverte e dá dicas para uma boa direção de veículo e bom comportamento no trânsito.
www.jrjeronimo.com.br
Nascemos do ideal por um transitar seguro e há três décadas nossos valores e pioneirismo nos permitem atuar no mercado de ITS atendendo demandas relativas à segurança viária, fiscalização eletrônica de trânsito, mobilidade urbana e gerenciamento de tráfego.