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As minicidades dentro dos centros urbanos

Especialistas apontam que não há uma única grande estratégia para evitar o caos no trânsito, mas uma série delas. Dentre as alternativas, o uso misto do solo para estimular deslocamento não motorizado

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“O carro precisa voltar a ser veículo de passeio”. A afirmação da diretora do Instituto de Transporte e Desenvolvimento no Brasil (ITDP), Helena de Almeida, revela que estamos em uma situação limite de poluição e congestionamento. Para reverter isso, somente fazendo o “uso misto do solo”. Na primeira impressão, a expressão remete um significado mais técnico, que pouco tem a ver com o trânsito. Mas, na prática, a expressão e a mobilidade têm um laço muito estreito.
Para, Helena, “todas as iniciativas voltadas para evitar deslocamentos através do transporte motorizado individual contribuem significativamente para a melhoria da qualidade ambiental. Essa é uma tendência irreversível, que se traduz em mais tempo livre para outras atividades como lazer. Ou seja, a ação não deve ser encarada como um sacrifício, mas como uma atitude positiva que gera uma melhor qualidade de vida”, argumenta.
Pensar os centros urbanos através da oferta de serviços no próprio bairro significa, segundo Helena, integrar planejamento urbano e planejamento de transportes. “Esta é, sem dúvida, uma evolução que cria as condições necessárias à promoção do desenvolvimento sustentável nas cidades. Na escala do bairro, há que programar a melhoria da infraestrutura para o transporte não motorizado  – implantação de  ciclovias, conservação das calçadas, redução de velocidade em certas porções do território (zona 30), tornar as ruas mais seguras e adequadas para ciclistas e pedestres”, exemplifica.
Esse caminho já vem sendo trilhado por várias cidades que apostaram no planejamento há algum tempo. Curitiba, por exemplo, adotou o modelo há quase duas décadas, regionalizando os serviços da Prefeitura em bairros. Ricardo Bindo, supervisor de planejamento do IPPUC (Instituto de Planejamento Público de Curitiba) lembra dos primórdios do projeto: “Com a intenção de facilitar o atendimento à população, foram criadas as primeiras seis regionais. Nelas, eram oferecidos os serviços mais procurados pela população para que não fosse necessário o deslocamento até o centro, contribuindo com o tráfego”, explica.


Rua da Cidadania de Curitiba: projeto iniciado em 1985 garantiu fôlego na
estruturação dos bairros, evitando o deslocamento de cidadãos ao centro

Os projetos batizados de Ruas da Cidadania cresceram e, hoje, são nove sub-administrações localizadas nos terminais de ônibus da cidade, para facilitar a interação e acesso da população. “Não há nenhuma pesquisa, mas, certamente, essa oferta de serviços públicos estimula a economia nas regiões, o que pode gerar atendimento de outros serviços básicos da comunidade concentrados no próprio bairro. Isso, sem dúvida auxilia no trânsito”, avalia.
Ainda sobre os trajetos feitos em automóveis, a diretora do ITDP defende formas de desestímulo: “Todo trajeto de automóvel começa e termina em uma vaga, o que torna a legislação referente ao estacionamento uma forma de administrar o congestionamento e melhorar a qualidade do ar. O que era vaga pode virar ciclovia, faixa exclusiva para ônibus, melhoria na paisagem das ruas ou, se paga, até ajudar a levantar fundos para essas iniciativas”, sugere.
Segundo Helena Orenstein, o custo social dos congestionamentos de trânsito é muito grande. “Do ponto de vista ambiental, os inventários de emissão de gases de efeito estufa apontam o automóvel como uma das maiores fontes de emissão. Nas grandes cidades, cerca de  75% da emissão de gases de efeito estufa vem do setor de transportes. Isto requer iniciativas imediatas para redução do uso do automóvel, sendo fundamental a implementação de projetos de transporte que sejam pensados dentro do contexto do planejamento do uso do solo urbano”, reforça.

Mais um forte motivo para descentralizar
Se os argumentos de mais tempo para lazer e outras atividades, ou redução da poluição ainda não o convenceram, talvez as estatísticas divulgadas recentemente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) deem conta do trabalho: a pesquisa aponta que quase metade dos motoristas brasileiros (cerca de 43,5%) enfrentam congestionamentos todos os dias.
Para o professor José Mario de Andrade, especialista em trânsito e diretor de negócios internacionais da Perkons, o processo de congestionamento é natural, quando observamos o crescimento vertiginoso da frota brasileira. “Em dezembro de 2010, o Brasil já contabilizava 2,9 habitantes por veículo, segundo o Denatran. Estamos falando de um crescimento de 119% em apenas dez anos; mais de 64 milhões de veículos nas ruas brasileiras. Na contramão disso, a oferta de transporte coletivo, a grande sacada para conter um colapso no trânsito, é avaliada pelo usuário como insegura e insuficiente. Além disso, o gasto do brasileiro com transporte público cresceu e, atualmente, é praticamente igual à despesa com alimentação. Ou seja, é pouco atrativo”, prevê.
& nbsp;  Vistas como organismos vivos, as cidades têm o trânsito como via arterial. E, nessa metáfora, o ‘corpo do Brasil’ precisa de tratamento. “A capacidade viária não se multiplica e a cada dia cresce o número de automóveis que entram em circulação. É fundamental trabalhar a integração das modalidades – ônibus, metrô, barcas e trem, pois, mesmo com a regionalização, haverá sempre necessidades que precisarão ser satisfeitas em locais mais distantes do que o da moradia.  É através da melhoria do transporte público que conseguiremos com que as pessoas deixem o carro em casa nos seus deslocamentos diários. Assim, o automóvel voltará a sua origem, isto é, a ser um veículo de passeio”, conclui Helena Orenstein.

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