NOTÍCIAS

Calçadas e democracia

por Ildo Mário Szinvelski*

Publicado em

O incremento do número de veículos transformou a geografia das cidades, que cresceram de forma acelerada e sem planejamento. Foi dada prioridade ao deslocamento individual, em detrimento do coletivo, impactando negativamente na qualidade da vida urbana. Basta lembrar o quanto os trajetos quotidianos consomem de nossa jornada diária.
Os condutores, individualistas e competitivos, buscam aquilo que a mídia lhes apresenta como “felicidade”: querem chegar mais rápido, de preferência “primeiro”; sentem-se donos do espaço que na verdade é de todos e geram assim um trânsito caótico, nervoso, congestionado, ceifador de vidas e produtor de seqüelados.
Caminhar é a forma mais antiga e básica de transporte humano. É acessível a todos, saudável, ambientalmente correto e gratuito. Todavia, muitas cidades são desprovidas de passeios públicos e áreas de uso planejado para os pedestres. As administrações não lhes dedicam o mesmo empenho demonstrado na ampliação das vias para os veículos, nos estacionamentos ou até na cedência dos espaços de calçadas ao comércio informal.
A valorização das calçadas como lugar próprio para circulação dos pedestres na urbanização é fundamental para resgatar um ambiente de civilidade e respeito aos mais vulneráveis e do cumprimento às normas de trânsito, sendo reflexo de uma convivência democrática. Como referiu certa vez Enrique Peñalos, ex-prefeito que reinventou Bogotá, “Fazemos cidades para carros, carros, carros e carros, não para pessoas. Os carros foram inventados muito recentemente, e o século XX fez um desvio horrível na evolução qualitativa do habitat humano. Construímos, hoje, pensando mais na mobilidade de carros do que na felicidade das crianças. Nos países em desenvolvimento, a maioria das pessoas não tem carros. Então digo: quando você faz uma boa calçada, está construindo democracia. Calçadas são símbolos de igualdade“.
Uma cidade civilizada não é aquela com grandes pistas para os veículos, mas sim a que possui calçadas para o deslocamento das pessoas, ciclovias para os trabalhadores, praças para as crianças brincarem e os idosos descansarem. Ela deve refletir o modo como queremos viver.
A paz no trânsito requer uma política de mobilidade que não privilegie o veículo, mas sim reorganize o espaço público de forma sustentável, favorecendo meios de transporte coletivo de qualidade e vias que oportunizem o menor consumo de recursos naturais com menor impacto ambiental, voltada ao deslocamento a pé e de bicicleta. O poder público tem suas responsabilidades, assim como a sociedade e o usuário das vias, seja ele pedestre, ciclista ou condutor de veículo. Este deve adotar atitudes responsáveis e cidadãs, gerando uma nova cultura que reduzirá os índices de acidentalidade. Ninguém faz nada sozinho, e a vida deve estar sempre em primeiro lugar. Uma vida que resgate valores como solidariedade e respeito ao outro e ao espaço público – começando por calçadas amplas, limpas, inclusivas.

 

*Ildo Mário Szinvelski
Diretor Técnico do Detran/RS

COMPARTILHAR

Veja

também

Uma das principais preocupações municipais é a gestão do trânsito

Como as cidades inteligentes apostam na tecnologia para uma gestão urbana mais eficiente

Lombada eletrônica completa 32 anos ajudando a salvar vidas 

Perkons celebra 33 anos de inovação e segurança no trânsito

Perkons Connect entra para o calendário nacional e passará por todas as regiões do país

Inovação e Gestão Urbana: temas centrais do Perkons Connect

Segurança no trânsito em foco no Perkons Connect

Primeira edição do Perkons Connect será em São José do Rio Preto

Relatório de Transparência Salarial

Visão Zero é capaz de transformar a mobilidade urbana no Brasil

Nascemos do ideal por um transitar seguro e há três décadas nossos valores e pioneirismo nos permitem atuar no mercado de ITS atendendo demandas relativas à segurança viária, fiscalização eletrônica de trânsito, mobilidade urbana e gerenciamento de tráfego.